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Política & Poder

Equipes de Lula e Bolsonaro iniciam transição e protestos perdem força

O vice-eleito já tinha dialogado anteriormente com representantes de Bolsonaro, em meio às incertezas provocadas pelo silêncio

Redação Jornal de Brasília

03/11/2022 18h44

Foto: Nelson Almeida/AFP

A transição de governo já começou: representantes do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e do atual incumbente, Jair Bolsonaro (PL), se reuniram pela primeira vez nesta quinta-feira (3), enquanto os bloqueios rodoviários de parte de apoiadores do presidente eram cada vez menos numerosos.

“A transição já começou”, disse a jornalistas o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, após manter uma conversa “bastante proveitosa” e “objetiva” com o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira.

Encarregado por Lula para coordenar a transição de governo, o moderado Alckmin (PSD), ex-governador de São Paulo, reuniu-se com Bolsonaro nesta quinta em reunião fora da agenda do Palácio do Planalto.

“(O encontro) foi positivo. O presidente me convidou para que eu fosse até o seu gabinete e reiterou (…) a disposição do governo federal de prestar todas as informações, colaborações, para que se tenha uma transição pautada pelo interesse público”, declarou Alckmin.

O vice-eleito já tinha dialogado anteriormente com representantes de Bolsonaro, em meio às incertezas provocadas pelo silêncio de quase dois dias do presidente após sua derrota no domingo e pelos bloqueios viários que se seguiram.

Alckmin, de 69 anos, afirmou que vai definir os integrantes da equipe de transição após se reunir nos próximos dias com o presidente eleito, de 77 anos, que – disse – está descansando após meses de uma intensa campanha eleitoral.

A equipe de Lula, que por lei pode incluir até 50 funcionários, vai trabalhar a partir de segunda-feira e durante os próximos dois meses nos escritórios do Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília.

Também participou da reunião a presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffman, e o coordenador do programa de governo de Lula, Aloizio Mercadante.

Anteriormente, Alckmin se reuniu com o relator do orçamento no Senado a fim de encontrar formas de incluir nas despesas federais de 2023 as promessas de campanha de Lula, que assume o cargo em 1º de janeiro.

Lula terá que enfrentar ventos contrários para conseguir aprovar suas reformas no Congresso: os conservadores conseguiram resultados notáveis nas legislativas e o Partido Liberal (PL) de Bolsonaro será a principal força nas duas Câmaras.

“Última chance!”

A primeira reunião entre representantes de Lula e Bolsonaro ocorreu enquanto os protestos nas ruas e bloqueios rodoviários de apoiadores do presidente, indignados com a vitória de Lula, diminuíam.

Alckmin denunciou duramente os bloqueios, destacando que podem comprometer “a saúde das pessoas”, o “abastecimento de hospitais” e trazer “prejuízos” para a economia. “O direito de ir e vir é sagrado”.

Após a vitória apertada de Lula, apoiadores de Bolsonaro bloquearam estradas em todo o país, provocando problemas no transporte de mercadorias e nos deslocamentos.

Na quarta-feira, dia de Finados, milhares de bolsonaristas se reuniram em frente a quartéis nas principais cidades do país para pedir uma intervenção militar.

No Rio de Janeiro, apenas algumas dezenas de pessoas permaneciam na manhã desta quinta-feira em frente ao Comando Militar do Leste, no centro da cidade, algumas delas após terem passado a noite acampadas no local.

“Eu acredito que a gente vai ter uma ditadura comunista” com Lula, disse à AFP Jéssica dos Santos Ferreira, de 31 anos. “É um ladrão, não é um exemplo para o meu filho de 11 anos”, afirmou a empresária disposta a permanecer no local até uma suposta intervenção militar.

Autoridades rodoviárias informaram que nesta quinta-feira havia 32 bloqueios parciais ou totais – frente aos mais de 250 na terça -, depois que Bolsonaro, que não admitiu abertamente sua derrota nas eleições, pediu que seus seguidores pusessem um fim a estas ações.

Polêmicas

Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Alexandre de Moraes denunciou essas manifestações. “Aqueles que, criminosamente, não estão aceitando os resultados e, criminosamente, estão praticando atos antidemocráticos serão tratados como criminosos, e as suas responsabilidades serão apuradas”.

“Não há como se contestar resultado democraticamente divulgado com movimentos ilícitos e movimentos antidemocráticos”, afirmou.

Alguns casos geraram polêmica, como um vídeo que viralizou e mostra bolsonaristas supostamente fazendo uma saudação nazista durante um protesto contra a vitória de Lula em Santa Catarina.

o vídeo – que teve dois milhões de visualizações nas redes sociais desde a terça-feira, segundo a equipe de checagem da AFP – suscitou a condenação do embaixador alemão e da Confederação Israelita do Brasil (Conib).

No entanto, uma investigação oficial estabeleceu de forma preliminar que não há provas de que tenha se tratado de um ato de apologia ao nazismo.

© Agence France-Presse

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