Menu
Política & Poder

Campanha de Bolsonaro atua para conter danos após vídeo sobre venezuelanas

Em 10 de abril de 2021, um sábado, Bolsonaro fez um passeio por São Sebastião e entrou numa casa em que viviam mulheres venezuelanas

FolhaPress

17/10/2022 13h33

Marianna Holanda
Brasília, DF

A campanha de Jair Bolsonaro (PL) iniciou uma operação de contenção de danos após a viralização de vídeo em que o presidente usa a expressão “pintou um clima” para falar sobre adolescentes venezuelanas.

A principal linha de defesa adotada desde sábado (15) é afirmar que a fala foi tirada de contexto por rivais. Aliados também dizem que Bolsonaro tem o costume de dizer “pintou um clima” em diversas situações.

A declaração do presidente foi dada ao podcast Paparazzo Rubro-Negro na sexta-feira (14). “Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas; de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade”, disse o presidente durante a entrevista.

“Pintou um clima, voltei, ‘posso entrar na tua casa?’ Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, [num] sábado de manhã, se arrumando –todas venezuelanas. Meninas bonitinhas, 14, 15 anos, se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida. Quer isso para a tua filha? E como chegou a este ponto? Escolhas erradas.”

No dia seguinte, o trecho passou a ser amplamente explorado por críticos do presidente, que o associaram à pedofilia. A campanha do presidente avalia que a decisão do presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, de determinar a retirada do vídeo do ar e impedir que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) o reproduza na propaganda eleitoral representou uma vitória importante.

A decisão foi, inclusive, explorada por Bolsonaro no debate promovido neste domingo (16). “O seu programa –influenciado por Gleisi Hoffmann [presidente do PT]– me acusou de pedofilia, tentando me atingir naquilo que tenho mais de sagrado, a defesa da família brasileira e das crianças”, disse o candidato à reeleição no evento, sem ter sido questionado sobre o tema. “Ato contínuo, o que aconteceu no dia de hoje? O senhor Alexandre de Moraes dá uma sentença contrária a essas fake news, a essas mentiras”.

Mais cedo, ao chegar ao local onde o debate foi realizado, Bolsonaro disse que a decisão de Moraes botou um ponto final no tema. “Vocês me acompanharam, as últimas 24 horas foram as mais terríveis da minha vida. Uma acusação infame e sórdida de pedofilia, potencializada pela senhora Gleisi Hoffmann.”

Considerado um inimigo por Bolsonaro, o presidente do TSE foi elogiado por aliados do Planalto devido aos termos duros da decisão. Ainda assim, o tema gerou preocupação entre estrategistas da campanha.

Uma das reações estudadas é que Bolsonaro inclua em suas viagens uma passagem na fronteira do Brasil com a Venezuela, em Roraima, como forma de demonstrar solidariedade aos refugiados do país vizinho.

Em outra frente, a campanha do presidente também pagou ao menos R$ 166 mil para impulsionar, no Google, anúncios de links que dizem que o presidente não é pedófilo. De acordo com aliados, a ideia era conter eventuais prejuízos na internet, ambiente no qual o vídeo de Bolsonaro circulou amplamente.

Os termos utilizados por Bolsonaro no podcast ficaram entre os mais comentados em redes sociais no fim de semana, e a expressão “Bolsonaro pedófilo” chegou a ser a mais popular no Twitter no sábado.

Outro reflexo de como o tema mobilizou a campanha foi a tentativa da primeira-dama Michelle Bolsonaro e da senadora eleita Damares Alves de se encontrarem com as venezuelanas citadas na entrevista.

Seguranças do Planalto chegaram a se deslocar para São Sebastião, na periferia do Distrito Federal, mas a visita não ocorreu após a família venezuelana avisar uma ONG que temia a grande repercussão do caso.

Em 10 de abril de 2021, um sábado, Bolsonaro fez um passeio por São Sebastião e entrou numa casa em que viviam mulheres venezuelanas que fugiram da crise político-econômica no país vizinho. Na ocasião, ele fez uma live na qual criticou as medidas sanitárias então adotadas por governadores contra a Covid.

Não há referências a exploração sexual na transmissão do presidente à época. As cidadãs venezuelanas apresentaram pleitos como a regularização de documentos e a reabertura da fronteira terrestre.

Na entrevista que originou as críticas a Bolsonaro, o objetivo do presidente era reforçar o mote de um suposto risco de o Brasil “virar uma Venezuela” caso Lula vença o segundo turno do pleito presidencial.

A fala do mandatário também foi criticada por sugerir que ele não tomou providências diante de uma situação de exploração sexual de menores. Ainda que a campanha admita a repercussão negativa do caso, o episódio não é visto como definidor na disputa pelo Planalto, segundo o entorno do mandatário.

Pouco depois de 0h de domingo (16), o presidente iniciou uma live em suas redes sociais, durante a qual acusou o PT de distorcer o que ele disse sobre o encontro com as adolescentes. “O PT está tentando me desqualificar, distorcer, como se eu fosse uma pessoa que entrasse naquela casa com outros interesses.”

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado