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Política & Poder

CPI: Cacique Tserere e Armando Valentin Settin Lopes prestam depoimento

Oitiva aconteceu na manhã desta quinta-feira na Câmara Legislativa do DF

Redação Jornal de Brasília

31/08/2023 18h34

Reprodução

Concluindo o calendário de agosto da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), nesta quinta-feira (31) foi a vez do indígena José Acácio Serere Xavante, conhecido como Cacique Tserere, e o bolsonarista preso nos atos de 8 de janeiro, Armando Valentin Settin Lopes de Andrade, prestarem depoimento. 

O cacique é apontado como pivô da confusão no centro de Brasília, em 12 de dezembro de 2022. A Polícia Federal (PF) prendeu-o após identificá-lo como o responsável de comandar o grupo de indígenas que invadiu a sala de embarque do Aeroporto de Brasília. O depoente ainda ameaçou de morte ministros do STF. 

O bolsonarista Armando Valentin Settin Lopes de Andrade, por sua vez, foi convocado para prestar esclarecimentos por ter revelado, no seu boletim de prisão, que líderes do acampamento em frente ao Quartel-General do Exército planejavam ataques a bomba em outros locais do DF. À Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), ele respondeu que trabalhava com a compra e venda de veículos, e que começou a participar de grupos de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022. Segundo ele, nestes grupos recebia-se constantemente vídeos sobre fraudes nas eleições. 

Ainda no seu boletim, Valentin afirmou que estava indo ao QG há quase 40 dias, e que participou de três reuniões com líderes do local. Nessas conversas, segundo ele, a implantação de bombas para derrubar a ponte da Rodoviária do Plano Piloto foi discutida, bem como a ideia de incendiar veículos em estações de energia de Brasília. O depoente, no entanto, garantiu não estar interessado nisso.

Armando ainda confirmou que conhecia Alan Diego dos Santos Rodrigues, que foi condenado por tentar explodir uma bomba no Aeroporto. 

“Urnas passíveis de fraude” 

No encontro desta quinta, o indígena que está preso há 9 meses, disse que suas ações eram “cívicas e pacíficas”. “Não acredito nas urnas eletrônicas”, afirmou Serere à CPI. Quando questionado sobre quais seriam as reais motivações de sua vinda para Brasília, Xavante alegou não acreditar no resultado das eleições presenciais porque, segundo ele, as urnas seriam passíveis de fraude. “Não acredito nas urnas eletrônicas porque o Ministério da Defesa falou que as urnas são fáceis de ser hackeadas”, disse aos parlamentares. 

Ao longo de sua oitiva, Serere Xavante afirmou que permaneceu por trinta dias acampado em frente ao QG do Exército. O depoente, contudo, negou que tenha sido financiado para bancar sua alimentação e estadia na capital. Diante dessa confirmação, a CPI exibiu um vídeo em que Didi Pimenta, fazendeiro em Campinápolis (MT), mesma cidade do cacique, assume que financiou as despesas de Serere e demais indígenas de sua aldeia para serem transportados para a capital e protestarem contra o resultado das eleições. 

No vídeo apresentado, o fazendeiro pede doações via PIX para financiar as despesas do cacique, mas Xavante negou que conhecesse o fazendeiro e que tenha tido qualquer contato com ele. O deputado Chico Vigilante (PT), que presidia a Comissão, informou então que irá propor a quebra dos sigilos fiscal e bancário do cacique para averiguar se houve ou não depósitos em sua conta, bem como a origem dos valores.

Fake news sobre abrigar sem-teto

Em sua vez de depor, Armando Valentin disse temer um suposto cenário divulgado em fake news sobre governos de esquerda. “Antes, quando a Dilma [Roussef] tinha saído [da Presidência da República], eu me lembro de uma ocasião em que [diziam que] quem tinha uma casa com três quartos ou quatro quartos, e [se] alguém estivesse na rua, sem teto ou casa, eu teria de ceder um dos quartos [do imóvel onde morasse]. Eu fiquei traumatizado. Isso me chocou. A televisão faz isso”, disse o bolsonarista. 

Ao ser questionado pelo presidente da CPI se, em algum momento, ele viu alguma casa ser invadida ou se alguma pessoa em situação de rua foi abrigada nas condições mencionadas por ele, Armando negou. 

Os parlamentares também guiaram a conversa de modo a entender o que de fato acontecia no acampamento montado em frente ao QG, e Valentin tentou convencer os presentes de que tudo era pacífico e os manifestantes somente procuravam “alguém para dar uma luz. Que não sabiam a quem recorrer. Iam na onda”. Ele também tentou amenizar a questão da manifestação, e disse que somente depois de janeiro é que indivíduos violentos começaram a aparecer no acampamento. “Falavam de bomba, fazer, acontecer etc. São essas pessoas que apareceram para incitar. Eram pessoas estranhas, sem procedência (esquerda ou direita). Nós só ficávamos orando e éramos chacotados por isso”, relatou. 

Em sua fala, o depoente repudiou todo o depoimento prestado anteriormente à Polícia Civil. Ele afirmou, de forma incisiva, que não reconhece suas declarações à PCDF, mesmo tendo assinado o documento. “Assinei, mas eu estava sem meu óculos e, quando eu assinei, eu queria ir embora. Para mim foi um susto, pânico. Fui abordado por três viaturas descaracterizadas. Eu desconheço [o depoimento]. O que está escrito ali, eu desconsidero”, disse. 

Polícia Civil e o Ministério Público são acionados 

As contradições dos depoentes na sessão desta quinta-feira acarretaram na decisão, tomada por Chico Vigilante, de acionar a Polícia Civil e o Ministério Público. “O Armando disse que não disse o que está no depoimento na Polícia Civil. Portanto, ainda hoje estarei encaminhando o depoimento para a PCDF pedindo que seja aberto um inquérito civil, que a polícia apure”, afirmou o deputado. O deputado Pepa (PP) foi categórico ao apontar a falta de coesão das falas do bolsonarista. “Eu nunca vi um depoimento tão confuso na minha vida. Se foi proposital eu não sei, mas nunca vi algo tão desastroso”, criticou.

Quanto ao depoimento do cacique, este foi encaminhado para o Ministério Público. “Estamos encaminhando ao MP o depoimento do cacique, porque ele mentiu aqui”, afirmou Chico. “Estamos encaminhando para que seja apurado. Poderíamos decretar a prisão dele, mas ele já está preso. Mas vamos apurar para que ele responda a mais um processo”, concluiu o petista. 

Oitivas de setembro e outubro 

Ao final do encontro, os deputados que compõem a Comissão aprovaram o calendário de oitivas para os meses de setembro e outubro. Dentre os depoentes está o hacker Walter Delgatti Neto, que se tornou conhecido por ter invadido conversas eletrônicas de autoridades que participaram da Operação Lava Jato.

Devido ao feriado de 7 de setembro, a próxima reunião da CPI ocorrerá na segunda-feira (4), quando os distritais vão arguir o General Carlos José Assunção Penteado. 

Cronograma de oitivas:

4/9 – General Carlos José Assunção Penteado;

14/9 – Valter Delgatti Neto;

21/9 – Coronel Paulo José Fernandes;

28/9 – Ana Priscila Azevedo;

5/10 – Major Cláudio Mendes dos Santos;

9/10 – Capitão José Eduardo Natale de Paula Pereira;

19/10 – Saulo Moura da Cunha;

26/10 – Coronel Reginaldo Leitão.

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