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Zelenski participa de cúpula do G-7 e pressiona Brasil e Índia contra Rússia

A cúpula deste ano tem como foco tratar da agressão da Rússia contra a Ucrânia, bem como da influência da China no mundo

Redação Jornal de Brasília

19/05/2023 21h25

Foto: Presidência da Ucrânia/Divulgação

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, vai viajar para a cúpula do G-7 neste fim de semana para pedir mais ajuda em armamentos para as democracias mais ricas do mundo e pressionar os convidados neutros no conflito como Brasil, Índia e Indonésia Sua participação na reunião já era confirmada por videoconferência, mas nesta sexta-feira, 19, ele informou que deve chegar ao Japão no domingo e já solicitou uma reunião bilateral com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Sua participação na reunião do Grupo dos Sete ocorrerá após sua primeira visita à Arábia Saudita, onde participou de uma cúpula da Liga Árabe e implorou aos países para não se curvarem à influência russa. O ucraniano iniciou uma nova rodada de viagens diplomáticas na intenção de obter apoio internacional antes de uma contraofensiva ucraniana contra posições russas no leste do país.

A cúpula deste ano tem como foco tratar da agressão da Rússia contra a Ucrânia, bem como da influência da China no mundo. O Brasil, que tem uma posição de neutralidade no conflito da Ucrânia, foi um dos países de fora do grupo a ser convidado para a cúpula, junto com Índia e Indonésia, também neutros. A chegada de Zelenski ao Japão promete lançar mais pressão para que esses países se aproximem da Ucrânia.

O jornal americano Financial Times foi o primeiro a noticiar a viagem de Zelenski à cúpula, “para aproveitar a oportunidade para fazer lobby em participantes [da cúpula] de fora do G-7, como Índia e Brasil”. Há uma expectativa de autoridades do G-7 que a presença de Zelenski torne mais difícil para os países convidados manter a neutralidade no conflito.

Logo após a confirmação da viagem, autoridades ucranianas entraram em contato com a diplomacia brasileira solicitando um encontro bilateral entre Lula e Zelenski, ainda não respondida pelo Brasil.

Os dois líderes já conversaram por chamada, depois de declarações polêmicas do presidente brasileiro sobre a guerra. Na semana passada, o ucraniano se encontrou com o assessor especial Celso Amorim, que também se reuniu com Vladimir Putin em Moscou. O ponto de maior tensão na posição brasileira sobre a Ucrânia foi quanto ao pedido de armamentos ao Brasil.

Segundo revelou o The New York Times em abril, a Ucrânia fez pelo menos dois pedidos ao Brasil para comprar uma longa lista de armamentos que incluía veículos blindados, aeronaves, sistemas de defesa aérea, morteiros, rifles de precisão, armas automáticas e munições. O Brasil, porém, ignorou os pedidos. Em uma visita do chanceler alemão Olaf Scholz a Brasília, Lula deixou claro que o Brasil não vai fornecer armas à Ucrânia.

“É uma tentativa legítima do Zelenski [pressionar por apoio de Lula], mas não vejo isso como tendo grandes efeitos, até porque o Brasil não é o único país convidado que tem uma posição de neutralidade”, ressalta Vinícius Vieira, professor de Relações Internacionais na FAAP e FGV. “Se houver realmente um encontro, cabe ao Lula ouvir o Zelenski, mas é pouco provável, para não dizer impossível, que o Brasil mude sua posição em função apenas desse encontro.”

“O mais constrangedor pro Brasil na questão da Ucrânia até agora foi o pedido de materiais militares. Não acho que o Brasil vai fornecer em algum momento, porque pode implicar numa perda de neutralidade que seria muito ruim para a pretensão brasileira de atuar como mediador”, completa.

Mais ajuda à Ucrânia

Apesar dos esforços do primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, de que o encontro do G-7 não se transforme totalmente em uma cúpula sobre a Ucrânia apenas, os chefes de governo do Japão, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha e Itália falarão nos próximos três dias sobre todas as dimensões da guerra. Eles pretendem discutir a aplicação de sanções, entrega de mais armas a Kiev e a possibilidade de negociações sobre um tratado de paz.

