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Política & Poder

Candidata à Presidência da Argentina se opõe à entrada do país no Brics

Além da Argentina, a partir de janeiro o bloco passará a ter a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, a Etiópia, o Egito e o Irã como membros do grupo

Redação Jornal de Brasília

24/08/2023 17h20

Foto: AFP

RICARDO DELLA COLETTA E JÚLIA BARBON
JOANESBURGO, ÁFRICA DO SUL, E BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS)

Patricia Bullrich, candidata à Presidência da Argentina pela oposição de direita, criticou a entrada do país no Brics, bloco hoje formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

“Quero deixar algo claro: expusemos nossa posição contrária à entrada no Brics”, disse a líder do PRO, sigla de Mauricio Macri, logo após o presidente Alberto Fernández anunciar a adesão, nesta quinta (24).

Além da Argentina, a partir de janeiro o bloco passará a ter a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, a Etiópia, o Egito e o Irã como membros do grupo. “O presidente, que está numa situação de enorme fragilidade e sem exercer seu cargo, acaba de comprometer a Argentina com a adesão aos Brics, no momento em que a guerra está ocorrendo na Ucrânia e junto ao Irã, país com o qual temos uma ferida aberta”, disse ela em discurso à organização de livre comércio Conselho das Américas, em Buenos Aires.

A relação entre Argentina e Irã é marcada por um atentado à Associação Mutual Israelita Argentina (Amia) em 1994, que matou 85 pessoas e deixou centenas de feridos. A suposta participação de iranianos no ataque e a falta de cooperação do país nas investigações geraram tensões que perduram até hoje.

“O que pensariam se a Argentina articulasse a entrada do Brasil num grupo em que há um país apontado como responsável por uma agressão ao Brasil?”, disse à Folha de S.Paulo Diego Guelar, ex-embaixador da Argentina no Brasil e conselheiro de Bullrich, acrescentando que seu país condena a invasão russa da Ucrânia.

Ele afirma compreender a amizade entre Lula e Fernández, mas argumenta que a inclusão da Argentina no Brics é “inconveniente” e “inoportuna” em meio a uma campanha eleitoral e que o tema, no mínimo, deveria ser discutido fora desse contexto. Guelar ressalta que o atual presidente nem sequer está concorrendo à reeleição e que o candidato governista, o ministro da Economia Sergio Massa, teve apenas 20% dos votos nas eleições primárias, nas quais Bullrich derrotou o governador de Buenos Aires, Horacio Larreta.

Outros diplomatas ligados à oposição foram na mesma linha. “Consideramos que um governo em retirada que acabou de ser rejeitado por mais de 70% dos eleitores carece da legitimidade para tomar decisões que comprometam o futuro da Argentina”, disse Mariano Caucino, ex-embaixador em Israel durante o mandato de Macri e integrante da equipe internacional de Bullrich.

“Não corresponde à melhor avaliação da oportunidade e conveniência. Aparecemos aderindo junto com o Irã, um país governado por uma teocracia fundamentalista que promove uma agenda antiocidental e é responsável por atentados graves cometidos na Argentina”, complementou ele.

Mesmo antes do pleito, a coalizão já vinha indicando que era contra o ingresso no bloco. “Está claro que pertencemos ao Ocidente, mas manteremos a relação com a China. A Rota da Seda [referência à Iniciativa Cinturão e Rota, maior programa de política externa de Pequim hoje], sim; a entrada no Brics, não”, afirmou o ex-vice-chanceler Martín Redrado, então na equipe de Larreta, ao jornal argentino La Nación.

Fernández, por sua vez, defendeu a decisão, ressaltando que os cinco países que compõem o Brics hoje representam 30% do destino das exportações argentinas. “A Argentina não deve perder nenhuma instância de integração que sirva para potencializar seu crescimento”, disse o presidente em pronunciamento.

“Aumentar a capacidade de exportação aos países membros, assim como o fortalecimento das nossas oportunidades comerciais com países que mantêm relações de segundo nível com eles, é uma oportunidade que nos está sendo apresentada.”

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