Uma das razões que explicam a queda na avaliação positiva da presidente Dilma Rousseff e de seu governo é o modelo que ela vem adotando para governar: um estilo centralizador e sem espaço para uma interlocução maior com a população. A análise é do especialista em pesquisa eleitoral Sidney Kuntz , compartilhada pelo cientista político e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica (PUC) e Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo, Marco Antônio Carvalho Teixeira. De acordo com pesquisa CNI/Ibope houve um recuo de 56% para 48% na avaliação de seu governo, na comparação com mostra realizada em março, e de 73% para 67% na aprovação pessoal, no mesmo período em análise.
Na opinião de Kuntz, a pesquisa divulgada hoje pela CNI/Ibope reflete que Dilma vem se distanciando da imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que batia recordes de popularidade, mesmo em tempos de crise, por causa de seu canal direto com a população. “Óbvio que ela não é o Lula, mas não pode também ser uma espécie de presidente da área de recursos humanos, cuja função é demitir; não pode governar só no gabinete, precisa de uma interlocução maior com a população, até mesmo para explicar as razões da limpeza que vem fazendo em seu ministério”, diz Kuntz.
Para Carvalho Teixeira, a queda registrada na avaliação pessoal e no governo Dilma já era prevista, em razão da sucessão de escândalos que atingiram a sua administração. Apesar disso, ele concorda que a presidente não estabeleceu um canal de interlocução com a população, mesmo tendo dado respostas rápidas nessa crise, com a faxina que implementou. “O carisma do Lula faz diferença nessa hora”, destaca.
O pesquisador da PUC e FGV de São Paulo avalia ainda que a queda na avaliação pessoal de Dilma e de seu governo poderia ser ainda maior se os reflexos da crise global tivessem atingido mais fortemente a nossa economia. “O que segura é a economia. Contudo, é preciso ficar atento para os desdobramentos da crise econômica mundial e da turbulência na política interna. O governo deve navegar por mares turbulentos daqui pra frente e Dilma tem de demonstrar habilidade pra isso”. Um aspecto positivo neste cenário, no entender de Carvalho Teixeira, é a presença de um vice-presidente do PMDB, “que ajuda no quesito governabilidade”.
Sidney Kuntz também acredita que Dilma terá de enfrentar dias difíceis pela frente. “Temos um cenário externo muito volátil e a situação dela poderá se complicar se tiver de adotar as chamadas medidas amargas. Além disso, no aspecto político, ela precisa de um núcleo mais forte para fazer a articulação. E, claro, se não estabelecer um canal melhor de interlocução com a população, sua popularidade tende a cair muito mais”.