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Opinião

Empresas apostam cada vez mais na capacitação como ferramenta de inclusão

A Wise Hands é uma startup que usa tecnologia e dados para promover a inclusão das Pessoas com Deficiência no mercado de trabalho

Redação Jornal de Brasília

30/07/2023 11h13

Foto: Agência Brasil

Por Simone Salles

É senso comum as pessoas desejarem que suas crianças cresçam com saúde, brinquem, estudem, tenham amigos, consigam um bom emprego, viajem, encontrem um amor… mas nem sempre é assim. Se realizar qualquer um desses desejos pode ser difícil para alguém sem deficiência, provavelmente será ainda mais complicado para uma Pessoa com Deficiência (PcD). No mês em que a Lei Brasileira de Inclusão, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, completa 8 anos, há avanços, mesmo que tímidos, rumo à mudança de paradigmas e perspectivas sobre a deficiência e sua inclusão na sociedade. Entre esses avanços, estão iniciativas inovadoras de empresas na capacitação de mão de obra.

Esse é o caso do programa Transforme-se, que tem como objetivo estimular o aprendizado de Pessoas com Deficiência que queiram desenvolver suas carreiras na área de programação e dados.

O programa, uma parceria da Serasa Experian com a Wise Hands, está em sua terceira turma. Destina-se a pessoas com deficiência, que possuam laudo médico, com idade igual ou maior que 18 (dezoito) anos na data de inscrição, com ensino médio completo e que sejam residentes no Brasil.

A Serasa Experian, líder em serviços de informação, está entre as empresas mais inovadoras do país, segundo o Valor Inovação de 2022. Busca desenvolver pessoas em situação de vulnerabilidade econômica e de grupos sub-representados nas áreas de tecnologia, contribuindo diretamente para a inclusão social e a diversidade em um setor que só cresce. Desde janeiro de 2022, mais de 100 alunos foram formados em cursos oferecidos, entre jovens de escolas públicas e mulheres buscando seu espaço no mercado de trabalho. Agora, é a vez das Pessoas com Deficiência impulsionarem suas carreiras.

A Wise Hands é uma startup que usa tecnologia e dados para promover a inclusão das Pessoas com Deficiência no mercado de trabalho, por meio da educação com acessibilidade e da conexão com empresas inclusivas. As soluções digitais e acessíveis ajudam empresas a recrutar e a contratar Pessoas com Deficiência por suas habilidades e seu potencial.

Ao todo, na última edição,160 PcD escolhidas após um processo de seleção com fases eliminatórias e/ou classi?catórias, ganharam bolsas de estudos 100% gratuitas no curso de programação e dados, no formato remoto (aulas interativas com professores especialistas, online ao vivo), em período noturno e com duração de aproximadamente 8 meses.

As turmas foram divididas de acordo com a deficiência apresentada em laudo médico – visual, auditiva e motora. Para cada deficiência, foi disponibilizada a acessibilidade necessária para o aluno aproveitar por completo a formação. A 1ª fase do curso incluiu Informática Básica, Rotinas Administrativas e Lógica de programação. A 2ª fase, aprendizagem no desenvolvimento na linguagem Java e em Python. Durante o curso, os bolsistas podiam se candidatar a vagas na empresa. Após a conclusão do programa, cerca de 50% deles conseguiram emprego ou melhoraram sua situação salarial.

Amanda Danziger Siqueira, consultora educacional do Grupo SOITIC e parceira da Wise Hands, ressalta que as pessoas com deficiência representam uma parcela significativa da população, mas continuam sendo um dos grupos mais excluídos. “A falta de acessibilidade na educação interfere negativamente na capacidade produtiva das PcD e, consequentemente, na sua futura contratação. Elas acabam ficando para trás em termos educacionais, assinala Amanda.

Pesquisa Nacional de Saúde realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde, em 2019, apontou que 17,3 milhões de pessoas com dois anos ou mais de idade tinham algum tipo de deficiência.

Segundo o Estatuto, PcD é aquela que possui comprometimento de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, a longo prazo, capaz de dificultar sua participação na sociedade em igualdade de condições com os demais indivíduos.

Apenas 28,3% das pessoas com deficiência em idade de trabalhar (14 anos ou mais) estavam na força de trabalho, ante 66,3% daquelas sem deficiência. Cerca de 67,6% da população com deficiência não tinham instrução ou tinham o ensino fundamental incompleto, percentual que era de 30,9% para as pessoas sem nenhuma das deficiências investigadas.

Para agravar esse quadro, erroneamente existe uma tendência de associar deficiência com a parte cognitiva. Nesse contexto, destaca Amanda, a ideia da iniciativa é ajudar os empresários a manterem negócios verdadeiramente inclusivos e livres de preconceitos; recrutar e capacitar pessoas com deficiência para o mercado de trabalho; oferecer serviços como termo de ajuste de condutas, qualificação dos colaboradores, sensibilização e letramento das equipes, além de disponibilizar o maior banco de talentos PcD qualificados para integrar uma equipe diversa e talentosa. “Por vezes, a única opção que uma Pessoa com Deficiência tem é ocupar uma vaga abaixo de seu potencial por falta de formação ou por preconceito mesmo. Já passou da hora de mudarmos essa realidade”, finaliza.

O engenheiro Pedro Henrique Souza, que ministrou o módulo sobre linguagem de programação de alto nível Python, na segunda fase do curso, confessou que a iniciativa trouxe para ele a oportunidade de se conectar pela primeira vez profissionalmente com um grupo todo formado por PCD. Segundo Pedro, “ensinar é sempre muito bom, mas alavancar a carreira das pessoas com deficiência, promovendo respeito e inclusão, reduzindo a lacuna entre o baixo acesso da PcD às oportunidades de trabalho e a alta necessidade de profissionais no mercado de TI, aí sim, é tudo de bom! Foi uma experiência empolgante para todos nós”.

Os alunos também concordam. Elisangela Bittencourt, deficiente motora, afirma que são projetos como esse que ajudam as PcD a superar a principal barreira à sua formação profissional: a educação. Na avaliação da aluna, “poder contar com a equipe do projeto nessa jornada fez toda a diferença. Sozinha, sem cada aprendizado e estudo diários, seria impossível chegar onde estou hoje. Vou levar pra sempre os ensinamentos e cada um que transformou a minha vida”, comemora.

*Jornalista, Mestre em Comunicação Pública e Política

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