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Rússia adverte EUA após queda de drone americano no mar Negro

Na manhã da terça (14), dois caças russos interceptaram um drone de reconhecimento e ataque MQ-9 Reaper no mar Negro

FolhaPress

15/03/2023 10h39

Foto: Maxim Shemetov/Reuters

Um dia após ser acusada pelos Estados Unidos de ter provocado a queda de um drone americano operando no mar Negro, perto do teatro de conflito na Ucrânia, a Rússia disse para Washington parar sua atividade aérea perto das fronteiras russas.

A advertência foi feita em um comunicado do embaixador russo nos EUA, Anatoli Antonov, na madrugada desta quarta (15). Ele havia sido convocado pelo Departamento de Estado para dar explicações sobre o episódio, o mais grave encontro de aeronaves russas e ocidentais desde o início da Guerra da Ucrânia.

“A atividade militar inaceitável dos EUA perto de nossas fronteiras é motivo de preocupação. Elas recolhem inteligência, que subsequentemente é usada pelo regime de Kiev para atacar nossas Forças Armadas e território”, afirmou.

Na manhã da terça (14), dois caças russos interceptaram um drone de reconhecimento e ataque MQ-9 Reaper no mar Negro. Moscou disse que o aparelho havia violado o espaço aéreo delimitado pelos russos desde o começo da guerra, em fevereiro do ano passado, como restrito. Washington não reconhece essa fronteira.

Segundo o relato americano, um dos Sukhoi Su-27 passou a interferir com o drone, despejando combustível à sua frente e fazendo manobras próximas, quando acabou batendo em sua hélice, levando o aparelho a cair. Os russos negam, dizendo que a queda foi provocada por uma manobra brusca do Reaper.

Os americanos moderaram o tom, focando a acusação no que chamaram de antiprofissionalismo da abordagem russa. Insistiram em que o Reaper, um dos cerca de 300 aparelhos de até US$ 30 milhões cada (quase R$ 160 milhões hoje) que operam, estava desarmado e em ação de vigilância. Nesta quarta, o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, disse que os EUA pediram, na conversa com Antonov, que “os russos fossem mais cuidadosos”.

Antonov jogou a bola de volta para o campo de Washington. “Deixe-nos fazer uma questão retórica: como a Força Aérea e a Marinha dos EUA iriam reagir se um drone de ataque russo aparecesse perto de Nova York ou San Francisco? Parem de fazer surtidas perto das fronteiras russas”, afirmou.

O ponto do embaixador é óbvio e correto, embora ignore propositadamente a realidade: as fronteiras de atrito entre a Rússia e o Ocidente ficam em torno da antiga esfera soviética: mares Negro e Báltico, Pacífico Ocidental, por exemplo.

E, se não têm nenhum drone perto da costa leste americana, os russos voam suas próprias patrulhas de reconhecimento, quando não apenas para testar a velocidade de reação dos adversários, particularmente no norte da Europa.

É assim em todas as falhas geológicas da intrincada geopolítica atual: chineses provocam as defesas de Taiwan toda a semana e foram acusados de quase abalroar um avião dos EUA, sul-coreanos já atiraram em advertência contra uma patrulha russo-chinesa, bombardeiros estratégicos B-52 americanos lamberam o espaço aéreo russo na semana passada, caças de Moscou já invadiram armados a Suécia desde o começo da guerra.

Até por isso os americanos mediram as palavras, sem chamar o incidente de ilegal. Tecnicamente, como o Reaper que havia decolado da Romênia não estava tirando fotos das belezas naturais do mar Negro, a Rússia tinha direito pelas regras de engajamento militar de derrubá-lo se quisesse.

O mar é, como dito, palco costumeiro desses incidentes. Pouco antes da guerra, os russos jogaram bombas de um jato para afastar um navio de guerra britânico da costa da Crimeia, a península anexada em 2014 que sedia sua Frota do Mar Negro. E, em outubro, dispararam segundo alegado acidente um míssil perto de um avião-espião de Londres por lá.

Por evidente, o risco desses cenários é o de uma escalada não intencional em um cenário conturbado, exatamente o que há hoje entre Moscou e Washington, apesar de as partes estarem colocando panos quentes para evitá-la –como no mais grave incidente da história recente, quando um caça chinês caiu após abalroar e danificar um avião de espionagem americano em 2001, numa crise de semanas.

Nesta manhã de quarta (madrugada no Brasil), o Ministério das Relações Exteriores russo disse que não iria mais comentar o episódio, mas repetiu que as relações com os EUA estão no pior nível da história.

Para o governo de Vladimir Putin, o apoio maciço americano a Kiev equivale a uma guerra por procuração. Enquanto isso é verdade, como os US$ 47,3 bilhões enviados em armas e defesa até janeiro para os ucranianos provam, também serve à ofensiva retórica do Kremlin, que busca tirar foco do fato de que não dobrou o vizinho nas primeiras semanas de guerra.

Mas o perigo segue, literalmente, no ar. Em solo, a ofensiva russa sobre Bakhmut segue com força máxima, apesar da promessa do presidente Volodimir Zelenski de defender a cidade do leste até o fim. O governo em Kiev, por sua vez, aproveitou o incidente no mar Negro para acusar Moscou de querer ampliar o conflito.

Igor Gielow, São Paulo, SP

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