GUILHERME BOTACINI
FOLHAPRESS
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, atacou nesta quinta-feira (20) congressistas democratas que disseram a membros das Forças Armadas que eles devem recusar ordens ilegais. O republicano chamou os democratas de traidores e afirmou que eles deveriam receber a pena de morte.
Trump republicou um artigo sobre um vídeo divulgado na terça-feira por seis legisladores democratas que serviram nas Forças Armadas ou na comunidade de inteligência.
“COMPORTAMENTO SEDICIOSO, punível com a MORTE! Isso é realmente ruim e perigoso para nosso país. Suas palavras não podem ser permitidas. COMPORTAMENTO SEDICIOSO DE TRAIDORES!!! PRENDAM-NOS???”, escreveu o presidente republicano em duas publicações no re
de Truth Social, com as habituais letras maiúsculas.
Entre os legisladores democratas relacionados à questão estão os senadores Elissa Slotkin, ex-analista da CIA e veterana da Guerra do Iraque, e Mark Kelly, ex-astronauta e veterano da Marinha, além dos representantes Jason Crow, Maggie Goodlander, Chris Deluzio e Chrissy Houlahan.
Nenhum dos legisladores fizeram referências a ordens específicas, mas a manifestação ocorre em meio a movimentos tectônicos do governo Trump nas Forças Armadas.
“Estamos nos posicionando ao lado das nossas tropas, dos nossos membros do serviço militar que são com frequência colocados em posições muito difíceis, e Donald Trump tem os colocado e sugerido que os colocará em ainda mais posições muito difíceis nos próximos meses e anos”, afirmou Jason Crow, democrata do Colorado. “Estamos relembrando o pessoal do que diz o código da Justiça militar, a Constituição, a lei da guerra”, disse ele à rede Fox News.
“Donald Trump fez uma série de comentários perturbadores e sugestões que violariam a lei dos EUA e colocariam os militares em uma posição terrível. Eu não quero esperar até que aconteça para lembrar nossas tropas dessa obrigação porque será tarde demais”, afirmou Crow.
Desde que voltou ao cargo, o republicano tem esticado a corda dos poderes presidenciais para acionar os militares. Trump acionou forças militares para se juntar a operações domésticas, em particular para contenção de protestos e ações de imigração, em cidades governadas por rivais democratas, como Washington, Los Angeles e Chicago.
Além disso, o Pentágono, sob o comando do ex-apresentador da rede Fox News, Pete Hegseth, tem feito diversas demissões de oficias vistos que não passam pelo crivo da Casa Branca em questões de lealdade e comprometimento ideológico.
No fim de setembro, Trump e Hegseth convocaram centenas de oficiais-generais em postos em todo o mundo para uma reunião na base de Quantico, na Virgínia, na qual deixaram clara a politização que esperavam da classe militar.
Além disso, há a mobilização de milhares de soldados e dezenas de aeronaves e embarcações no Caribe para operações contra o narcotráfico. Desde que foram iniciados ataques a barcos supostamente ligados a traficantes em águas latino-americanas, em setembro, mais de 80 pessoas morreram sem que qualquer evidência clara fosse apresentada pela Casa Branca.
O Departamento de Justiça de Trump tem se movimentado para tentar evitar problemas judiciais no futuro. Documento do departamento já elaborou a argumentação legal para evitar que militares sejam responsabilizados por tais ataques, criticados por governos não alinhados a Washington na região, além de especialistas do direito internacional e da guerra e opositores.
A mobilização mira ainda o regime do venezuelano Nicolás Maduro, que o governo Trump considera um líder narcotraficante, embora esteja em negociações de bastidores com a ditadura, que também nega as acusações. Receios de que os militares posicionados na região possam invadir o país latino-americano sem uma justificativa legal para tal é outra preocupação de adversários políticos de Trump conectados às Forças Armadas.