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Política & Poder

‘Falta ao País uma política externa qualificada’, diz fundador do RenovaBR

Num momento incerto da política e da economia mundial, Eduardo Mufarej adverte que o Brasil está deixando de aproveitar muitas chances

Redação Jornal de Brasília

07/09/2022 8h43

Assim que foi criado, em 2017, o RenovaBR, fundado para preparar gente interessada em entrar na política, recebeu 133 alunos, dos quais 117 saíram candidatos em 2018. No total, eles somaram 4,5 milhões de votos, emplacando 17 eleitos. Em 2020, a safra aumentou: 155 vitoriosos nas urnas em todo o País.

Para as eleições deste ano, vão concorrer 217 candidatos. “Tomou uma dimensão maior do que eu imaginava”, resume o pai da ideia, o paulistano Eduardo Mufarej, que fez carreira no mercado financeiro mas já andou pela Somos Educação e Abril. Em 2020 Mufarej fundou o Good Karma Ventures. Outro projeto em andamento é o Galena, voltado para capacitar jovens da rede pública para o primeiro emprego.

Num momento incerto da política e da economia mundial, ele adverte que o Brasil está deixando de aproveitar muitas chances – em especial nas áreas têxtil e da política ambiental. “O País pode ser um dos grandes provedores de soluções ambientais pro mundo”, avisa, nesta entrevista a Cenários. “Ele pode ter um papel importantíssimo na produção de crédito de carbono e também em reflorestamento e biodiversidade.” E o que está faltando para chegar lá? “O País está sem política externa qualificada”, adverte ele. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Você criou o RenovaBR em 2017 para preparar gente interessada em entrar para a política. Qual o balanço que faz hoje dessa ideia?

O Renova nasceu no final de 2017. Tínhamos clareza de que havia segmentos que gostariam de ter participar da política mas sem saber como viabilizar tal projeto. Nossa ideia era de criar uma instituição para ser parceira dos que pretendiam entrar na vida pública com um sarrafo ético alto, digamos assim. Hoje temos mais de 2 mil alunos formados. Na eleição deste ano temos 300 alunos candidatos em todos os Estados brasileiros – a deputado estadual e federal, ao Senado, a governos. A ideia é que esse processo se acentue.

Ao surgir, o Renova sofreu ataques da esquerda, da direita… Imaginava que ia ficar desse tamanho?

Montei o Renova em 2018 pronto para fechar as portas se ele não estivesse dando resultados. Se não houvesse interessados, se não conseguíssemos criar algum valor para os participantes do programa…

E precisavam de investimentos, não? Vocês distribuem bolsas.

Nossa visão era de que precisava apoiar ao máximo pessoas comuns – com qualificação, apoio financeiro, mas não todos. Mas naquele primeiro ano já tivemos resultados importantes. Tudo somado, foram mais de 4,5 milhões de votos recebidos e 17 candidatos eleitos. A decisão então foi acelerar o programa. O principal efeito surpresa que tivemos foi ao abrir o processo seletivo em 2019, logo depois das eleições de 2018: apareceram 45 mil inscritos. Aí a gente viu que no Brasil há muita gente boa querendo participar da política e sedenta por um processo de mentoria. Ocupamos esse espaço e ele hoje ganhou uma dimensão maior do que eu havia inicialmente imaginado. Hoje o Renova é inspiração para diversos programas de outros países.

Aqui no Brasil não tem nada parecido?

Há outras instituições dedicadas ao trabalho de formação política, como o Raps, o Livres, o Acredito, mas são movimentos diferentes. Mas como escola de formação para entrada apartidária acredito que a gente está bem consolidado.

Tiveram alguma decepção nessa caminhada?

Dentro de uma escola você tem alunos que vão pra um lado, alunos que vão para outro caminho, e não cabe a nós estabelecer qual é o certo ou o errado. Pomos muita ênfase em selecionar pessoas aderentes ao diálogo, a uma visão moderna de país, abertos a evidências para produzir melhores políticas públicas e com um sarrafo ético muito alto.

Vendo a polarização dos tempos atuais, as fake news, acha que a democracia pode estar ameaçada?

Quando vejo o volume de candidaturas, as pessoas participando do Renova, acho que a nossa democracia está muito viva. O que ocorre é que, muitas vezes, a gente acaba prestando mais atenção à disputa presidencial – mas há debates acontecendo, até mais ricos do que esse. Por exemplo, hoje você tem diferentes poderes, no Brasil, saindo de seus quadrados. Vivemos uma desarmonia, a governança não está funcionando. Há muitas alterações que o País precisa fazer para se tornar competitivo, moderno, retomar sua capacidade de investimento.

Nesse cenário, o que você espera de 2023?

Há oportunidades que o Brasil não observa com cuidado. Por exemplo, os EUA claramente querem mudar sua cadeia de suprimentos, reduzir a dependência da China. Por que o Brasil não se organiza para atuar nisso? Eu digo por quê: nosso país está sem política externa qualificada. E se desindustrializou, perdeu a visão de uma indústria de exportação. Há oportunidades na área têxtil. E também na área do clima. Poderíamos ter um papel importantíssimo na criação dos créditos de carbono. Nossa matriz energética é muito limpa, e o Brasil pode ser um dos provedores de soluções ambientais do mundo.

Estadão Conteúdo

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