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Política & Poder

CPI pretende investigar compra de testes e fechar o cerco a líder do governo

As ações correm nesta semana em paralelo a depoimentos, como o do empresário Carlos Wizard, integrante do gabinete paralelo

Redação Jornal de Brasília

29/06/2021 13h12

CPI da Covid

Foto Edilson Rodrigues/Agência Senado

Renato Machado, Julia Chaib e Constança Rezenda
FolhaPress

Na semana seguinte à apresentação de documentos e depoimentos que levaram suspeitas de corrupção para perto do Palácio do Planalto, a CPI da Covid pretende se aprofundar na investigação de irregularidades na compra de testes de Covid-19, além de buscar com novos convocados e quebras de sigilo fechar o cerco ao grupo ligado ao deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara.

As novas ações correm nesta semana em paralelo a depoimentos aguardados, como o do empresário Carlos Wizard, integrante do chamado gabinete paralelo, e do sócio-diretor da Precisa Medicamentos, Francisco Emerson Maximiano, investigado na negociação da vacina indiana Covaxin.

Ambos retardaram suas oitivas, mas agora precisam prestar esclarecimentos à luz de denúncias mais graves.
A CPI entrou nos últimos dias em uma nova fase, focada na compra da Covaxin. A existência de denúncias em torno da aquisição da vacina indiana foi revelada pelo jornal Folha de S.Paulo no dia 18, com a divulgação do depoimento sigiloso do servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda ao Ministério Público Federal. Desde então, o caso virou prioridade na comissão.

A CPI suspeita do contrato para a aquisição da imunização, por ter sido fechado em tempo recorde e prever o maior valor por dose da vacina, em torno de R$ 80. Além disso, é o único feito por um intermediário, a Precisa. O servidor que denunciou a pressão e seu irmão, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), disseram à CPI que alertaram o presidente Jair Bolsonaro sobre as supostas irregularidades. A esse respeito, o presidente diz apenas que não tem como saber o que acontece nos ministérios.

Em entrevista à Folha de S.Paulo no último domingo (27), Miranda disse que a corrupção pode ser “muito maior”. O parlamentar indicou a existência de fraude na compra de testes de Covid, apontou para um indicado de Barros e ainda disse que seu irmão pode apresentar mais detalhes, desde que em uma sessão secreta.

Os senadores do grupo majoritário da CPI, formado por independentes e oposicionistas, afirmam que as novas denúncias são graves e que precisam ser investigadas. Por outro lado, acrescentam que o foco ainda está no contrato da Covaxin e que é preciso cautela com novas denúncias. “Tudo o que tiver a ver com a pandemia vai ser investigado. Tudo, qualquer frente, por isso estamos prorrogando a duração da CPI, para ter mais tempo para investigar essas questões”, diz o relator, Renan Calheiros (MDB-AL).

Na mesma linha, o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apresentou requerimento para prorrogar por outros 90 dias as atividades da comissão. A CPI foi instalada no dia 27 de abril e portanto deveria ser encerrada entre o fim de julho e o início de agosto –a depender se a comissão vai parar as atividades com o recesso parlamentar.

Para ser prorrogada, eram necessárias 27 assinaturas de senadores, o que corresponde a um terço da Casa. A assessoria de imprensa de Randolfe anunciou que o número havia sido atingido na noite desta segunda-feira (28).
O parlamentar aponta em suas justificativas a necessidade de se apurar irregularidades envolvendo a compra da Covaxin, um “escândalo que precisa ser apurado com a gravidade correspondente”, segundo o requerimento.

Um primeiro passo previsto pelo grupo majoritário para avançar na investigação da compra de testes será realizar uma sessão secreta para ouvir o servidor Luis Ricardo. Após a publicação da entrevista, na qual o deputado Miranda levanta essa possibilidade, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) informou que apresentaria requerimento para que essa oitiva secreta seja realizada. Vieira, no entanto, defende cautela dos senadores na apreciação dessas novas denúncias. “A CPI não pode ignorar este tipo de informação, mas deve ter o cuidado de não cair em especulações.”

Posição semelhante tem o senador Humberto Costa (PT-PE), que defende a apuração das novas denúncias, mas também pede cuidado para que a CPI não perca o foco. “Se realmente isso tem correspondência com a realidade, são fatos graves que precisam ser apurados. Se de fato o deputado tem coisas que sejam relevantes, não há nenhuma dificuldade em fazer uma sessão reservada”, disse.

Em uma outra frente, os senadores da comissão querem aprofundar a investigação sobre servidores do Ministério da Saúde que seriam ligados a Ricardo Barros. O deputado é alvo de um requerimento de convocação para prestar depoimento à CPI, que está na pauta da sessão desta terça-feira (29). Caso decidam mesmo por requerer seu depoimento, o formato deve ser transformado em “convite”, no qual a presença não é obrigatória.

Também estão na pauta os requerimentos de convocação dos servidores da Saúde Roberto Ferreira Dias e Thiago Fernandes da Costa. Na entrevista, o deputado Miranda disse que o diretor de logística do ministério, Roberto Ferreira Dias, é quem dá as cartas. “Nada ali acontece se o Roberto não quiser.” Dias foi indicado ao cargo pelo ex-deputado Abelardo Lupion e por Barros.

A sessão de quinta-feira (1º) será destinada a ouvir o sócio-administrador da Precisa, Francisco Emerson Maximiano. O empresário deveria ter comparecido à comissão na quarta-feira da semana passada, mas argumentou que estava em quarentena por ter viajado à Índia.

Seu novo depoimento acontece em um novo momento das investigações. Há duas semanas, os senadores suspeitavam do crime de advocacia administrativa –uso da máquina pública em benefício de entidade privada. Após as revelações dos irmãos, os senadores agora vão questionar Maximiano tendo em mãos os nomes de servidores da pasta que teriam agido em benefício da empresa e de lobistas que atuaram na defesa de seus interesses.

Um dia antes, a comissão vai ouvir o empresário Carlos Wizard, que também faltou à sua primeira oitiva, alegando que estava fora do país. Wizard também vai depor em um ambiente diferente do previsto originalmente. Inicialmente, suspeitava-se da sua participação no gabinete paralelo, centro de aconselhamento sobre temas da pandemia a Bolsonaro que propagava o negacionismo.

Agora, os senadores também suspeitam da atuação de Wizard em defesa de algumas vacinas contra a Covid. “Wizard vinha porque era do gabinete paralelo, por causa da disseminação de notícias falsas, a defesa da cloroquina. Agora ele aparece numa outra seara. Agora é preciso saber o envolvimento dele e de outros na intermediação de vacinas”, afirma o senador Rogério Carvalho (PT-SE). Wizard teve o passaporte retido nesta segunda-feira pela Polícia Federal, ao desembarcar no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP).

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