Mônica Bergamo
São Paulo, SP
O grupo Prerrogativas, formado por juristas e advogados, apresentou, nesta quarta (26), uma notícia-crime ao Ministério Público de São Paulo pedindo investigação sobre a ordem de um integrante da equipe do candidato bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) a um cinegrafista da Jovem Pan para que apagasse as imagens do tiroteio que interrompeu a visita do político à favela de Paraisópolis.
Para os advogados do grupo, há indícios da prática de crime de obstrução da Justiça. “Deve-se apurar quem fez a exigência para que as imagens fossem apagadas e quais os motivos que o levaram a tomar tal atitude extremamente grave para a apuração dos fatos”, diz o documento.
O Prerrogativas também entrou com uma representação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo providências para que seja apurada a disseminação “consciente e voluntária” pelas campanhas de Tarcísio e do presidente Jair Bolsonaro (PL) da informação de que o tiroteio tinha sido um atentado.
“Esse comportamento deixa claro que a população paulista não pode compactuar com esse trabalho de miliciano que eles querem trazer para São Paulo. É importante que a Justiça daqui mostre repulse a esse tipo de comportamento”, diz o advogado Fabiano Silva dos Santos, do Prerrogativas.
Tarcísio estava na sede de um projeto social que inaugurou um polo universitário na favela quando um tiroteio entre policiais e suspeitos terminou com uma morte, no último dia 17.
O profissional da Jovem Pan, que pediu para não ser identificado, fazia imagens da campanha do postulante ao Governo de São Paulo. Ele e outros profissionais de imprensa foram levados em uma van da campanha a um prédio na zona sul usado pela equipe de Tarcísio.
No local, segundo áudio obtido pela Folha, houve perguntas ao profissional sobre o que ele havia filmado e a ordem para que ele apagasse as imagens. “Você filmou os policiais atirando?”, questiona um integrante da campanha. “Não, trocando tiro efetivamente, não. Tenho tiro da PM pra cima dos caras”, responde o cinegrafista.
O membro da campanha ainda pergunta se ele havia filmado as pessoas que estavam no local onde o evento com Tarcísio foi realizado. “Você tem que apagar”, diz o segurança.
A Folha de S.Paulo apurou, no entanto, que as imagens já tinham sido enviadas à Jovem Pan. No momento logo após o tiroteio, a emissora passou a exibir imagens do local do tiroteio, da ação da polícia e da retirada às pressas da equipe de Tarcísio.
Procurada e informada sobre o teor da reportagem, a emissora se manifestou por meio de nota.
“A Jovem Pan exibiu todas as imagens feitas durante o tiroteio. O trabalho do cinegrafista permitiu que a emissora fosse a primeira a noticiar o ocorrido no local. Não houve contato da campanha do candidato Tarcísio com a direção da emissora com o intuito de restringir a exibição das imagens e, por consequência, o trabalho jornalístico.”
A Folha de S.Paulo enviou a transcrição do áudio obtido à assessoria de Tarcísio e questionou se a ordem do integrante da campanha não consistiria em apagar uma prova do caso, que ainda está sob investigação pela Polícia Civil do estado de São Paulo.
Em resposta, a equipe do candidato disse que “um integrante da equipe perguntou ao cinegrafista se ele havia filmado aqueles que estavam no local e se seria possível não enviar essa parte para não expor quem estava lá”.
A assessoria ainda disse que, durante a agenda, diversos veículos fizeram imagens da situação e as colocaram no ar.
“Nunca houve nenhum impedimento por parte da campanha em relação a isso. Qualquer afirmação que questione isso é uma mentira”, continuou a nota.
O caso foi utilizado politicamente pelo presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), no horário eleitoral veiculado no mesmo dia do episódio. “O candidato a governador de São Paulo Tarcísio de Freitas e sua equipe foram atacados por criminosos em Paraisópolis”, afirma o locutor da propaganda.
Tarcísio, logo após o ocorrido, postou no Twitter que sua campanha havia sido “atacada por criminosos”. Depois, disse que o caso foi um ato de intimidação sem relação com política, mas com questão territorial.