O Congresso elege, nesta quarta-feira (1º), os presidentes da Câmara e do Senado, decisivos para a governabilidade do presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, em cerimônias com a segurança reforçada após os ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília em 8 de janeiro.
Eleito em outubro, o novo Congresso (2023-2027) está ainda mais à direita que o anterior, um desafio para o programa de reformas do presidente de esquerda. Já é dado como certo que Arthur Lira, figura do “Centrão”, ficará na presidência da Câmara.
Rodrigo Pacheco, do Partido Social Democrático (PSD), é favorito à reeleição para o Senado, mas pode esbarrar na candidatura de Rogério Marinho, do Partido Liberal (PL) do ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro.
O PL terá 99 dos 513 assentos da Câmara, a maior bancada que qualquer partido já teve desde 1998. E no Senado, que renovou um terço de suas 81 cadeiras nas últimas eleições, terá a segunda maior bancada, com 13, atrás apenas do PSD, que recrutou novos senadores nas últimas horas.
Lula está atento à realidade política: “Não mandamos no Congresso, dependemos do Congresso”, disse a seus ministros.
A fragmentação das câmaras, com nada menos que 23 partidos, também dificultará as negociações do governo com o Legislativo.
Lira disse à GloboNews ter uma relação “tranquila e amistosa” com Lula.
Bolsonaro, por sua vez, em um evento em Orlando, nos Estados Unidos, disse que o dia de votações é “importantíssimo”. “A eleição da mesa do Senado federal que representa para nós, de acordo com a chapa vencedora, a volta à normalidade, uma certa pacificação”, afirmou ele, torcendo por Marinho, seu ex-ministro.
Segurança reforçada
Antes das respectivas eleições dos presidentes das câmaras, os deputados eleitos tomaram posse, em meio a protestos de alguns parlamentares de Bolsonaro contra a possível eleição de Pacheco no Senado.
Os deputados, incluindo Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, levantaram cartazes com a frase “Pacheco Não”.
A posse acontece em meio a uma forte operação de segurança ao redor do Congresso, menos de um mês após o ataque em Brasília por milhares de apoiadores radicalizados de Bolsonaro.
“Estaremos prontos para atuar em diversos cenários, dos mais simples aos mais complexos, caso seja necessário”, disse o secretário de Segurança Pública de Brasília, Sandro Avelar, citado em comunicado.
Os acessos à Esplanada dos Ministérios, onde se situam o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF), estão fechados para circulação, com a entrada permitida apenas a pessoas autorizadas, detalha a nota.
No dia 8 de janeiro, milhares de apoiadores de Bolsonaro insatisfeitos com a vitória de Lula sobre o ex-presidente de extrema direita invadiram as sedes dos Três Poderes.
Destruíram parte da infraestrutura, quebraram móveis e obras de arte de valor inestimável e deixaram pichações pedindo golpe de Estado. Mais de duas mil pessoas foram presas e quase 25% delas foram indiciadas.
Na abertura anual dos trabalhos do STF, a presidente da Corte, ministra Rosa Weber, prometeu nesta quarta-feira que os culpados pelos atos violentos “serão responsabilizados com o rigor da lei” e garantiu que a democracia brasileira “permanece inabalável”.
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