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Política & Poder

Bolsonaro atuou ‘com requintes de sadismo’ promovendo atos, diz presidente da OAB

Orientado a ficar em isolamento até refazer testes para o coronavírus, Bolsonaro cumprimentou apoiadores que se manifestavam no Palácio do Planalto.

Redação Jornal de Brasília

15/03/2020 17h24

Brazilian President Jair Bolsonaro speaks to the press while leaving the Forum Of The Americas at the InterContinental Miami in Miami, Florida on March 10, 2020. (Photo by Zak BENNETT / AFP)

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro atentou contra a democracia neste domingo, 15, ao promover as manifestações pró-governo em meio à pandemia de coronavírus no País. “Com requintes de sadismo”, completou Santa Cruz.

“O pensamento egoísta de quem não se considera no grupo de risco parece incapaz de ultrapassar o raciocínio mais básico de que ninguém é uma bolha; e que todos cercamos pessoas para as quais a contaminação pode, sim, representar mais que uma gripe qualquer”, afirmou. “As renúncias que este momento exige são uma demonstração de compromisso com o coletivo”.

Orientado a ficar em isolamento até refazer testes para o coronavírus, Bolsonaro cumprimentou apoiadores que se manifestavam no Palácio do Planalto. O presidente chegou a usar o telefone celular de algumas pessoas para tirar selfies ao lado delas, além de cumprimentá-las com as mãos abertas. Em alguns momentos, chegou a colar o rosto ao de apoiadores para fazer fotos.

Além de participar do ato em Brasília, Bolsonaro passou o dia compartilhando vídeos e fotos sobre as manifestações no Twitter. Em uma delas, era possível ler faixas ‘Fora Maia’, em referência ao presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), ‘Fora STF’ e ‘SOS Forças Armadas’. Bolsonaro identificava a imagem como sendo de Maceió, Alagoas. A foto foi apagada da conta de Bolsonaro.

Santa Cruz escreveu que a promoção dos atos por parte de Bolsonaro “dolosamente aumenta o risco de um pico de contágio pelo coronavírus”. “Em um momento de união e prudência, todas as instituições estão se reunindo para suspender eventos, encontros e reuniões, cujas importâncias ficam absolutamente relativizadas diante do interesse maior de proteger nossa população e nosso sistema de saúde”.

Bolsonaro x Santa Cruz

Bolsonaro e Santa Cruz têm um histórico longo de desavenças. Tudo começou em 2011, quando o então deputado federal afirmou em palestra na Universidade Federal Fluminense (UFF) que Fernando Santa Cruz, pai do atual presidente da OAB, teria morrido “bêbado” após pular o carnaval. Militante do grupo “Ação Popular”, Fernando foi preso pelo governo em 1974 e nunca mais foi visto.

À frente da OAB-Rio, Felipe iniciou movimento em 2016 para pedir ao Supremo Tribunal Federal a cassação do mandato de deputado federal de Jair Bolsonaro por “apologia à tortura”. Ao votar pelo impeachment de Dilma Rousseff, o então parlamentar fez uma homenagem a Carlos Brilhante Ustra, que comandou o DOI-Codi de São Paulo, centro de tortura durante a ditadura.

No ano passado, já presidente, Bolsonaro falou que poderia “contar a verdade” sobre como o pai de Felipe Santa Cruz desapareceu na ditadura militar.

“Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade”, disse. Bolsonaro questionava a atuação da OAB ao falar das investigações sobre Adélio Bispo, responsável pela facada contra o presidente em 2018. Adélio foi considerado inimputável pela Justiça por transtorno mental. O presidente não recorreu.

Em resposta na época, Santa Cruz afirmou que as declarações de Bolsonaro demonstravam “crueldade e falta de empatia”. “Lamentavelmente, temos um presidente que trata a perda de um pai como se fosse assunto corriqueiro – e debocha do assassinato de um jovem aos 26 anos”, diz.

Estadão Conteúdo 

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