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Política & Poder

Exclusivo: VTCLog rompe o silêncio

Depois de o JBr ter revelado saques em espécie feitos por motoboy da VTCLog, CEO diz que denúncias podem ser esclarecidas não teme convocação

Redação Jornal de Brasília

27/08/2021 6h25

Entrevista com a CEO (Chief executive officer) da empresa VTCLog, Andreia Lima. Foto: Lindauro Gomes

Ary Filgueira e Lindauro Gomes
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Depois de 50 dias monopolizando o noticiário político do país, com várias menções na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, no Senado Federal, sem divulgar uma única linha em sua defesa, a VTCLog resolveu quebrar o silêncio.

O Jornal de Brasília traz com exclusividade uma reportagem baseada em entrevistas com a CEO (Chief executive officer) da empresa, Andreia Lima, e o motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva, que ganhou notoriedade por ter seu nome vinculado a um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) após ter sacado quase meio milhão de reais das contas da empresa. Dinheiro que Ivanildo sustenta até hoje que foi usado no pagamento de fornecedores.

O motoboy entrou num pacote de movimentações financeiras suspeitas detectadas pelo Relatório de Inteligência Financeira (RIF) do Coaf a pedido da CPI. A empresa surgiu no radar dos senadores que compõem a comissão por supostas irregularidades no contrato com o Ministério da Saúde.

O contrato firmado no ano de 2018 entre a pasta e a Voetur (Proprietária da VTCLog), no valor de R$ 97 milhões prevê transporte e armazenagem de medicamentos em todo o território nacional. A VTCLog é também a responsável pela distribuição de todas as vacinas da Covid-19 em todo o país.

A suspeita inicial recai sobre um possível superfaturamento de R$ 16 milhões sobre o valor inicial do Contrato por meio de aditivos.

Andreia defende que além do transporte, o serviço de armazenagem é composto por subserviços, que são a gestão de estoque, recebimento e a manipulação desses medicamentos. Foi neste último item que surgiu o gargalo que deu origem à suspeita de superfaturamento.

O contrato firmado pelo Ministério da Saúde previa a quantia de aproximadamente 50 mil manipulações por mês. Entretanto, Andreia defende que logo nos primeiros faturamentos, o número de manipulações dos itens que compõem cada pedido era superior, chegando até a 400 mil.

Andreia alega que ao perceber o desequilíbrio na prestação de serviço da armazenagem, a solução encontrada teria partido da própria empresa. “Condensamos os itens em um mesmo volume e passamos a cobrar sobre volume expedido e não sobre cada item”, afirma ela.

A CEO alega que essa foi a única forma encontrada para que a licitação não fosse cancelada. “Se a gente fosse seguir o contrato à risca, seria até mais vantajoso para a empresa. Então, não achar uma adequação e perder o contrato seria pior, pois eu já tinha todo investimento. Se tivesse de fazer um outro processo licitatório, seria pior tanto para mim quanto para o erário”, detalha Andreia.

Quanto ao aditivo no pagamento do contrato, apontado também na CPI como irregular, ela explica que isso estava previsto já no acordo. “O contrato é sobre a demanda. Se aumentar, há um incremento de 25%, o que de fato aconteceu em virtude da pandemia”, disse ela. “Isso me dá muita tranquilidade porque, todo esse processo para ser solucionado, passou por todas as áreas técnicas do ministério e pela Consultoria Jurídica (Conjur). Na qual a área técnica fala que não houve superfaturamento. Até porque você não pode analisar pelo valor da licitação, mas sim pelo valor de mercado”, aponta.

Andréia garante que está à disposição para repetir essa explicação dada à reportagem na CPI da Covid, caso seja convocada ou até mesmo convidada. Ela afirma ter tido acesso ao levantamento da área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) e garante que os técnicos não teriam constatado qualquer tipo de irregularidade.

Por fim, Andreia revelou que o governo estaria há mais de três meses sem realizar o pagamento do contrato para a VTCLog. Ao ser questionada se ela já pensou em suspender as atividades por isso, Andreia conjecturou: “Se a VTCLog parar, poderia ocasionar a paralisação da vacinação no país”, alertou. “O que espero da CPI é que ela nos ouça. Eu acredito que eles (senadores) reconheçam nosso trabalho e lisura”, concluiu.

Enquanto ela espera a sua oportunidade de depor na CPI, o motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva já tem data e hora para falar ao Brasil porque realizou vários saques que totalizam aproximadamente R$ 4.700.000 (quatro milhões e setecentos mil) na conta da empresa VTCLog. O depoimento está marcado para terça-feira (31).

Desde que seu nome foi revelado pela reportagem do Jornal de Brasília, que teve acesso ao relatório do Coaf, o brasiliense, que, até então, leva uma vida simples e no anonimato, se tornou uma celebridade na vizinhança, com o entra e sai de equipes de reportagem.

Ivanildo praticamente repetiu a mesma versão que deu na primeira reportagem sobre os saques que realizou para a empresa. “Não tenho ideia do montante que saquei. E o dinheiro foi usado para pagar fornecedor”, disse ele.

A chefe dele, Andreia, explica que essa forma de pagamento, em cash, se deu por uma “falta de governança da empresa”, o que segundo ela já está sendo melhorado.

Em nota, a empresa reconhece todos os cheques sacados. Afirma que não há motivo nenhum para esconder suas movimentações financeiras. E acrescenta que a origem de suas receitas são devidamente declaradas e o destino de seus numerários, certos e lícitos. Em nota, os sócios disseram que estão muito tranquilos quanto atos executados pela companhia. “Nossas atividades requerem sim o uso de dinheiro em espécie. Não vemos nenhum crime nessa prática e garantimos que temos toda documentação que comprova o destino de cada saque e está disponível à CPI e a qualquer órgão de controle”, destacou em nota. “Somos uma instituição privada séria, empregamos milhares de pessoas e geramos renda pra nosso país”, acrescentou.

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