O telefone da deputada distrital Celina Leão (PSD) tocou quatro vezes ontem. A cada ligação, a parlamentar de oposição ouviu em alto e bom som de distritais da base governista a predisposição de assinarem o pedido de abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Copa.
Até então, a possibilidade de uma apuração dos gastos para reconstrução do Estádio Nacional Mané Garrincha era classificada como distante. Mas dois fatores mudaram este cenário: as manifestações populares e a tensão crescente entre os deputados da base e o Palácio do Buriti.
“Não quero falar os nomes, pois eles podem sofrer represálias do governo. Mas eles falaram comigo que podem assinar a CPI”, informou a parlamentar.
Momento delicado
O documento para a abertura da CPI tem a adesão de Celina, Liliane Roriz (PSD) e Eliana Pedrosa (PSD). Para viabilizar o início da apuração são necessárias oito assinaturas.
“Não sei se apenas pela pressão popular ou se também é a análise da conjuntura política. Mas o fato é que a Câmara está em um momento muito sensível politicamente. Tudo pode acontecer nessas férias”, argumentou.
A deputada acredita que em função da pressão das manifestações, as prefeituras por todo País estão enfrentando a possibilidade de CPIs para tirar a limpo pontos nebulosos da gestão.
“Se a Câmara fugir desse debate, a pressão popular das manifestações ficará nos nossos ombros”, disparou preocupada.
Segundo Celina, a CPI poderá nascer com dois objetivos: o primeiro seria pela apuração dos expressivos valores gastos na obra e o segundo para destrinchar as formas de uso.
Sem a devida atenção
O clima na base governista é de tensão. Os parlamentares não falam abertamente, mas longe dos holofotes abrem o verbo com queixas e ressalvas sobre a conduta do Palácio do Buriti para com o Legislativo.
Apesar da base, oficialmente, ter 21 deputados, os governistas comentam que o Executivo só trata o núcleo duro de deputados petistas com a devida atenção. “Não dá para dizer que essa CPI pode realmente ser aberta. Mas existe clima sim para que alguns deputados da base assinem”, revelou um distrital governista, que pediu para não ser identificado.
Além da potencial CPI, o desgaste entre o governo e a base começa a contaminar a aliança entre PT e PMDB. Os atritos sucessivos estão reverberando nos problemas de relacionamento entre as duas legendas. Também pesam nesta equação as pesquisas de opinião desfavoráveis ao governo. E com as manifestações populares a situação ganha sabores mais ácidos, para ambos os lados.
Do outro lado
No Congresso também tem correria. O deputado federal Izalci Lucas (PSDB) colhe assinaturas para apurar os gastos com a Copa em todo País.