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Peça explode texto clássico de Strindberg com a descoberta do amor lésbico

De um lado, está Senhora X, uma mulher casada, recatada e conservadora. Do outro, Senhorita Y, feminista e livre de amarras

FolhaPress

27/03/2023 15h37

Foto: Divulgação

São Paulo – SP
Gustavo Zeitel

Para todo desejo negado, nasce um medo. E há quem viva assim, acorrentada, cultivando fantasmas, como se enganasse o destino. É uma queda de braço, eu contra eu, você contra você mesmo. Ou duas mulheres em cena, que poderiam ser uma só, como na peça “Senhora X, Senhorita Y”, escrita pelo Damas Coletivo, agora em turnê por São Paulo.

Em cena, duas forças opostas se chocam. De um lado, está Senhora X, personagem de Ana Paula Lopez, uma mulher casada, recatada e conservadora, que aceita o comportamento feminino imposto pelo patriarcado.

Do outro, Senhorita Y, papel de Sol Faganello, imerge nos debates contemporâneos, sendo feminista e procurando o próprio desejo, livre de amarras. Ao longo da peça, acompanhamos a descoberta da identidade da Senhorita Y, que se declara lésbica.

Desde o início, Senhora X teme sua opositora, amante de seu marido. Ao longo do texto, o medo, que à primeira vista seria da outra, se multiplica em vários e volta para a própria personagem. “Senhora X, Senhorita Y” é uma paráfrase do clássico “A Mais Forte”, do dramaturgo sueco August Strindberg, publicado em 1889.

“É uma explosão do texto de Strindberg, tirando as duas mulheres do contexto de competição e dos papéis de mulher ou amante, como a obra, hoje datada, propunha”, afirma a diretora Silvana Garcia. Não à toa, as personagens são intercambiáveis, as duas atrizes trocam de papéis ao longo da peça, cada uma vivendo na pele as angústias da outra.

Com “A Mais Forte”, Strindberg deu um passo determinante no seu chamado teatro íntimo, contando uma história numa única cena. Na véspera de Natal, uma senhora vai até a casa de chá e encontra sua rival na carreira de atriz, que é também amante de seu marido.
Então, desata a falar sobre as conquistas da sua vida para sua inimiga, numa disputa para quem seria a mulher mais forte entre as duas. Embora as duas atrizes estejam em cena, a peça de Strindberg é um monólogo exemplar –a amante fica o tempo todo em silêncio.

Nascido em Estocolmo, em 1849, Strindberg é autor de clássicos do teatro ocidental, como “Senhorita Júlia”, de 1951, e “Mestre Olof”. Escreveu mais de 60 peças e 30 livros, entre romances e contos. Ao lado de Henrik Ibsen e Hans Christian Andersen, é um dos autores da Escandinávia, tendo influenciado Eugene O’Neill, Ingmar Bergman e Jorge Luis Borges. Strindberg morreu em 1912, na capital sueca, vítima de uma pneumonia.

“Ele tinha uma visão misógina”, afirma Garcia. “Para Strindberg, a mulher casada é sempre melhor, a mulher que venceu na vida.” Já em “Senhora X, Senhorita Y”, que estreou ainda em 2018, as duas personagens falam, sendo que, quando fala, Y soa verborrágica, rompendo séculos de silenciamento.
A comicidade do texto de Strindberg se transmuta num humor que explora o paroxismo e o nonsense, explorando também códigos da contemporaneidade e, sobretudo, das questões de gênero do mundo atual. Durante a pandemia, a peça ganhou uma versão online e enfrentou os desafios da descoberta de uma linguagem híbrida, incorporando elementos do cinema.

Além das duas atrizes em cena, Camila Couto se vale de instrumentos da cozinha, lugar historicamente ocupado pelas mulheres, para fazer uma performance musical. São garfos, facas, batedeiras, que interagem com o que ocorre no palco. Em dado momento, Couto entoa uma composição própria. Noutro, as atrizes se juntam para interpretar um hit radiofônico, daqueles melosos que versam sobre o desamor.

“A música ora sublinha o que fazemos em cena, ora dita as nossas marcações no texto, imprimindo o próprio ritmo da que se desenrola”, diz Faganello.

SENHORA X, SENHORITA Y
Quando Até 9/4; qui. a sáb. 20h; dom. 18h
Onde Teatro Arthur Azevedo – av. Paes de Barros, 955 – São Paulo
Preço Grátis
Classificação 12 anos
Autor Damas Coletivo – Silvana Garcia, Sol Fagananello e Ana Paula Lopez
Elenco Sol Faganello, Ana Paula Lopez e Camila Couto
Direção Silvana Garcia

SENHORA X, SENHORITA Y
Quando 11/4 a 14/4; ter. a sex. 20h
Onde Oficina Oswald de Andrade; r. Três Rios, 363
Preço Grátis
Classificação 12 anos
Autor Damas Coletivo – Sol Faganello, Ana Paula Lopez e Silvana Garcia
Elenco Sol Faganello, Ana Paula Lopez e Camila Couto
Direção Silvana Garcia

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