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Política & Poder

CPI da covid: relatório final vai de fake news a povos indígenas

O Jornal de Brasília teve acesso ao documento, que conta com mais de mil páginas com 16 capítulos

Geovanna Bispo

19/10/2021 17h38

Foto: Agência Senado

Na noite desta terça-feira (19), o G7 da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid irá se reunir na casa do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) para discutir o relatório preliminar final. O relatório tem causado uma rachadura na cúpula da comissão, porém espera-se que a paz seja selada entre o presidente da mesa, Omar Aziz (PSD-AM), e o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), durante o encontro.

O Jornal de Brasília teve acesso ao documento, que conta com mais de mil páginas com 16 capítulos. Entre os assuntos destacados por Calheiros, estão o chamado “gabinete paralelo”, imunidade de rebanho, tratamento precoce, recusa e atraso na compra de vacinas, a crise no Amazonas, o caso do imunizante Covaxin, o caso da VTCLog, o caso Prevent Senior e o impacto da pandemia nos povos indígenas.

Vacinas

Em um dos capítulos, Renan analisa as recusas e atrasos na compra dos imunizantes contra a covid-19. Segundo ele, ao contrário do esperado, que era a priorização da aquisição das vacinas, o governo federal preferiu priorizar a cura por meio de medicamentos, além da chamada “contaminação de rebanho”, que consiste na exposição de toda a população ao vírus para que haja uma “contaminação natura”.

“Como se verá mais adiante, os depoimentos dos representantes da Pfizer e do Instituto Butantan deixam claro que a aquisição de imunizantes não foi uma prioridade do Ministério da Saúde, que postergou ao máximo a conclusão das negociações”, escreveu o relator.

Segundo Renan, as negociações do governo com as empresas “sofreram injustificável atraso” e que isso teria impactado diretamente na imunização da população e, consequentemente, causado a morte de milhares de brasileiros. Apenas durante os quase 7 meses de CPI, mais de 150 mil brasileiros perderam a vida.

As principais negociações das vacinas ocorreram durante a gestão do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e do ex-Secretário Executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco. Durante esse período, Pazuello teria deixado de responder ao menos sete vezes a propostas da vacina da Pfizer. Em depoimento à comissão, ele afirmou que o silêncio teria sido por se tratar de uma “tecnologia desconhecida” e “muito mais cara que as demais”.

“O ex-Ministro confirmou que entre maio e junho daquele ano recebeu a primeira proposta oficial da empresa, um memorando de entendimento, em que estavam previstas as quantidades de 1,5 milhão de doses em 2020; 18,5 milhões até o final do primeiro semestre; e o restante até o final do ano, totalizando 70 milhões de doses”, continuou.

Já Élcio, também em depoimento, afirmou que parte da falta de interesse da pasta com a Pfizer era a negativa da farmacêutica em transferir a tecnologia do imunizante. Além da Pfizer, o governo teve problemas com todas os outros imunizantes atualmente utilizados ou não no país, antes ou durante de suas contratações.

Tratamento precoce

Antes mesmo de tratar do capítulo das vacinas, Calheiros fala sobre o “tratamento precoce”, pregado desde o início da pandemia pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). “Sobram evidências científicas de que o tratamento precoce é ineficaz. Na melhor das hipóteses, é apenas inócuo. Na pior, é danoso à saúde das pessoas”, inicia.

O tratamento precoce é um conjunto de medicamentos, entre eles a cloroquina e a ivermectina, que serviriam para tratamento e prevenção da covid-19, mas que não tem qualquer evidência científica.

Segundo Renan, a utilização dos fármacos passa bem longe das razões científicas e se aproxima das políticas. Utilizando um relatório do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário (CEPEDISA), da Universidade de São Paulo (USP), o senador cita que no país estaria “em curso uma estratégia de disseminação da covid-19, promovida de maneira sistemática em âmbito federal”.

“[O governo brasileiro provocou a] incitação constante à exposição da população ao vírus e ao descumprimento de medidas sanitárias preventivas, baseada na negação da gravidade da doença, na apologia à coragem e na suposta existência de um ‘tratamento precoce’ para a covid-19, convertido em política pública”, teria concluído o relatório da universidade.

Não satisfeito em apenas indicar a utilização da hidroxicloroquina e em alterar a bula do medicamento para a inclusão do coronavírus, em abril de 2020 o governo federal teria procurado outros países para envio de insumos para produção do remédio.

Segundo o ex-Chanceler Ernesto Araújo, nessa época ele teria trocado emails com o embaixador brasileiro na Índia, Elias Luna Santos, onde indicava uma busca pelo remédio e insumos para produzi-la no Brasil. “A Índia havia bloqueado as exportações desse medicamento, bem como de suas matérias-primas, mas o governo brasileiro agiu ativamente para liberação das entregas para o Brasil. Segundo Araújo, isso surgiu a partir de demanda e coordenação do Ministério da Saúde”, escreveu.

O Ministério das Relações Exteriores teria, então, feito gestões junto ao governo indiano para liberação de importação dos insumos de hidroxicloroquina.

Veja o documento:

Relatorio Cpi 17102021 by Jornal de Brasília on Scribd

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