Phillippe Watanabe
São Paulo, SP
Um editorial da revista científica Nature publicado nesta terça-feira (25) afirma que, na eleição presidencial atual, classificada pelo periódico como a mais importante desde o fim da ditadura, só há uma escolha para o Brasil e para o mundo, e que um segundo mandato do governo Jair Bolsonaro (PL) representaria ameaças à ciência, à democracia e ao meio ambiente.
Em setembro, antes do primeiro turno da atual eleição, um editorial da revista científica Lancet criticou a gestão de Bolsonaro na pandemia e o desrespeito a indígenas e também falou sobre a necessidade de “uma mudança urgente”.
O texto da Nature afirma que o presidente brasileiro assumiu o posto negando a ciência, ameaçando os direitos das populações indígenas e promovendo armas como solução para preocupações com segurança. “Bolsonaro foi fiel à sua palavra. Seu mandato foi desastroso para a ciência, para o meio ambiente e para o povo do Brasil -e para o mundo”, aponta o texto.
Quando Bolsonaro foi eleito, em 2018, a mesma Nature, em editorial, já havia publicado sobre o risco que o presidente eleito representava para a ciência e o meio ambiente.
O texto da respeitada revista científica destaca os níveis alarmantes de desmatamento desde o início do atual governo. O editorial relembra do período em que o país conseguiu derrubar bruscamente a destruição da floresta e quebrar a ligação entre desmate e produção de carne e soja. “Muito desse progresso se perdeu”, diz o texto.
Aponta também que, assim como o ex-presidente norte-americano Donald Trump, Bolsonaro ignorou a ciência relacionada à Covid-19 e negou os perigos da doença -além de ter questionado, sem embasamento, a segurança das vacinas.
“Outras semelhanças já foram levantadas entre Trump e Bolsonaro -ambos tentaram minar o Estado de direito e reduzir os poderes dos reguladores”, diz o texto.
O editorial também relembra que as verbas para finanças já estavam em queda antes do início do governo atual, mas continuaram a cair até o ponto de criar dificuldades gerais de funcionamento para universidades federais.
Apesar das críticas à condução de Bolsonaro, o editorial da Nature também aponta as diversas denúncias de corrupção associadas ao período do governo Lula -cita também a anulação da condenação do ex-presidente, em parte pela parcialidade nos julgamentos nos quais era réu.
“Nenhum líder político chega perto do perfeito”, diz o editorial sobre a eleição brasileira. Ela cita, porém, que os últimos quatro anos são uma lembrança do que acontece quando se elege aqueles que ativamente buscam desmantelar instituições destinadas a combater a pobreza, a proteger a saúde pública, a fazer avançar a ciência e o conhecimento e a proteger o meio ambiente.
“Os eleitores brasileiros têm uma oportunidade valiosa de começar a reconstruir o que Bolsonaro destruiu. Se Bolsonaro tiver mais quatro anos de governo, o dano pode ser irreparável”, conclui o editorial.