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Política & Poder

Greenwald: “Sérgio Moro não está acima da lei”

Jornalista fundador do Intercept fala ao Jornal de Brasília sobre as denúncias que vem publicando

Lindauro Gomes

12/07/2019 6h49

Foto: Lucas Valença Jornalista Glenn Greenwald

lucas valença
[email protected]

Durante cinco anos, o juiz Sérgio Moro, hoje ministro da Justiça; o procurador Deltan Dalagnol; e o restante da equipe do Ministério Público na Operação Lava Jato “denunciavam todo mundo”. Portavam-se como “reis da legalidade e da moralidade”. Só que ninguém sabia que as autoridades públicas por trás da Lava Jato, nas suas ações de combate à corrupção, ultrapassavam “as linhas da ética”.

Essa é a visão do jornalista Glenn Greenwald, editor e fundador do site The Intercept Brasil, que, nas últimas semanas, vem publicando uma série de mensagens a partir do aplicativo Telegram que mostram que Moro, quando era o juiz da Lava Jato, poderia ter entrado em conluio com procuradores para influenciar a condenação dos investigados, especialmente do ex-presidente Lula.

Greenwald fez suas considerações em palestra no 57º Congresso Nacional da União Nacional dos Estudantes (UNE). Ao final, ele falou ao Jornal de Brasília sobre os conteúdos que vem publicando. Ele saiu em defesa da série de reportagens. E criticou a condução ética e legal das autoridades envolvidas no escândalo que tem sido reportado por outros veículos nacionais.

Eu vou manter meu código de ética, diferente de Moro, que nunca o fez“, provocou Greenwald. Para o americano, que mora no Brasil há cerca de 15 anos, o servidor público que controlava a Força Tarefa da Lava Jato era o ex-juiz Sérgio Moro, não o procurador Deltan Dallagnol.
Entende ele que Dallagnol “estava mais para um discípulo” de Moro.

O jornalista também saiu em defesa dos princípios e funções da própria profissão. O papel do jornalismo de acompanhar e investigar as atividades das autoridades públicas e privadas, e assim, reportar “qualquer informação de relevância pública”, foi usado como argumento para justificar a série de reportagens.

“Vou abusar desse poder da liberdade de imprensa que me permite divulgar ilícitos”, afirmou.

Logo em seguida foi aplaudido pelos estudantes presentes, ao brincar com uma frase bastante utilizada durante a operação e que chegou a ser título de um filme em favor da Lava Jato. “Sérgio Moro não está acima da Lei”, declarou.

Sobre os documentos obtidos pelo veículo, o jornalista garantiu que as reportagens que já foram publicadas ainda não “consumiram” a maioria dos arquivos. Assim, muitas outras informações, segundo ele, serão publicadas.

“Nós estamos muito mais perto do começo do que do final (dos documentos)”, garantiu.

Ele negou ter financiamento do PT ou de qualquer partido. “Somos independentes. Não estamos defendendo um político, não estamos defendendo uma ideologia, não estamos defendendo um partido”, afirmou o jornalista. “Estamos defendendo os princípios fundamentais para a democracia, a imprensa livre, o fato de que pessoas com poder político precisam ter transparência, e não podemos ter um processo legal sem um juiz imparcial.

Três perguntas para Glenn Greenwald

Diante da publicação das conversas entre Ségio Moro e os procuradores, as condenações feitas pela Lava Jato devem ser revistas?

Eu só posso falar o que aconteceria nos EUA, porque eu era advogado lá. Agora, obviamente, se há evidência de que um juiz de primeira instância quebrou todos os códigos de ética, extrapolando as funções da magistratura e colaborando com os procuradores em segredo, o processo todo é considerado corrompido. Não sei o que deve acontecer aqui, mas em outros países esses julgamentos seriam revogados.

Mesmo que os documentos que comprovem isso, como se alega, tenham sido obtidos de maneira ilegal?

O problema é que o juiz da primeira instância tem muito poder – como decidir quais evidências serão permitidas ou excluídas. E todo as coisas que acontecem depois refletem no resultado das decisões desse juiz.

O senhor quer dizer que há uma cadeia, que um juiz influencia o outro?
Então: se o juiz é corrupto na primeira instância, todos que vêm depois (segunda instância e cortes superiores) também são influenciados por esses atos ilegais.

Até o momento, a maior parte das conversas divulgadas giram em torno do caso do ex-presidente Lula. Os senhores pretendem reportar outros casos?
Todos os casos, não só o caso do Lula. Nós revelamos no caso da reportagem em parceria com a revista Veja fatos que não tinham a ver com Lula. Agora, obviamente, nós publicamos muito sobre o caso do Lula. Uma coisa é certa: o comportamento do Sérgio Moro corrompeu o processo da Lava Jato totalmente.

Como o senhor avalia a repercussão do conteúdo que vem sendo publicado

Na realidade, a grande mídia, de um modo geral, está tratando o material como jornalismo de verdade. Alguns veículos já trabalham em parceria com a gente. Eu acho que podemos criar um exemplo de como o jornalismo independente pode funcionar muito bem neste país.

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