Hans Hanegam
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A pauta está nas discussões políticas. No cenário nacional, são cada vez mais intensas as discussões sobre o voto útil. A discussão do fenômeno, aparentemente, está mais presente nesta do que nas eleições anteriores e em Brasília, o voto útil, caso ocorra ainda no primeiro turno, pode fazer a diferença na eleição para governador do Distrito Federal.
A menos de duas semanas do primeiro turno, o cenário surge como boa oportunidade para Ibaneis Rocha (MDB), que pode ser o mais provável beneficiário de boa parcela dos votos de eleitores mais simpáticos à esquerda, que não veem seus candidatos com chances de vitória e observam a presença de candidatos históricos da direita, como Alberto Fraga (DEM) e Eliana Pedrosa (PROS), entre os primeiros colocados.
Além disso, o fato de Ibaneis jamais ter concorrido em eleições é apontado como motivo para o crescimento dele nas pesquisas, enquanto percebe-se na população certa rejeição aos políticos tradicionais. Tal fenômeno pode ser observado também na candidatura ao Senado de Leila do Vôlei, que aparece em primeiro lugar superando políticos tradicionais, como Cristovam Buarque.
Com histórico na advocacia em defesa de servidores públicos e com boa relação com alguns líderes sindicais, Ibaneis já começa a receber o apoio de lideranças desse segmento, incomodados com a estagnação de candidaturas como a de Julio Miragaya. Ele desconversa. “Tenho uma relação muito boa com líderes da esquerda. Muitos são meus amigos de longa data. E muitas pautas que eles defendem – como a valorização do servidor e a posição contrária às privatizações das empresas públicas – também defendo. Mas por enquanto está cada um no seu quadrado”, afirma.
Entre os candidatos tecnicamente empatados na disputa, o atual governador Rodrigo Rollemberg sofre politicamente pelos ajustes financeiros que tomou, de forma a evitar uma crise ainda mais profunda no Distrito Federal. Com os olhos na Lei de Responsabilidade Fiscal e em busca de reduzir o grande endividamento herdado da gestão anterior, Rollemberg adiou reajustes dos servidores públicos e reduziu investimentos do GDF. Assim, hoje, arca com o custo político de suas decisões administrativas e vê sindicalistas se opondo ao modelo adotado por ele.
Até mesmo candidatos que não se posicionam à esquerda, mas que não evoluem nas pesquisas, podem perder eleitores por conta do voto útil. Rogério Rosso (PSD), por exemplo, pode acabar sem uma parcela dos sindicalistas que firmaram apoio à sua candidatura. O Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol), por exemplo, já estava rachado por conta do apoio que o ex-diretor da PCDF e deputado federal Laerte Bessa deu a Ibaneis, mesmo contra a orientação do PR, seu partido. Agora o racha pode aumentar, por causa do voto útil.
O cientista político Caio Ortiga acredita que o movimento é natural, principalmente por causa da repulsa desse eleitorado mais à esquerda aos candidatos do DEM e do PROS. “É bem possível que, com o fraco desempenho dos candidatos do PT e PSOL observado nas pesquisas, principalmente se comparados a algumas candidaturas bem conhecidas e recorrentes, eleitores mais moderados dessas legendas procurem candidatos mais bem posicionados ou em ascensão”, afirma.
Para ele, Ibaneis pode ser o herdeiro desses votos porque, além de ser próximo de lideranças sindicais, tem uma postura diferente em relação ao partido. “O candidato do MDB, quando é perguntado sobre seu vínculo com o partido, faz duras críticas a algumas lideranças nacionais. Por conta desse distanciamento, possui um histórico mais favorável para angariar os chamados votos úteis”, explica Caio Ortiga.
Talvez isso explique a ascensão de Ibaneis nas últimas semanas. O candidato, a quem a mesma Datafolha que lhe atribui 13% de intenções de voto atualmente, estava com 2% em 22 de agosto. O emedebista tem a menor taxa de rejeição dentre os 11 candidatos ao Palácio do Buriti (17%) e cresceu 11 pontos percentuais desde então.