Menu
Política & Poder

Barra da Tijuca, a ‘Miami brasileira’, reduto do bolsonarismo no Rio

Enquanto no resto da cidade a vitória de Bolsonaro foi mais apertada, na Barra o presidente ganhou com 50% dos votos

Redação Jornal de Brasília

14/10/2022 16h01

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Ao longo da Avenida Lúcio Costa, contínua à praia, motoristas em carros de luxo cumprimentam com buzinaços um homem que vende bandeiras do Brasil em frente à casa onde Jair Bolsonaro morava antes de ser eleito presidente. No bairro da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, o bolsonarismo paira no ar.

Apelidada de a “Miami brasileira”, este bairro abastado, distante 30 km do centro da cidade, é conhecido pelos apartamentos luxuosos, condomínios fechados, centros comerciais modernos, torres de escritórios e suas belas praias com mar cor de esmeralda.

Enquanto no resto da cidade Bolsonaro (PL) venceu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por 47% a 43% dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais, na Barra a vitória foi mais folgada – 50% a 37% -, uma preferência visível nas varadas enfeitadas com bandeiras do Brasil, há anos associadas aos apoiadores do presidente.

“Eu vejo as pessoas aqui ideologicamente muito ligadas [a Bolsonaro] e a maioria defende porque aqui na Barra tem muito empresário” afirma à AFP o economista Felipe Fontenelle, de 58 anos, dono de uma empresa de segurança em comunicações e sócio de dois restaurantes.

Projetado em 1969 pelo urbanista Lúcio Costa, que desenhou Brasília juntamente com Oscar Niemeyer, o bairro se assemelha à capital modernista em suas amplas vias expressas, nos bucólicos jardins tropicais e no carro como meio de transporte por excelência.

Após um ‘boom’ demográfico a partir dos anos 1980, consolidou-se como a residência de muitas celebridades, políticos, empresários e outros membros da classe média-alta e alta emergente, que buscavam se refugiar da violência no restante da cidade em seus condomínios fechados.

Sua pujança foi coroada com a construção do Parque e da Vila Olímpicos durante os Jogos do Rio-2016 e a extensão da linha do metrô até o Jardim Oceânico, na entrada do bairro.

“É um bairro de novos ricos, e principalmente de pessoas que acreditam na ideia do ‘self made man’, de que eles trabalharam, conseguiram”, disse à AFP Paulo Gracino Júnior, doutor em Sociologia e professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), da Universidade Cândido Mendes (UCAM).

Filho de um coronel reformado do Quadro de Estado-Maior do Exército (Q.E.M.E.), Fontenelle apoia Bolsonaro por sua política econômica, mas também por sua aversão ao “comunismo”.

“Assim como meu pai me falou em 1989 [quando Lula se candidatou à Presidência pela primeira vez] como seria o governo do PT, eu falo hoje em dia: o próximo governo do PT vai ser um caos de desastre pro Brasil, vai ser um retrocesso total”.

O condomínio de Bolsonaro

Foi em um dos condomínios de frente para o mar que Jair Bolsonaro e sua família foram morar no fim dos anos 2000, quando ele era deputado federal e dividia sua semana entre o Rio e Brasília.

“É meu amigo. Todos nos aqui conhecemos Bolsonaro muito bem, tanto é que quando ele foi tomar posse, me chamou na casa dele tomar um café”, conta Cacalo Matarazzo, advogado e professor de ‘jiu-jitsu’ de 73 anos, que mora em um prédio vizinho ao condomínio Vivendas da Barra, onde fica a casa que ainda pertence à família Bolsonaro.

“Mas não é o Bolsonaro, é a situação de um cara que tentou fazer um Brasil melhor. Essa é minha grande preocupação”, afirma Matarazzo, calvo e corpulento, após exibir várias fotos com o presidente, guardadas em seu celular.

A Barra da Tijuca, onde segundo o último censo (de 2010), moram mais de 135.000 pessoas, reúne, ao mesmo tempo, “empreendedores, empresários, profissionais liberais de primeira ou segunda geração, militares de patente mais alta… e também contraventores”, como o policial militar reformado Ronnie Lessa, acusado de executar a vereadora Marielle Franco em 2018 e que era vizinho de Bolsonaro, lembra Gracino Junior.

O condomínio do presidente é protegido por um muro de cimento, arame farpado e uma barreira de segurança que controla a entrada e a saída de veículos.

Desde 2018, tornou-se ponto de encontro durante a apuração de votos na eleição e também local de peregrinação para bolsonaristas.

De tempos em tempos, alguém para para tirar uma foto em frente ao condomínio, como a advogada aposentada Mirian Rebelo, de 65 anos, e seu filho, Rodrigo, um dentista de 41.

Originários de Santa Catarina, eles vieram ao Rio para um Congresso e se hospedaram em um hotel próximo.

“O presidente enfoca muito a família, cuida das pessoas. Não tem meias palavras (…) Ele diz o que acha que é certo”, diz Mirian, de cabelos castanhos com luzes, grandes óculos escuros e uma camiseta Tommy Hilfiger.

“Combate a corrupção e a ideologia do mal. Acho que toda nação merecia um Bolsonaro”, complementa seu filho.

Junto das bandeiras do Brasil e de um totem com uma foto gigante do presidente, o vendedor em frente também vende bonecos infláveis com uma caricatura de Lula vestido de presidiário, os “pixulecos’. “Pilantra, safado, canalha”, diz Matarazzo sobre o ex-presidente.

© Agence France-Presse

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado