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Política & Poder

‘Caminhoneiro não é burro e sabe fazer conta’, diz representante sobre novo auxílio

A lei 13.703, sancionada em agosto de 2018, após a greve da categoria que parou o país, institui uma política nacional do Piso Mínimo do Frete

FolhaPress

15/07/2022 19h27

Foto: Reprodução

Felipe Nunes
São José do Rio Preto, SP

A aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que cria um auxílio de R$ 1.000 para caminhoneiros e um benefício de R$ 200 para taxistas, promulgada pelo Congresso na quinta-feira (14), divide opiniões de trabalhadores e representantes das duas categorias.

Enquanto para alguns a medida ajuda a equilibrar as perdas na receita, para outros ela tem um caráter eleitoreiro e camufla um problema maior: a alta no preço dos combustíveis.

A medida libera o pagamento de cinco parcelas do benefício para caminhoneiros autônomos inscritos até 31 de maio no RNTRC (Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas). No entanto, a forma de pagamento ainda precisa de regulamentação.

Os motoristas de táxi cadastrados até 31 de maio de 2022 terão direito a R$ 200 mensais após regulamentação da forma de pagamento, segundo nota oficial do Ministério da Cidadania. Será necessário apresentar o documento de permissão.

Wallace Landim, conhecido como Chorão –um dos principais líderes da greve dos caminhoneiros de 2018–, diz que a criação de um voucher é uma medida eleitoreira e uma tentativa antecipada de o presidente Jair Bolsonaro (PL) “comprar votos” da categoria.

“Mas o caminhoneiro não é burro e sabe fazer conta”, diz. O valor de R$ 1.000 é irrisório para o profissional que atua no transporte rodoviário de carga e beneficia apenas motoristas de veículos leves, afirma.

“O que a gente pede para o governo federal é que eles tenham a responsabilidade e a coragem de retirar o PPI [Preço de Paridade de Importação] e que a agência reguladora responsável fiscalize a lei 13.703. Isso sim, ajudaria muito a categoria.”

A lei 13.703, sancionada em agosto de 2018, após a greve da categoria que parou o país, institui uma política nacional do Piso Mínimo do Frete.

Caminhoneiro autônomo há 17 anos, Salvador Edmilson Carneiro, 51, diz que a medida não ajuda a categoria e tenta apenas mascarar a disparada no preço do diesel. Morador de Riachão do Jacuípe, região metropolitana de Feira de Santana, na Bahia, ele conta que precisou encostar o caminhão, pois com o litro do diesel a R$ 7,40 não está mais compensando fazer fretes.

“A maioria dos caminhoneiros vai quebrar e dar auxílio não adianta, R$ 1.000 por mês para quem gasta R$ 2.000 por dia só de diesel não resolve.”

Caminhoneiro autônomo e diretor da CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística), Carlos Alberto Litti Dahmer diz que o benefício não resolve o problema dos caminhoneiros e que a medida tem apenas interesses políticos.

“Isso é ridículo, caminhoneiro não precisa de esmola. É preciso resolver o problema do preço do combustível, dando dignidade não só para o caminhoneiro, mas também para o restante da população. Dar R$ 0,30 de redução no preço do diesel significa muito mais do que R$ 1.000 mensais”, diz.

Auxílio vai adiar saída da profissão Presidente da ANTB (Associação Nacional de Transportes do Brasil), José Roberto Stringasci é contrário à proposta que institui um benefício temporário para os caminhoneiros e diz nunca ter imaginado que a categoria fosse, um dia, precisar de benefício do governo para trabalhar.

No entanto, ele afirma que o valor será útil para dar uma sobrevida aos trabalhadores que estão abandonando a profissão por conta da alta no preço do combustível.

“Tem muitos motoristas quebrados, quase parando de trabalhar. Para alguns deles, esse dinheiro vai ajudar. Vai ser a tábua salva-vidas até dezembro”, diz. “Só que em janeiro, se cortar o benefício, é bem provável que ele pare de trabalhar.”

Stringasci diz que este é o pior momento vivido pela categoria e acredita que uma mudança na política de preços dos combustíveis poderia ser uma solução. Apesar de útil para alguns, o vale-caminhoneiro de R$ 1.000 não seria suficiente para equilibrar os gastos, afirma o presidente da associação.

Ele calcula que o caminhoneiro de transporte rodoviário percorre, em média, 600 quilômetros por dia e que o consumo diário do caminhão fique em torno de 300 litros de óleo diesel. “Se a gente considerar o preço do litro do diesel a R$ 7, isso dá R$ 2.100 por dia. Aí, ele vem com um auxílio de R$ 1.000, chega a ser brincadeira.”

PARA TAXISTAS, BENEFÍCIO DEVE ALIVAR OS GASTOS

O presidente do SindiTaxi (Sindicato dos Taxistas de São Paulo), Luiz Carlos Capelo, diz que tudo o que vier para melhorar a situação financeira dos taxistas é bem aceito.

Há 40 anos como taxista, Capelo também afirma que o momento atual é um dos piores para os profissionais do ramo, por conta da concorrência com motoristas de aplicativo e com motoristas clandestinos, além do preço do combustível.

“Já passamos por crises antes, mas nunca desse porte. Hoje em dia, para encher o tanque de um carro de 40 litros com gasolina se gasta R$ 245. Para quem trabalha de 8 a 15 horas por dia, acaba com um tanque de combustível por dia.”

Além do auxílio para taxistas, a PEC Kamikase prevê repasse de recursos para evitar aumento de preços no transporte público e subsídios para o etanol.

O motorista Alecsandro Reis Balbino, 49, que diz ser um dos poucos taxistas legalizados no município de São Gonçalo do Sapucaí, região sul de Minas Gerais, é favorável ao novo auxílio.

Há 28 anos na profissão, ele avalia que a categoria enfrenta uma grande dificuldade com a alta no preço dos combustíveis e com a concorrência com os motoristas que atuam dentro e fora dos aplicativos.

“Do jeito que a gente [taxistas] está hoje, tudo o que vier será bem-vindo. Existe muito motorista clandestino e a concorrência é desleal. Então, se não vier esse benefício vai ficar difícil de trabalhar.”
Também há quem discorde da liberação do benefício. Taxista há três anos, o motorista Henrique Ribeiro de Souza, 39, diz ser contra a medida que cria o vale-taxista e que deixa de fora muitas outras categorias de trabalhadores.

“É uma ação totalmente populista. Mas, a gente tem que pensar no que esse dinheiro representa. Para mim, ele representa um cala a boca pra gente não reclamar do leite caro e da gasolina cara.”

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