Oleksi Danilov, chefe do conselho de defesa nacional da Ucrânia, anunciou a viagem de Zelenski em rede nacional na sexta-feira. “Coisas muito importantes serão feitas lá; portanto, a presença física de nosso presidente é importante para defender nossos interesses”, disse. “Fornecer propostas claras e argumentos claros sobre os eventos que ocorrem no território de nosso país “

Em Hiroshima, Zelenski também deve se encontrar com o Joe Biden, que nessa sexta disse a seus aliados que permitiria que pilotos ucranianos fossem treinados em caças F-16 fabricados nos Estados Unidos. Os caças são um desejo antigo de Zelenski.

Autoridades americanas disseram ao NYT que Biden está disposto a permitir que outros países deem F-16 à Ucrânia. Não ficou claro, porém, quando essa aprovação pode ocorrer. Alguns países europeus que possuem os caças disseram que gostariam de fornecer os jatos para a Ucrânia.

O apoio de Biden ao treinamento de pilotos ucranianos em caças avançados serve como um precursor para enviar os jatos para a Ucrânia pela primeira vez. Mas as decisões sobre quando, quantos e quem fornecerá os caças serão tomadas nos próximos meses, enquanto o treinamento estiver em andamento, disse Biden aos líderes.

Os líderes do G-7 também usarão sua cúpula para lançar uma nova onda de sanções globais contra Moscou, bem como planos para aumentar a eficácia das penalidades financeiras existentes destinadas a restringir o esforço de guerra do presidente Vladimir Putin.

“Nosso apoio à Ucrânia não vai vacilar”, disseram os líderes do G-7 em um comunicado divulgado após reuniões a portas fechadas. Eles prometeram “ficar juntos contra a guerra de agressão ilegal, injustificável e não provocada da Rússia contra a Ucrânia”. “A Rússia começou esta guerra e pode acabar com esta guerra”, disseram eles.

Cúpula da Liga Árabe

A ida de Zelenski ao G-7 ocorre após uma visita surpresa a Jeddah, na Arábia Saudita, para participar da cúpula anual da Liga Árabe, onde se dirigiu a países que mantêm relações calorosas com a Rússia. Em seu discurso, Zelenski apelou aos governantes para ajudar a salvar os ucranianos “das jaulas das prisões russas”.

“Infelizmente há alguns no mundo, e aqui entre vocês, que fecham os olhos para essas jaulas e anexações ilegais”, disse ele. “Estou aqui para que todos possam olhar honestamente, não importa o quanto os russos tentem influenciar.”

Suas observações pareciam especialmente pontuais, visto que pela primeira vez em mais de uma década, os líderes árabes estavam dando as boas-vindas ao líder sírio Bashar al-Assad, que dependia fortemente do apoio militar russo para travar uma guerra na Síria. Ele havia sido amplamente evitado, regional e internacionalmente, desde 2011, quando começou a reprimir violentamente a revolta da Primavera Árabe na Síria, usando armas químicas contra seu próprio povo em alguns pontos de uma guerra civil que matou centenas de milhares.

Apesar da pressão dos Estados Unidos, muitos países árabes evitaram tomar partido desde que Moscou invadiu a Ucrânia há quase 15 meses, dizendo que não querem ser arrastados para uma competição entre superpotências e devem ser capazes de buscar seus próprios interesses.

As autoridades sauditas tentaram manter boas relações com ambas as partes no conflito. Eles prometeram US$ 400 milhões em ajuda à Ucrânia, mesmo coordenando com a Rússia e outros produtores de petróleo do cartel Opep+ para aumentar os preços da energia, irritando as autoridades americanas.

Zelenski foi convidado para a cúpula pela Arábia Saudita, onde se encontrou com o líder do reino, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Estadão Conteúdo

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