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Política & Poder

Congresso ameaça novo revés caso governo faça mudanças no saneamento por MP

As MPs têm força imediata de lei, mas precisam ser aprovadas pelos parlamentares em quatro meses para continuarem válidas

FolhaPress

12/05/2023 8h24

Foto: Pablo Valadares / Câmara dos Deputados

DANIELLE BRANT, MARIANNA HOLANDA, LUCAS MARCHESINI E RENATO MACHADO
BRASÍLIA, DF

Mesmo após sofrer uma derrota na Câmara, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve insistir em mudanças no Marco do Saneamento e agora estuda editar uma MP (medida provisória) para implementar as novas regras.

Apesar disso, deputados sinalizam que Lula pode sofrer novo revés caso o plano vá adiante por verem a tentativa como uma forma de implementar as alterações sem negociar com o Congresso antes.

As MPs têm força imediata de lei, mas precisam ser aprovadas pelos parlamentares em quatro meses para continuarem válidas.

O plano inicial, segundo integrantes da Casa Civil, é insistir nas alterações por meio de apoio no Senado.

A Casa ainda poderia reverter a derrota sofrida pelo governo na Câmara, que aprovou proposta para derrubar parte dos decretos de Lula. A avaliação de governistas e integrantes da articulação política, no entanto, é que as chances de sucesso são baixas.

De acordo com interlocutores de Lula, a Casa Civil, que elaborou a proposta, está irredutível em não abrir mão das alterações. As mudanças no marco, sancionado em julho de 2020 pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), são uma das prioridades de Rui Costa.

Apesar disso, desde o princípio havia divergência no núcleo duro do governo. Costa foi avisado de que modificar a proposta –que há tão pouco tempo passou pelo crivo dos parlamentares– poderia gerar ruídos no Congresso, mas ainda assim insistiu e enviou o decreto.

Segundo parlamentares aliados, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), passou a costurar um acordo para que o governo retirasse o decreto e enviasse um projeto de lei com urgência constitucional -que, se não for votado em 45 dias, começaria a trancar a pauta do plenário da Câmara.

Se isso ocorresse, Lira não pautaria os projetos para sustar o decreto do Executivo. No entanto, o governo teria descumprido o acordo e isso irritou os parlamentares. No último dia 3, a Câmara impôs uma expressiva derrota ao Executivo, ao aprovar o texto que derrubou as mudanças feitas. O Senado ainda precisa votar o projeto, mas já sinalizou que deve manter a decisão da Câmara.

Agora, integrantes do governo estudam a melhor forma de salvar o texto: editando uma MP ou um projeto de lei.

Relator do texto aprovado na Câmara, o líder do Cidadania, Alex Manente (SP), diz que, se o governo enviar uma MP, ela será debatida.

“Mas acho que o governo teve seu período de fazer esse trabalho e não fez. A Câmara tem que iniciar um processo de atualização do Marco do Saneamento independente do governo. Se o governo enviar uma medida provisória, faremos através dela. Se não, acho que a Câmara tem que ter essa iniciativa.”

Sob reserva, outros líderes partidários indicam que, se a opção for pela MP, o Planalto poderia intensificar o desgaste com o Congresso, que, eventualmente, poderia deixar o texto perder a validade sem ser votado.

No caso do envio de um projeto de lei, o texto também teria chances de sofrer alterações, mas a vigência não seria imediata, o que daria mais tempo de negociação. A avaliação de auxiliares palacianos é de que haveria mais chances de prosperar, ainda que não idêntico ao original.

O líder de uma importante bancada do Senado afirma que a MP repetiria o problema que levou à derrota na Câmara.

As opções são estudadas diante da possibilidade de derrota no Senado. Integrantes do governo avaliam que o cenário na Casa legislativa é diferente em relação à matéria, porque eles têm maior proximidade com estados. Ainda assim, acreditam ser improvável que o decreto sobreviva ao plenário.

Parte do governo, entretanto, ainda tem a esperança de impedir a derrota no Senado.

Em paralelo aos estudos da Casa Civil, o governo continua atuando junto a senadores, com expectativa de diminuir as dificuldades. O ministro das Cidades, Jader Filho (MDB), e a Casa Civil se reuniram com líderes do governo e da oposição em dois encontros separados para escutar as reclamações dos parlamentares.

Além disso, Jader deve ir ao Senado duas vezes na próxima semana para abordar a questão em reuniões de comissões. Uma tratará de todas as ações da pasta, mas outra abordará especificamente as mudanças no Marco do Saneamento.

Durante o primeiro encontro, o governo realizou uma grande apresentação para justificar que o conteúdo do decreto era apenas sobre regulamento e não legislação. Essa visão, no entanto, é contestada pelos parlamentares –mesmo os aliados.

Os líderes que se reuniram com os representantes do governo ainda fizeram um apelo para que o texto fosse reenviado ao Congresso no formato de um projeto de lei. No entanto, afirmam que não houve nenhuma sinalização nesse sentido durante o encontro.

Os governistas apostam que as audiências com o ministro Jader Filho seriam suficiente para garantir alguns votos. Os líderes mais próximos ao Planalto também alertaram para o governo deixar de insistir no tema sem uma grande articulação, sob o risco de repetir a derrota ocorrida na Câmara.

Um cenário intermediário avaliado pela Casa Civil, caso o governo não consiga evitar a derrubada no Senado, é o de um novo projeto apresentado por algum parlamentar.

Nesse caso, o governo não seria o patrocinador do projeto e tentaria negociar com a Casa a inclusão dos pontos de seu interesse.

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