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Washington perde paciência com aliado Israel na guerra em Gaza

A Faixa de Gaza tem sido bombardeada diariamente desde o início do conflito, em 7 de outubro, exceto por uma breve trégua humanitária

Redação Jornal de Brasília

13/12/2023 19h48

Foto: Menahem KAHANA / AFP

Os Estados Unidos não têm a intenção de questionar o apoio a Israel, mas estão ficando cada vez mais exasperados com a maneira como a guerra em Gaza está sendo conduzida, a ponto de demonstrarem publicamente suas discordâncias com o governo conservador de Benjamin Netanyahu.

Ao citar um “bombardeio indiscriminado” e a possível “erosão” do apoio internacional a Israel, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, expôs sua crescente frustração com o primeiro-ministro israelense, e sua administração inclusive começa a falar sobre um “calendário” para as operações militares de alta intensidade em andamento.

As advertências têm aumentado nas últimas semanas: funcionários do alto escalão dos Estados Unidos, como a vice-presidente Kamala Harris e o secretário de Estado, Antony Blinken, disseram que o número de civis palestinos mortos é “muito alto” e que há uma “lacuna” entre os compromissos de Israel e a realidade no terreno.

A Faixa de Gaza tem sido bombardeada diariamente desde o início do conflito, em 7 de outubro, exceto por uma breve trégua humanitária no final de novembro.

O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, resumiu recentemente o dilema que emerge: “Neste tipo de luta, o centro de gravidade é a população civil. E se você a empurra para os braços do inimigo, está trocando uma vitória tática por uma derrota estratégica”.

No entanto, Washington, o principal aliado diplomático e militar de Israel, evita criticar Tel Aviv diretamente e publicamente, rejeitando também os apelos a um cessar-fogo até que o Hamas seja derrotado, apesar da pressão internacional.

De fato, a posição dos Estados Unidos parece um tanto isolada, como evidenciado pelo voto esmagador na Assembleia Geral da ONU na terça-feira a favor de um cessar-fogo desse tipo.

“Calendário”

Desde o início do conflito, causado pelo ataque do movimento islamista palestino em solo israelense, os Estados Unidos têm tentado influenciar seu aliado tanto para desbloquear a ajuda humanitária para os habitantes de Gaza, quanto para a libertação dos reféns sequestrados pelo Hamas no dia do ataque, ou mesmo para incentivar Israel a adotar uma estratégia militar mais “específica”.

Em particular, os diplomatas americanos não escondem sua insatisfação com o rumo da guerra.

Washington, por exemplo, instou Israel a não “repetir” o cenário no sul da Faixa de Gaza antes da pausa humanitária de sete dias no final de novembro.

Em um sinal da pressão constante sobre seu aliado, o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, visitará Israel na quinta e sexta-feira, informou o governo americano.

“Está claro que vou abordar […] a questão do calendário e como eles [os israelenses] veem isso”, declarou Sullivan na terça-feira ao Wall Street Journal, sugerindo uma mudança “para uma fase diferente do tipo de operações de alta intensidade que vemos hoje”.

E Biden recebeu pela primeira vez nesta quarta-feira na Casa Branca as famílias dos reféns americanos retidos em Gaza pelo Hamas, segundo um funcionário de alto escalão.

Ponto de inflexão?

Resta saber se isso significa uma mudança no posicionamento dos Estados Unidos em relação à guerra.

Para James Ryan, diretor de programa para o Oriente Médio no Instituto de Pesquisa Política Exterior, “tem muito a ver com a situação política interna”, enquanto o presidente democrata faz campanha para a reeleição em novembro de 2024.

“Há uma grande pressão sobre a administração Biden, mesmo dentro de seu partido e entre as bases”, explica Ryan.

Mas, acrescenta, “também reflete o reconhecimento tácito” de que a capacidade de influência dos Estados Unidos sobre o governo israelense, o mais à direita na história do país, é limitada.

É precisamente sobre o que acontecerá uma vez encerrado o conflito que as divergências entre a administração democrata e o governo israelense se tornam mais evidentes, apontando para negociações difíceis.

Washington insiste na solução de dois Estados, a única capaz de resolver a longo prazo a questão israelense-palestina, o que Israel rejeita.

Quanto à governança em Gaza após o conflito, Estados Unidos e Israel também divergem em entregar as rédeas do território a uma Autoridade Palestina revitalizada.

“Acreditamos que a Autoridade Palestina representa o povo palestino e que uma Autoridade Palestina revitalizada, reformada e renovada é o caminho certo para a governança de uma Cisjordânia e Gaza reunificadas”, disse na quarta-feira o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller.

© Agence France-Presse

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