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Política & Poder

Doria recua, mantém candidatura e renuncia ao Governo de São Paulo

A manobra buscou enquadrar o PSDB no mesmo dia em que Sergio Moro abandonou a pretensão presidencial

FolhaPress

31/03/2022 18h26

Igor Gielow, Carolina Linhares e Artur Rodrigues

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), recuou, nesta quinta-feira (31), da decisão de desistir de concorrer à Presidência da República e de renunciar ao Palácio dos Bandeirantes.

A manobra buscou enquadrar o PSDB no mesmo dia em que Sergio Moro abandonou a pretensão presidencial, mas está longe de garantir o apoio do tucanato ao paulista. Ao contrário, novos ataques internos à postulação são uma certeza.

Com isso, ele mantém o plano original de mirar o Planalto e permitir que o vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB), assuma o cargo e dispute as eleições para o governo paulista. Doria fez o anúncio de sua renúncia em um evento de despedida no Palácio dos Bandeirantes com prefeitos paulistas, como estava previsto.

Para tentar dissipar o mal-estar que foi vendido por todo o entorno dos tucanos, real ou não, o evento teve ares de lançamento de candidatura, com bateria de escola de samba e um longo vídeo enaltecendo a imagem de “pai da vacina” Coronavac de Doria, entre outros pontos de seu governo.

“Chego com a satisfação de ter cumprido os compromissos que assumi com o povo de São Paulo, sem ter sucumbido à vaidade do poder”, disse, chorando ao citar a mãe o pai, que foi deputado cassado pela ditadura celebrada por Bolsonaro neste dia 31, aniversário do golpe de 1964. Criticou o atual governo e os do PT.

“Acreditar na ciência é apostar na vida e acreditar no futuro. São Paulo cresceu cinco vezes mais que o Brasil nesses três anos, mesmo com a pandemia”, disse, em referência à sua aposta na vacina contra a Covid-19 e no desempenho econômico do estado.

Doria fez deferências a aliados e a outros não tanto assim, como o presidente do PSDB, Bruno Araújo, com quem tem uma relação de desconfiança. Outros compromissos de inaugurações no seu último dia no cargo acabaram cancelados diante do imbróglio.

Ele havia comunicado Rodrigo na quarta-feira (30) sobre sua decisão de se manter no governo, abrindo uma crise no PSDB e na base aliada. Desde a noite de quarta, aliados de Doria passaram a atuar para que ele mantivesse o combinado. Embora o tucano tivesse dito ao vice que não disputaria a reeleição, Rodrigo ameaçou se filiar à União Brasil e até a não mais concorrer, o que agravou a situação.

Irritado, o vice não foi a um jantar em homenagem a Doria na casa do empresário Marco Arbaitman. Com a confusão instalada, após uma manhã de negociações e telefonemas em termos impublicáveis, foi costurado um consenso.

Bruno Araújo então divulgou uma carta na qual reafirmava que Doria seria o candidato, respeitando o resultado das prévias do ano ano passado, na qual derrotou o então governador Eduardo Leite (RS). Leite renunciou ao governo do Rio Grande do Sul, anunciou que permanece no PSDB e disse que se vê em condições de ser candidato ao Planalto, numa tentativa de virar a mesa das prévias.

A carta não foi bem o que queria o paulista, que buscava uma manifestação conjunta com o MDB e o União Brasil, de preferência já endossada pelo ex-ministro Sergio Moro, que já estava de saída da corrida presidencial e mudou para o partido nesta quinta.

Para fins cosméticos, já que o racha no PSDB não irá se alterar, o texto de Araújo serviu de base para a manutenção dos planos iniciais.

Doria já havia sinalizado a aliados que sua decisão podia não ser final. À Folha de S.Paulo, falou que era “especulação”. Sua frustração com o PSDB vem do apoio de alas expressivas do partido, lideradas pelo adversário Aécio Neves (MG) e outros caciques, para tentar ressuscitar Leite na disputa.

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