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Refugiados de Mariupol dizem que cidade na Ucrânia sob cerco virou o inferno

O local é estratégico para o Kremlin porque é o último grande centro de resistência ucraniana que conecta a Crimeia por terra à Rússia

Redação Jornal de Brasília

18/03/2022 6h54

Foto: Reprodução

Famílias que conseguiram sair de Mariupol, no sul da Ucrânia, descrevem como “inferno” o que deixaram para trás ao fugir do cerco russo à cidade. O local é estratégico para o Kremlin porque é o último grande centro de resistência ucraniana no corredor que conecta a Crimeia por terra à Rússia.

Moradores relatam que, enquanto as tropas de Moscou bombardeavam a cidade, corpos acumulavam-se nas ruas e faltava comida e eletricidade.

“Dispararam muitos foguetes”, diz Tamara Kavunenko, 58, à agência de notícias AFP. Ela está entre os 4.300 moradores de Mariupol que fugiram nesta semana rumo a Zaporíjia, no centro da Ucrânia.

“Quando a neve caiu, derretemos para conseguir água. Quando não, fervemos água do rio para beber”, conta. “Nas ruas estão os corpos de muitos civis mortos. Não é mais Mariupol. É o inferno.” Mais de 2.000 pessoas morreram até agora na cidade, de acordo com as autoridades ucranianas —um número que não pôde ser verificado de forma independente.

Na última quarta (16), Kiev acusou a Rússia de bombardear um teatro no qual estariam centenas de civis desabrigados —que teriam escrito a palavra “crianças” na calçada do prédio, segundo imagens de satélite captadas por uma empresa americana em 14 de março. As autoridades do país afirmam que civis já começaram a ser resgatados do local, mas não foram divulgados números.

Cerca de 6.500 veículos saíram da cidade nos últimos dois dias, disse no Telegram Vadim Boichenko, prefeito de Mariupol, na madrugada de quinta-feira (17).

Em um circo da era soviética em Zaporíjia, um grupo de voluntários da Cruz Vermelha espera pelos resgatados, com sapatos e mantas infantis cobrindo o chão. A organização afirmou que deixou Mariupol devido ao agravamento da crise humanitária na cidade.

Dima, com as mãos pretas de sujeira, conta à AFP que não toma banho há duas semanas. Em sua terceira tentativa, conseguiu chegar a Zaporíjia com a mulher e dois filhos.

Para alimentar as crianças e seus avós em Mariupol, ele conta que teve que saquear lojas em busca de comida. “Vivíamos debaixo da terra e, se fazia -4°C, era uma temperatura boa”, afirma, levantando a perna para mostrar que está com três calças para tentar se aquecer.

“Às vezes os corpos ficavam na rua por três dias”, lembra. “O cheiro está no ar e você não quer que seus filhos o sintam.”

Daria, que também fugiu de Mariupol, diz que durante dez dias morou no porão de seu prédio com sua bebê. “Ficava pior a cada dia”, afirma, com a filha nos braços. “Estávamos sem luz, sem água, sem gás, sem meios de existir. Era impossível comprar coisas.”

Marina, uma voluntária da Cruz Vermelha de Zaporíjia, relata que as pessoas que chegavam de Mariupol estavam em péssimo estado. “Estavam cansados, doentes, chorando.”

A única forma de fugir da cidade era com um carro particular. Muitos dos que conseguiram fugir contam que não podiam sair dos refúgios por causa dos bombardeios e que encontraram um jeito de viajar por sorte, porque tampouco havia sinal de telefone ou de internet.

“Vimos que havia gente com faixas brancas nos carros, saindo”, afirma uma mulher que se identificou como Daria. Ela diz que perguntou a uma vizinha se podia se juntar a ela para fugir.

Para alguns, o trajeto a Zaporíjia, que normalmente leva três ou quatro horas, durou mais de um dia.

Um pai de dois filhos relata que conseguiu captar um sinal após ligar o rádio, conseguindo, assim, informação sobre o corredor humanitário. Abraçado ao filho pequeno, Dmitri afirma que eles passaram “nove ou dez dias” escondidos no teatro de Mariupol —o mesmo que foi bombardeado, segundo Kiev, por forças russas.

AFP

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