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Política & Poder

Campanha de Bolsonaro minimiza impacto eleitoral de acusações contra Guimarães

A leitura de pessoas próximas de Bolsonaro, da chamada ala mais ideológica e do centrão, é que foi possível isolar o caso

FolhaPress

30/06/2022 6h34

Julia Chaib e Marianna Holanda
Brasília, DF

Aliados de Jair Bolsonaro (PL) admitem que as denúncias contra o agora ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães, são ruins para o mandatário, mas avaliam que o impacto eleitoral será pequeno após a saída do ex-aliado de primeira hora do cargo.

A leitura de pessoas próximas de Bolsonaro, da chamada ala mais ideológica e do centrão, é que foi possível isolar o caso, já que Guimarães deixou a presidência do banco no dia seguinte à revelação das acusações de assédio pelo site Metrópoles, na terça-feira (28).

A reportagem do portal afirma que ao menos cinco funcionárias da Caixa dizem ter sido vítimas de assédio sexual por parte de Guimarães, que se tornou alvo de investigação por parte do Ministério Público Federal.

As acusações dão conta de toques indesejados, convites inapropriados, entre outras coisas. À Folha, uma funcionária relatou ter sido puxada pelo pescoço e ter ficado em choque após o episódio.

O ideal, para estrategistas ligados ao presidente, era que ele tivesse demitido o executivo da Caixa —e não deixado ele apresentar uma carta de demissão— e prestado solidariedade a mulheres vítimas de assédio para evitar a imagem de condescendência, o que não ocorreu.

Uma ala da campanha tenta justificar o silêncio de Bolsonaro como forma de não tripudiar o aliado, nem sua família, que teria ficado muito exposta com o episódio. A esposa de Guimarães acompanhou-o num evento da Caixa na manhã de quarta-feira, o que causou constrangimento a integrantes do governo.

De todo modo, a campanha acredita que Bolsonaro agiu rápido, ao garantir a saída de Guimarães em curto período e ao nomear uma mulher, Daniella Marques, para sucedê-lo.

Aliados do presidente também avaliam ser possível abafar o caso de Guimarães sob a justificativa de que Bolsonaro não compactuou com as acusações de que ele é alvo.

Especialistas em pesquisas de intenção de votos passaram ao PL o diagnóstico de que o presidente não deve ganhar nem perder votos com o episódio.

Além disso, a avaliação política é que não haveria como tentar atrelar as denúncias a alguma conduta do próprio presidente, já que teriam sido atitudes tomadas exclusivamente pelo executivo da Caixa.

O mesmo não pode ser dito a respeito das investigações por suspeita de corrupção contra Milton Ribeiro (ex-ministro da Educação).

Esta investigação, para integrantes da campanha de Bolsonaro, tem potencial de prejudicá-lo ainda mais, já que pode chegar à conclusão de que houve atos ilícitos praticados dentro do próprio governo, derrubando, assim, um dos principais discursos que a campanha planejava usar para desgastar Lula: o de combate à corrupção.

Com o silêncio de Bolsonaro a respeito das denúncias contra o ex-presidente da Caixa, coube ao filho do presidente e seu coordenador da campanha, Flávio Bolsonaro, dizer que o caso é “inadmissível”, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

OPERAÇÃO DO PLANALTO PARA ESTANCAR DESGASTE COMEÇOU NA NOITE DE TERÇA

A operação para tentar estancar o desgaste com o episódio foi montada ainda na noite de terça-feira (28).

Bolsonaro foi informado a respeito das denúncias e chamou o presidente da Caixa para uma conversa no Palácio da Alvorada.

Na ocasião, o presidente avisou ao aliado que ele precisaria deixar o cargo para evitar contaminá-lo.

Integrantes da campanha aconselharam Bolsonaro a agir rápido, demitir Guimarães e divulgar uma nota ou um vídeo dizendo que repudia o assédio a mulheres, se solidarizar com as supostas vítimas do então presidente da Caixa e afirmar que a investigação sobre as acusações seguiria.

O presidente rechaçou esse aconselhamento. No lugar, deu ao aliado a possibilidade de entregar uma carta de demissão ao governo em que alega inocência, algo que foi lido como um erro por parte de estrategistas da campanha.

Em outra frente, Bolsonaro acionou ainda na noite de terça o ministro Paulo Guedes (Economia) e pediu indicações para o lugar de Guimarães.

O nome de Daniella Marques, braço direito do ministro da Economia, surgiu naquele momento. Ainda na manhã desta quarta-feira (29), ela foi ao Palácio do Planalto, e a escolha foi definida.

CÚPULA PETISTA APOSTA EM PREJUÍZOS PARA BOLSONARO

Já integrantes da cúpula da campanha petista acreditam que o caso contribui para afugentar ainda mais o eleitorado feminino da alçada do presidente e apostam que haverá, sim, prejuízos.

As mulheres são um dos principais calos no projeto de reeleição de Bolsonaro, por ser um grupo no qual ele tem altos índices de rejeição.

Na última pesquisa Datafolha, Lula registrou 48% das intenções de voto no primeiro turno, ante 27% de Bolsonaro na população em geral. Segundo o levantamento, a distância entre os adversários é maior entre elas: o petista chega a marcar 49%, ante 23% do atual mandatário.

A rejeição a Bolsonaro é elevada no eleitorado feminino. De acordo com a pesquisa, rejeitam votar no presidente 56% das mulheres que recebem mais de 5 salários mínimos, 56% entre quem recebe 2 e 5 salários mínimos e 60% entre quem recebe menos de 2 salários mínimos.

A campanha do presidente prevê fazer ações voltadas especificamente para as mulheres, na tentativa de diminuir a repulsa ao mandatário. A ideia é que ele participe de rodas de conversas e explore a imagem da própria mulher, Michelle Bolsonaro, para atrair esse público.

Desse modo, ter uma notícia negativa ligada a esse segmento não é boa para o presidente, sobretudo em relação a um nome que era considerado próximo do mandatário. Guimarães participava das transmissões ao vivo do presidente e era constantemente citado por ele.

A Caixa, inclusive, tornou-se uma espécie de vitrine de políticas públicas para o governo. O banco operacionaliza o principal programa social de Bolsonaro, o Auxílio Brasil.

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