SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O líder do Hezbollah, o sacerdote xiita Hassan Nasrallah, 64, foi morto por um ataque aéreo de Israel contra um prédio residencial nos arredores de Beirute nesta sexta-feira (27), anunciou o grupo armado libanês.
De acordo com Israel, o ataque mirou um bunker subterrâneo que abrigava o quartel-general central do Hezbollah em Beirute. Seis edifícios foram destruídos, pelo menos duas pessoas morreram e outras 76 ficaram feridas.
Ao longo de 32 anos no comando do Hezbollah, Nasrallah transformou a milícia em uma força política influente dentro do Líbano e em uma ameaça militar considerável a Israel, um dos países com as Forças Armadas mais sofisticadas do mundo.
Com o apoio do Irã, o Hezbollah tem hoje cerca de 150 mil foguetes, de acordo com cálculos de analistas, além de drones iranianos e mísseis antiaéreos russos. Segundo o próprio Nasrallah, o grupo conta também com 100 mil combatentes -Israel tem um contingente de cerca de 170 mil militares na ativa e outros 450 mil na reserva.
Hassan Nasrallah nasceu em uma região empobrecida de Beirute, capital do Líbano, em 31 de agosto de 1960, filho de um comerciante de frutas e legumes. Interessado em teologia, estudou com importantes líderes xiitas no Iraque, quando envolveu-se com a fundação de grupos fundamentalistas na região e tornou-se braço-direito de Abbas al-Musawi, que foi secretário-geral do Hezbollah até ser morto por Israel em 1992.
Nasrallah o sucedeu e comandava o Hezbollah quando o grupo conseguiu expulsar as Forças Armadas de Israel do Líbano em 2000, pondo fim a uma ocupação que durava 18 anos. O sacerdote consolidou sua fama no mundo árabe e expandiu a influência do Hezbollah para além do Líbano em 2006, quando capturou dois soldados israelenses e enfrentou tropas de Tel Aviv por 34 dias, em um resultado inconcluso, mas celebrado como uma vitória pelo grupo libanês.
Também transformou o Hezbollah em um partido político, abandonando o objetivo do grupo de derrubar o Estado libanês e trabalhando para governá-lo por dentro, participando de eleições e pregando tolerância com os cristãos libaneses. Hoje, sua coalizão política tem 15 assentos de 128 do Parlamento do país.
De acordo com o jornal americano The New York Times, Nasrallah vivia de maneira modesta, não socializava fora dos círculos de liderança do Hezbollah e raramente aparecia em público. Conhecido por sua oratória e domínio do árabe clássico, linguagem utilizada no Alcorão, Nasrallah fez um discurso no funeral de Fuad Shukr, comandante militar do grupo, morto por Israel em julho desse ano.
Apesar da proximidade com o Irã e da formação como sacerdote fundamentalista, Nasrallah não expressava as visões mais restritivas do islamismo professadas por Teerã, como a obrigatoriedade do véu islâmico para mulheres.
Sob o comando de Nasrallah, o Hezbollah hoje é o grupo apoiado pelo Irã mais poderoso da região, e abriu um novo front contra Israel em apoio ao aliado Hamas depois do ataque terrorista de 7 de outubro. Israel aumentou os ataques contra o Hezbollah nas últimas semanas e agora avalia invadir o Líbano para eliminar a ameaça que o grupo libanês representa aos moradores do norte do Estado judeu, fora de casa há meses.
No último dia 19, Nasrallah acusou Israel de realizar os ataques contra pagers e walkie-talkies que mataram dezenas de pessoas e feriram milhares no Líbano, dizendo que “a vingança vai chegar”.
“Como, quando, de que forma -essas são coisas que não revelaremos ainda”, disse ele na ocasião.