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Política & Poder

Ex-chanceler de Lula defende adesão da Argentina ao Brics

A opinião do ex-chanceler, porém, diverge da do Itamaraty comandado pelo presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL)

FolhaPress

19/10/2022 14h15

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Um eventual governo do ex-presidente e agora candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) poderia facilitar a entrada da Argentina no Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Em entrevista à agência de notícias Reuters publicada nesta quarta-feira (19), o principal assessor do petista em política externa, Celso Amorim, disse que a inclusão de Buenos Aires aumentaria o equilíbrio do grupo.

“É bom ter equilíbrio dentro do Brics e ter um papel maior para a América Latina”, disse Amorim, ministro das Relações Exteriores nos dois mandatos de Lula, entre 2003 e 2010. “Acho que a eventual inclusão da Argentina seria positiva”, acrescentou.

A opinião do ex-chanceler, porém, diverge da do Itamaraty comandado pelo presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL). Em fevereiro, a pasta afirmou que não vê espaço para discussão no Brics sobre sua eventual ampliação.

A declaração se deu dias depois de o presidente argentino, Alberto Fernández, mencionar o assunto com seus homólogos russo, Vladimir Putin, e chinês, Xi Jinping. A diplomacia brasileira sob o atual presidente mantém pouca proximidade com o vizinho sul-americano.

Reservadamente, interlocutores no governo Bolsonaro apontaram obstáculos, do ponto de vista brasileiro, para a entrada da Argentina na aliança. E a justificativa, curiosamente, passa pelo mesmo argumento de Amorim -ainda que para defender lados opostos. Segundo eles, o eventual ingresso representaria uma diluição do poder do Brasil, que, como único representante da América Latina, atua como líder regional pela interlocução facilitada que a participação no Brics permite com esses países.

Ainda nesse aspecto, considera-se que o Brics foi fundado como um bloco limitado e que abrir as portas para um novo latino-americano poderia desencadear discussões sobre o ingresso de mais países de outros continentes, gerando atritos com os outros membros atuais. Nos últimos meses, Argélia, Arábia Saudita, Egito, Irã e Turquia também solicitaram a adesão ao grupo.

Ainda na entrevista à Reuters, Amorim mencionou a Guerra da Ucrânia e disse que Lula tem disposição e histórico para contribuir nas negociações de paz. Segundo ele, um eventual acordo precisa ser liderado pela União Europeia e Estados Unidos, “mas com a participação da China, obviamente”. “O Brasil também pode ser um país importante, cuja voz ressoa no mundo em desenvolvimento “, acrescentou, citando mais uma vez o Brics

Amorim disse também que, se eleito, Lula faria do Brasil um protagonista nas negociações climáticas e organizaria uma cúpula global sobre a Amazônia no primeiro semestre do próximo ano para discutir a preservação da floresta junto com as nações mais desenvolvidas.

Por fim, ele citou as relações entre petistas e ditaduras de esquerda na América Latina, bastante exploradas por Bolsonaro na campanha eleitoral. De acordo com Amorim, um terceiro mandato de Lula abriria a porta para o Brasil se reengajar diplomaticamente com a Venezuela; para ele, o isolamento de Caracas promovido pelo atual presidente brasileiro e pelo ex-presidente americano Donald Trump gerou poucos efeitos.

“Isolamento, sanções, bloqueios, ameaças de força não ajudam em nada. Eles só dificultam as coisas”, afirmou. Questionado sobre como um governo Lula reagiria às violações de direitos humanos na Venezuela e na Nicarágua, o ex-chanceler disse que o Brasil “faria o que pudesse em favor da democracia de uma forma respeitosa, não intervencionista e não arrogante”.

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