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Mundo

Romênia agora diz que foi atingida por destroços de drone russo

Pelas regras da Otan, se um de seus integrantes for atacado, todos foram, obrigando uma resposta conjunta

Redação Jornal de Brasília

06/09/2023 11h47

IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Após dois dias de negativas, o Ministério da Defesa da Romênia confirmou nesta quarta (4) que seu território foi atingido por partes de um drone de ataque russo empregado no bombardeio do porto ucraniano de Izmail, a poucas centenas de metros de sua fronteira.

“Eu confirmo que partes do que parecem ser elementos do drone foram encontradas”, afirmou Tilvar à rede Antena 3 CNN. Ele afirmou também, repetindo o discurso oficial, que em nenhum momento houve ameaças militares a seu país no incidente.

“Se isso for confirmado, seria uma situação inadmissível e uma séria violação da integridade territorial e soberania da Romênia”, afirmou o presidente do país, Klaus Iohannis, que horas antes havia negado ter havido queda de drone russo na margem romena do rio Danúbio.

O episódio ilustra um dos aspectos da invasão russa da Ucrânia: o temor do Ocidente de que o conflito em suas fronteiras escale para uma guerra entre o Kremlin e a Otan, a aliança militar de 31 membros liderada pelos Estados Unidos, criada em 1949 para conter a União Soviética na Europa.

Pelas regras da Otan, se um de seus integrantes for atacado, todos foram, obrigando uma resposta conjunta. O incidente ocorrido na madrugada da segunda (4) não significa uma ação russa contra um país da aliança, caso da Romênia, mas tudo é uma questão de interpretação.

Quando um míssil de defesa aérea ucraniana caiu na Polônia, matando duas pessoas no fim do ano passado, houve alarme geral porque Varsóvia é um dos mais beligerantes integrantes da Otan. Até ser comprovado que a arma era de Kiev e as desculpas serem apresentadas, a expectativa sobre a reação polonesa gerou apreensão.

A cautela ocorre no fornecimento de material bélico ocidental aos ucranianos. Demorou um ano para que tanques pesados fossem enviados, e até agora a chegada de caças americanos F-16 é um anúncio.

Logo após o bombardeio ao porto de Reni, na Ucrânia, o Ministério da Defesa em Kiev afirmou ter evidências de que o território romeno havia sido alvejado. A chanceler do país vizinho, Luminita Odobescu, se apressou em dizer que não havia ocorrido nada grave, apesar de o bombardeio ter sido próximo de sua fronteira.

Nesta quarta pela manhã, o presidente Iohannis mantinha a negativa. “Drones russos caíram perto, bem perto da fronteira da Otan. Nenhuma parte de drone ou componente de outros armamentos atingiram o território da Romênia”, disse, só para modular sua avaliação depois.

Contra ele havia a evidência de imagens na internet da explosão do lado romeno do Danúbio durante o ataque com drones Shahed-136 de origem iraniana que os russos usam. Elas foram analisadas por sites de georreferenciamento, que confirmaram o local da queda. Segundo imagens de satélite, era um campo desabitado em uma alça do rio.

Como Bucareste não pretende iniciar a Terceira Guerra Mundial por eventuais vacas mortas na explosão, o assunto foi abafado. Segundo Odobescu, protocolos para incidentes deste tipo foram discutidos na cúpula da Otan de julho, mas ela evidentemente não os detalhou. A aliança reforçou a presença na região após o aumento das hostilidades no mar Negro.

Os ataques a portos ucranianos no Danúbio e no principal terminal do país, em Odessa, começaram em julho, após a Rússia deixar o acordo que permitia escoamento de grãos do adversário pelo mar Negro. Mediado pela Turquia e pela ONU, o acerto havia sido estabelecido em julho do ano passado, aliviando a crise inflacionária de alimentos devido à guerra.

Só que a Rússia diz que não houve a contrapartida esperada, com o Ocidente reintegrando bancos de crédito agrícola russos ao sistema de trocas internacionais Swift e permitindo que seguradoras cubram o transporte de seus grãos e fertilizantes. Moscou e Kiev têm cerca de um terço do mercado mundial de trigo.

Na segunda, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, visitou Vladimir Putin para discutir o caso e ficou ao lado da posição do colega russo, pedindo que Kiev amenize sua posição no debate dos grãos. O governo de Volodimir Zelenski reagiu mal, dizendo que não iria contemporizar. Enquanto isso, drones seguem caindo sobre Reni e Izmail, no Danúbio, e Odessa.

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