THAÍSA OLIVEIRA E CATIA SEABRA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
Indicado ao STF (Supremo Tribunal Federal), o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), disse a aliados que está à disposição para conversar com todos os senadores, sem restrições, seguindo um conselho dado pelo próprio presidente da República.
Segundo relatos, antes do anúncio oficial, nesta segunda (27), Lula (PT) e o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), recomendaram que Dino se colocasse como candidato e buscasse, um por um, seus 81 potenciais eleitores.
Com o sinal verde de Dino, Wagner e o relator da indicação, senador Weverton Rocha (PDT-MA), começaram a fazer as pontes nesta terça (28). Tanto Wagner como Rocha procuraram o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) para ensaiar uma aproximação.
O líder do governo também pediu votos ao líder da oposição, Rogério Marinho (PL-RN), que foi ministro no governo Jair Bolsonaro (PL). Flávio Bolsonaro e Marinho responderam, no entanto, que não gostam do estilo de Dino e sinalizaram que pretendem manter o voto contrário.
Apesar das ressalvas feitas pelo núcleo bolsonarista, o governo aposta em uma espécie de “efeito manada”. A avaliação política é de que, mesmo a votação sendo secreta, indecisos acabam aderindo ao candidato por medo de ficarem marcados pelo futuro ministro do STF.
Rocha disse que Dino tem hoje ao menos 50 votos, mas pode chegar a ter entre 58 e 62. Em junho, Cristiano Zanin foi aprovado pelo Senado para a vaga do ministro Ricardo Lewandowski por 58 votos a 18 –17 a mais que os 41 necessários.
“A construção é feita de baixo para cima. Primeiro você repactua [com aliados], pega na mão, olha nos olhos. Aí você vai avançando território. Tenho certeza que ele, com a experiência que ele tem, está fazendo essa construção”, disse Rocha.
O senador acrescentou: “Ele precisa conversar individualmente com todos. Repito: tem colega senador que não vai votar nele. Mas não tem por que ele não conversar com esse colega. Até porque tem que haver essa institucionalidade e esse respeito mútuo”.
O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que a base está “muito convicta” de que Dino será aprovado. Rodrigues ofereceu um jantar ao ministro e aliados em sua casa nesta terça.
Governistas têm tratado a indicação de forma descontraída, afastando as ameaças da oposição. Um dos senadores da base fez piada com os colegas dizendo que, se eles não gostam de Dino, devem votar a favor dele e manter no Senado sua suplente, Ana Paula Lobato (PSB-MA).
Já Wagner tem argumentado que a indicação ao STF é prerrogativa do presidente e que o PT não se opôs aos escolhidos no governo Bolsonaro, Kassio Nunes Marques e André Mendonça. Nesta segunda, o senador disse à Folha de S.Paulo que está à vontade para cobrar reciprocidade.
Wagner pretende conversar nesta quarta (29) com o procurador Paulo Gonet, indicado por Lula à PGR (Procuradoria-Geral da República). O líder do governo é relator da indicação de Gonet no Senado.
Dino e Gonet serão sabatinados no mesmo dia, 13 de dezembro. A data conjunta foi anunciada pelo presidente da Comissão de
Constituição e Justiça, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). A expectativa é que a votação no plenário ocorra entre os dias 13 e 14.
Além do calendário apertado até o final do ano, a data conjunta deve diminuir o tempo de sabatina de Dino e Gonet. Em outubro, Alcolumbre usou a mesma estratégia com os três indicados ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) e fez com que fossem sabatinados ao mesmo tempo.