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Tecnologia nas escolas: uma falsa boa ideia, segundo a Unesco

A tecnologia digital “melhorou significativamente o acesso a recursos de ensino e aprendizagem”, especialmente na Etiópia e na Índia

Redação Jornal de Brasília

26/07/2023 15h09

Foto: ALAIN JOCARD / AFP

Computadores distribuídos sem trabalho pedagógico administrativo, conhecimento básico perdido e divulgação de informações pessoais dos alunos: esses são os motivos pelos quais a Unesco afirma que a tecnologia nas escolas não é um milagre e pode ter “efeitos nefastos” – e, por isso, deve ser regulamentada.

A tecnologia digital “melhorou significativamente o acesso a recursos de ensino e aprendizagem”, especialmente na Etiópia e na Índia, onde bibliotecas online extremamente populares e o ensino à distância salvou a educação durante a pandemia da covid-19.

No entanto, essas tecnologias foram desenvolvidas com algumas adulterações por seus fabricantes. A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), indicou que há uma “falta” de dados “imparciais” sobre o impacto das tecnologias educacionais.

“Muitas das evidências vêm de entidades que buscam vender essas tecnologias”, lamenta a organização no estudo chamada “Tecnologias na Educação: Quem está no comando?”, publicado nesta quarta-feira (26).

Foco nos resultados

Portanto, devemos “focar nos resultados da aprendizagem e não nos recursos digitais”, destacou a Unesco.

No Peru, “quando mais de um milhão de notebooks não integrados à pedagogia foram distribuídos, o aprendizado não melhorou”, apontou o relatório.

“Nos Estados Unidos, uma análise de mais de dois milhões de alunos revelou que as desigualdades de aprendizagem se alargaram quando o ensino era ministrado exclusivamente à distância”, continua o texto. As tecnologias podem ser “desastrosas” se usadas “inapropriadamente ou frias”.

A Unesco enfatiza que uma pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sugere “uma ligação desfavorável entre o uso excessivo de tecnologias de informação e comunicação e o desempenho dos alunos”.

Foi descoberto em 14 países que “a mera proximidade de um dispositivo móvel pode distrair os alunos e impactar na aprendizagem”.

Ética

Somam-se a isso questões éticas, pois “os dados pessoais das crianças estão expostos”. Segundo a Unesco, que citou outro estudo, “89% dos 163 produtos de tecnologia educacional recomendados durante a pandemia poderiam monitorar crianças”. Entretanto, “apenas 16% dos países garantem explicitamente e por lei a privacidade dos dados na educação”.

É inegável que “todos”, inclusive os estudantes, “devem aprender sobre tecnologia”, porque “atualmente ela faz parte de nossas habilidades básicas”, diz o diretor do relatório, Manos Antoninis, em entrevista à AFP.

Mas, de acordo com o diretor, isso não requer necessariamente tecnologia. As “crianças que sabem ler melhor cinco vezes mais chances de não serem enganadas por e-mails fraudulentos”, garante o especialista. Isso não requer “nada tecnologicamente avançado, mas boa capacidade de leitura e pensamento crítico”.

Em comunicado à imprensa, a Unesco clama por uma “regulamentação da forma como as novas tecnologias são utilizadas na educação”, onde o governo não atua e há falta de “regulamentação adequada”.

A revolução digital, que tem um “potencial tremendo”, deve ser “enquadrada” na educação, assim como no resto da sociedade, opina a diretora-geral da ONU para Educação, Ciência e Cultura, Audrey Azoulay.

Ela acrescenta que “a tecnologia deve melhorar o processo de aprendizagem e servir ao bem-estar de alunos e professores, em vez de ser usada em seu prejuízo”.

“É preciso colocar as necessidades do aluno em primeiro lugar e apoiar o trabalho dos professores. As confortáveis ??online não podem, de forma alguma, substituir as humanas desnecessárias”, segundo Azoulay.

© Agence France-Presse

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