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Política & Poder

Itamaraty comparou caso Marielle com facada e defendeu Bolsonaro

As mais de 700 páginas de cartas revelam a cobrança internacional sobre as investigações a embaixadores brasileiros

FolhaPress

17/02/2023 20h01

Foto: Reprodução

Vinicius Nunes

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retirou nesta sexta-feira (17) o sigilo de cem anos colocado em telegramas do Itamaraty sobre o caso dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, ocorridos em março de 2018. Nas mensagens, um embaixador compara o crime com o atentado sofrido por Bolsonaro, também em 2018.

As mais de 700 páginas de cartas revelam a cobrança internacional sobre as investigações a embaixadores brasileiros. Os telegramas foram enviados entre 2019 e 2022 e se tornaram públicos via Lei de Acesso à Informação após um pedido da CNN Brasil.

Em uma das cartas, datada de janeiro de 2020, o embaixador do Brasil na França Luiz Fernando Serra mostra “profunda indignação” quanto aos questionamentos sobre o andamento das investigações.

Em resposta ao Partido Socialista da França, Serra diz há “tratamento díspar” comparando o assassinato da vereadora ao atentado a faca contra o então candidato Jair Bolsonaro (PSL) em setembro de 2018. Também faz alusão ao assassinato de Celso Daniel, em 2002.

“A diferença do caso Marielle Franco e o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, ocorrido em 18 de janeiro de 2002, nunca foi esclarecido. Aduzi que jamais tinha sido identificado o autor intelectual da tentativa de assassinato contra o então candidato Jair Bolsonaro. E deixei registrado que estes dois crimes, tão graves quanto aqueles com os quais as parlamentares muito se preocupam, não tinham delas recebido qualquer manifestação”, afirmou Serra.

Em outro telegrama, o embaixador brasileiro na Itália Hélio Vitor Ramos Filho “repudia” reportagem do jornal La Reppublica, de fevereiro de 2020, em que o veículo reconta o caso do duplo homicídio. Hélio Ramos chama de “ilações difamatórias e infundadas” a citação do nome de Bolsonaro no texto.

“A matéria […] tem por objetivo exclusivo levantar suspeitas sobre a honra do Presidente da República Jair Bolsonaro, eleito democraticamente pelo povo brasileiro”, escreveu Ramos.
Outras cartas com pedidos de informações têm origem de países como Bélgica, Chile, Uruguai, entre outros.

Há também a defesa dos “compromissos democráticos” de Bolsonaro. O embaixador na Suíça Evandro Didonet diz, em carta de maio de 2020, que o então presidente tinha na época total “compromisso com a Constituição” e nega que Bolsonaro “estaria disposto a usar a força para manter-se no cargo”.

Caso Marielle

Prestes a completar cinco anos, o caso Marielle Franco e Anderson Gomes segue sem solução. Os ex-PMs do Rio de Janeiro Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz estão presos desde 2019 acusados de atirar contra a vereadora e o motorista. Ontem (16), o ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino criou uma força-tarefa para ajudar nas investigações.

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