GUILHERME SETO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) publicou em suas redes sociais um vídeo com informações falsas para criticar o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a respeito de uma suposta seca em trechos da transposição do Rio São Francisco.
O material mostra um homem mergulhando em um canal em Barbalha (400 km de Fortaleza), no Ceará, e diz em legenda que a gravação foi feita em março de 2022, durante o governo Bolsonaro. A ideia é a de mostrar abundância hídrica.
No entanto, a filmagem foi realizada em maio de 2023, já na gestão petista.
Um segundo vídeo, apresentado logo após o primeiro, mostra imagens de um canal seco e as identifica como se fossem do mesmo lugar, no Ceará. A ideia é a de mostrar falta de água.
No entanto, o protagonista do vídeo e morador da região, Rodrigo de Oliveira, 45, afirma ao Painel que o canal em que mergulhou em maio está hoje ainda mais cheio devido às chuvas de setembro na região.
O autor do vídeo original que mostra André mergulhando e que foi manipulado por Bolsonaro é André do Cariri, 29, youtuber que é criador do canal Jeito Nordestino.
Ele conta que estava na cidade de Barbalha para gravar o corte da árvore cujo tronco é exibido na tradicional Festa do Pau da Bandeira e então filmou Oliveira entrando no canal do chamado Cinturão das Águas, no Ceará.
O vídeo publicado por Bolsonaro leva, inclusive, uma tarja branca que esconde o crédito do Jeito Nordestino.
Daniela Alexandre, 27, esposa de Oliveira, também diz à coluna que, diferentemente do que afirma o vídeo compartilhado pelo ex-presidente, o canal hoje tem mais água do que na época da gravação, em maio.
“Moro a um minuto de distância do canal, de moto. Hoje tem até peixe, as pessoas vão ali pescar, está bem profundo. Até proibiram o mergulho depois que algumas pessoas se afogaram ali. O nível está bem alto nos últimos meses”, diz Daniela.
O deputado federal Pedro Campos (PSB-PE), coordenador da Frente Parlamentar em Defesa do Nordeste, diz não se surpreender com o uso de informações falsas por parte de Bolsonaro para falar da transposição.
“A desinformação sobre este tema é recorrente no bolsonarismo. Por sorte, o povo que vive às margens do canal sabe a verdade e mostrou isso nas urnas”, afirma o parlamentar.
