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Política & Poder

A foto mais difícil do mundo

Casaco marrom quase derruba pauta de jornal paulista durante Plano Cruzado

Gustavo Mariani

09/04/2023 11h54

Quando lançou o Plano Cruzado, em 28 de fevereiro de 1986, o presidente da república, José Sarney, arrebentou a popularidade nacional, que não suportava mais tanta carestia, principalmente, nos alimentos. Ficou famosa, pela TV, a imagem de um homem, em Curitiba-PR, fechando um supermercado, acusado de remarcador diário de preços. Por ali, surgiram os “Fiscais do Sarney”.

Já que o presidente recebia apoio de mais e mais celebridades de todas as vertentes das vida nacional, o Palácio do Planalto passou a agendar convites para o café da manhã, com o “Chefe”, a fim de este agradecer os mimos e ganhar bem mais espaços na mídia. Assim foi que, entre muitos “agradecidos”, foram convidados Don Luciano Mendes de Almeida, presidente das Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB; os economistas Maria da Conceição Tavares e Roberto Campos; a atriz Regina Duarte (dona da maior popularidade “brazuca” da época, por conta do personagem Porcina, da novela Roque Santeiro, da TV Globo), e o treinador Telê Santana, que comandaria a Seleção Brasileira durante a Copa do Mundo-1986. Além desses, o cantor Roberto Carlos, o mais famoso dos apoiadores do Plano Cruzado e que fazia grande sucesso com o a canção “Apocalipse”, com estes versos: “Muitos não querem ver/Mentes em eclipse/Mas tudo está escrito/No apocalipse”.

Rolava o sucesso do Plano Cruzado e, lá pelas tantas, o “Rei da Música Popular Brasileira” (como as rádios se referiam ao Roberto), veio a Brasília trazer o seu show “Emoções”. Negociaram um café da manhã entre ele e o presidente Sarney, que tocava violão e gostava de cantar bolero e os samba-canção, com ficando em segredo, como pedia o empresário do Roberto, Dodi Sirena, atendendo exigência do parceiro. No entanto, o jornal Folha de São Paulo descobriu o “ barato” e encheu o saco de Fernando César Mesquita, o porta-voz presidencial, para cobrir o encontro. Terminou conseguindo.

Chegam, então, o repórter Josias de Sousa (se não me engano) e o fotógrafo Moreira Mariz para cumprirem a pauta. Este, no entanto, não conseguia fazer foto nenhuma, pois o Roberto virava o rosto, mudava de posição, de lado, enquanto o Sarney não sorria. Era uma dupla fechadona. O Moreira, então, perguntou ao Fernado César Mesquita o que estava acontecendo. “Fernando! O presidente e Roberto Carlos estão igual ao time do “Galo”, na retrancas. Torcedor do Atlético Mineiro, o “Galo”, ele ouviu: “É que você está usando um terno marrom”, cor que assombra o presidente e o cantor”.

Sem problemas: Moreira pediu, emprestado o paletó branco de um garçom do palácio e tudo mudou. Logo, Sarney e Roberto abriram sorrisos e ele fez quantas fotos quis. Quando o repórter terminou de fazer perguntas, o criativo Moreira Mariz lembrou-se do Roberto Carlos dos antigamentes, na TV, anunciando Erasmo Carlos pra cantar. Então, emborcou-se e mandou ver: “Acabei de fotografar o meu amigo, Roberto Carlos, mandei uma brasa, mora?

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