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Política & Poder

Indígenas esperam virar a página do governo Bolsonaro

No domingo (02), quando ocorre o primeiro turno das eleições, 171 candidatos indígenas competirão por cargos estaduais e federais

Redação Jornal de Brasília

29/09/2022 15h58

Foto: Reprodução/Agência Brasil

Quatro anos depois de Jair Bolsonaro assumir o poder com a promessa de não autorizar “um centímetro a mais” de reservas indígenas protegidas no Brasil, os povos originários o acusam de aplicar políticas prejudiciais para suas comunidades e o meio ambiente.

No domingo, quando o presidente tentará a reeleição frente ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), líder nas pesquisas, 171 candidatos indígenas competirão por cargos estaduais e federais, um número recorde.

A AFP falou com candidatos e líderes indígenas sobre o que está em jogo nestas eleições, com as quais esperam virar a página do que descrevem como quatro anos catastróficos.

Parar o “genocídio”

Para a candidata à deputada federal Sônia Guajajara (PSOL-SP), o governo de Bolsonaro perpetrou um “genocídio institucionalizado”.

A líder, nomeado em maio pela revista Time como uma das 100 personalidades mais influentes do mundo, cita o apoio do presidente à legalização das atividades agrícolas nas reservas indígenas e aos garimpeiros, acusados de invadir terras indígenas, estuprar e matar seus habitantes, além de envenenar a água com mercúrio.

“Os quatro anos do governo Bolsonaro significaram para nós, povos indígenas, uma verdadeira tragédia e um genocídio institucionalizado”, disse Guajajara, de 48 anos, que quer se tornar a primeira mulher indígena a representar o estado de São Paulo no Congresso Nacional.

Com um cocar colorido, esta nativa da floresta amazônica (nascida na Terra Indígena Arariboia, no Maranhão), que saiu de casa muito jovem para cursar a universidade, conduziu um comício acompanhado por uma multidão que gritava: “Fora, Bolsonaro!”.

Guajajara, líder da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), disse que pedirá a Lula, que prometeu criar um Ministério de assuntos indígenas, para avançar na demarcação de terras indígenas, se for eleito.

“Queremos reconstruir toda essa política indigenista que foi desmontada no governo Bolsonaro”, disse.

“Tristeza pela floresta tropical”

Protagonista do documentário “O Território”, que estreia este mês na National Geographic, o líder indígena Bitate Uru-Eu-Wau-Wau, de 22 anos, luta em duas frentes.

Em sua comunidade, o jovem organiza patrulhas para evitar que os madeireiros ilegais e os invasores se apropriem de terras da reserva amazônica habitada por seu povo, uma tribo de cerca de 200 caçadores-coletores.

Em suas interações com o exterior, Bitate se conscientizou do saque à terra dos Uru-Eu-Wau-Wau e do “governo anti-indígena” de Bolsonaro.

“A gente recebe muitas ameaças… Já ameaçaram a gente, falaram que iam pegar a gente em tal lugar e matar as crianças da nossa aldeia. A gente teme por qualquer coisa que possa acontecer”, afirma.

As invasões em suas terras “aumentaram muito”, garante, e as autoridades demoram para responder, especialmente a Funai, enfraquecida por Bolsonaro, segundo seus críticos.

“Várias pessoas que ali estavam trabalhando (na Funai) foram exoneradas ou impedidas de fazer seu trabalho dentro dos nossos territórios (…) Está toda desestruturada”, afirma.

“A gente está passando por uma tristeza muito grande dentro das nossas casas por conta da nossa floresta (…), que está sendo queimada”, lamenta.

“Não vou falar que ele (Lula) é muito bom. Mas ele seria melhor que Bolsonaro”, afirma.

“Uma voz no Parlamento”

Sorrindo para seus apoiadores, Vanda Witoto (Rede Sustentabilidade-AM) anda pelas ruas de Manaus com uma missão: ser eleita primeira representante indígena na Câmara federal pelo Amazonas, que tem a maior população indígena do Brasil – 183.514 do total de 900 mil indígenas que vivem no país.

A candidata a deputada federal de 35 anos disse que decidiu se candidatar depois de ver a resposta caótica do governo de Bolsonaro à pandemia, que afetou duramente as comunidades indígenas.

Esta enfermeira lutou para cuidar dos pacientes de covid-19 em meio ao colapso dos serviços de saúde pública na capital amazonense, com mortes por asfixia devido à falta de oxigênio, no auge da pandemia.

A experiência a convenceu da importância dos povos indígenas terem “uma voz no Parlamento”. “Para a defesa dos nossos territórios, da vida desses povos, dos direitos destes povos”, explica.

“É tão importante, não só para os povos indígenas, mas para a Amazônia (…) Queremos estar no Congresso”.

© Agence France-Presse

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