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Política & Poder

Haddad poupa Alckmin e só mira gestão de Doria e Rodrigo

A campanha de Haddad ao Governo de SP tem missão difícil: criticar o legado do rival PSDB e ao mesmo tirar dividendos políticos da aliança

FolhaPress

01/08/2022 10h21

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Artur Rodrigues e Carolina Linhares
São Paulo, SP

A campanha de Fernando Haddad (PT) ao Governo de São Paulo tem missão difícil: criticar o legado do rival PSDB e ao mesmo tirar dividendos políticos da aliança com o tucano que governou o estado por mais tempo, Geraldo Alckmin, hoje no PSB e vice na chapa presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A estratégia tem sido a de poupar Alckmin de ataques, evitando embaraços, e centrar a artilharia na gestão dos tucanos João Doria e Rodrigo Garcia, que são inimigos também do ex-governador.

De acordo com a última pesquisa Datafolha, Haddad lidera com 34%, seguido de Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato de Jair Bolsonaro (PL), e Rodrigo, ambos com 13%. O governador é visto como adversário pelo PT.

Ao mirar em Doria e Rodrigo, Haddad cumpre o papel de se diferenciar das gestões tucanas, mas sem desgastar o novo aliado.
Alckmin é descrito por Haddad como alguém com quem teve divergências e bom relacionamento na época em que era prefeito e o então tucano, governador.

O ex-prefeito faz questão de dizer nos discursos, inclusive, que esteve presente em todas as conversas que aproximaram Alckmin do PT e terminaram por construir um palanque que vai de Márcio França (PSB) a Guilherme Boulos (PSOL).

Na campanha de Haddad, a avaliação é a de que o ex-prefeito critica a gestão tucana, mas a partir da leitura de que o eleitorado se ressente da gestão Doria.

Haddad volta-se também contra Bolsonaro, nacionalizando a eleição e exaltando a união com Alckmin, nas palavras dele, pelo propósito maior de derrotar o fascismo.

Ao evocar o “BolsoDoria”, o petista une seus rivais prioritários. “O BolsoDoria não funcionou”, pontuou durante discurso em Casa Branca (SP), no último dia 19. Ele costuma apontar que hoje o antipetismo é menor do que a rejeição a Bolsonaro e Doria no estado.

Críticas aos governos passados do PSDB, inclusive com menção a Alckmin, apareceram no texto da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, redigido em fevereiro com o objetivo de subsidiar o plano de governo de Haddad.

O diagnóstico afirma que a adoção das políticas neoliberais ampliou as desigualdades, além de sucatear os serviços públicos. Alckmin é citado quando os temas são renúncia fiscal e privatização.

Esse tom, porém, não aparece nas falas de Haddad. Mesmo em seminários da campanha sobre temas nos quais o PT paulista demonstra maior oposição ao PSDB, como educação e segurança, a gestão de 30 anos dos tucanos no estado passou batida e os ataques foram para Doria.

O petista afirma que a escola de tempo integral, marca de Doria/Rodrigo, tem que “ser estruturada e séria”.

Referindo-se a Doria, Haddad disse que o governo “prejudicou os professores”.

“Doria teve uma atuação muito questionável na economia, sobretudo no aumento de impostos durante a pandemia. A fuga de empresas e de empregos para estados vizinhos tem sido crescente porque ele aumentou os impostos enquanto os vizinhos reduziram”, escreveu em suas redes.

O roteiro é seguido por Alckmin. Na convenção do PT paulista, no último dia 23, o ex-tucano mirou em Doria/Rodrigo e Bolsonaro.

Ele afirmou que, junto com Haddad, estabeleceu a gratuidade de 60 anos no transporte público. “Olha que barbaridade: o governo do Doria e do Rodrigo baixou o ICMS do avião a jato e cortou a gratuidade do transporte no ônibus para um idoso”, declarou.

Parte das falas de Haddad, contudo, servem de crítica, ainda que indireta, a todo o legado do PSDB. Em café da manhã com sindicalistas em Guarulhos, afirmou que o povo não conhece o Palácio dos Bandeirantes e que deveria participar do governo.

O jingle de Haddad, por sua vez, afirma que “a hora é de mudança e de coragem”. Mas a questão da renovação, acoplada à crítica do passado tucano, tem aparecido somente nos discursos de outros aliados, como Boulos.

Em evento em Diadema (SP), no último dia 9, o psolista afirmou que uma das tarefas nesta eleição é “acabar com 30 anos de governos tucanos nesse estado”. A fala causou incômodo a aliados de Alckmin, que estava no palco.

No programa Roda Viva, em junho, ao ser questionado sobre poupar Alckmin, Haddad afirmou que não tem problema em tratar dos governos anteriores do PSDB.

“Não é uma questão de não lembrar as críticas que fizemos no passado aos governos do PSDB, mas nós também temos que distinguir o que aconteceu nos governos passados do que aconteceu sob o Doria. {…} O que aconteceu no governo Doria é uma coisa bem diferente do que aconteceu nos governos tucanos. Acho que o Doria fez uma inflexão antipopular”, respondeu.

De maneira geral, porém, Haddad e Alckmin vêm trocando afagos. O petista afirma que Alckmin e Lula estiveram do mesmo lado da redemocratização e que o momento atual cobra essa união.

Em Casa Branca, Haddad criticou Doria pelo “que ele fez com Alckmin, de levar o Rodrigo Garcia, que nunca foi tucano, para ter a precedência da candidatura”. Em entrevista a uma rádio, ele reforçou a ideia de que Rodrigo não representa o PSDB histórico, que se uniu a Lula.

Para o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV, resta a Haddad se equilibrar nessa linha tênue, delimitando a diferença entre as gestões tucanas.

“Se você quer ser alternativa, tem que criticar a fragilidade de quem está no poder. Quem está na oposição só sobe se mostrar que é diferente de quem está na situação, e a situação tem quase 30 anos”, diz.

Ele pontua, porém, que o distanciamento de Doria da política acaba tirando um pouco do peso das costas do atual governador.

Quando Doria deixou o governo, em abril, sua gestão era considerada ruim ou péssima por 36% dos entrevistados, segundo o Datafolha. A pesquisa do fim de junho mostrou que Rodrigo era rejeitado por apenas 15%.

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