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Presidente de Burkina Fasso é detido por soldados em meio a levantes militares

O país da África Ocidental assiste a confrontos contínuos, com soldados exigindo mais apoio na luta contra insurgentes islâmicos

FolhaPress

24/01/2022 11h23

Foto: LUDOVIC MARIN / POOL / AFP

O presidente de Burkina Fasso, Roch Kabore, foi detido por soldados em um acampamento militar, um dia após intenso tiroteio na residência oficial do mandatário, na capital Uagadugu. A informação foi confirmada à agência Reuters por quatro fontes ligadas à segurança nacional e um diplomata nesta segunda (24).

O país da África Ocidental, com 21 milhões de habitantes, assiste a confrontos contínuos em instalações militares, com soldados exigindo mais apoio na luta contra insurgentes islâmicos. Ao longo dos últimos anos, Burkina Fasso e países vizinhos da região semiárida do Sahel, como Níger, têm sido assolados por bombas, massacres e sequestros.

O governo descartou que um golpe de Estado esteja em vigor, mas o paradeiro exato de Kabore, na Presidência desde 2015, ainda é desconhecido. Diversos veículos blindados da frota presidencial cravejados de balas podiam ser vistos perto da residência do presidente na manhã desta segunda, e um deles continha manchas de sangue.

À agência de notícias AFP fontes ligadas à segurança acrescentaram que o chefe do Parlamento do país e alguns ministros também foram detidos por soldados no quartel de Sangoulé Lamizana.

O chefe de Estado burquinense enfrentou ondas de protestos ao longo dos últimos meses, em grande parte impulsionadas pela frustração com a incapacidade nacional de conter os insurgentes, muitos membros de grupos terroristas como o Estado Islâmico e a Al Qaeda.

Burkina Fasso é um dos países mais pobres da África Ocidental, ainda que produza ouro. Grupos terroristas controlam partes do país, levando a ondas migração e ao esgotamento dos recursos. Dirigidos a civis e militares, os ataques, cada vez mais frequentes, se concentram no norte e leste e, em quase sete anos, deixaram mais de 2.000 mortos e 1,5 milhão de deslocados internos.

Um ataque de insurgentes a um posto militar da província de Soum deixou 49 policiais e quatro civis mortos em novembro. Dias depois, descobriu-se que as tropas ali baseadas ficaram sem comida por duas semanas e tiveram de abater animais para se alimentar.

Manifestantes saíram às ruas nesta domingo (23) em apoio ao levante militar e saquearam a sede do partido político de Kabore, o Movimento Popular para o Progresso. O governo, então, decretou toque de recolher durante a madrugada e fechou as escolas por dois dias.

A tensão cresceu à medida de que o presidente Kabore mudou a postura em relação às Forças Militares, ação caracterizada por analistas como uma tentativa de reprimir a oposição dentro dos quarteis. O governo prendeu 12 soldados por suspeita de conspiração no início deste mês.

O país, que foi uma colônia francesa, conquistou a independência em 1960. A embaixada da França em Burkina Fasso aconselhou seus cidadãos no país a não saírem ao ar livre nesta segunda, informou que as escolas francesas permanecerão fechadas até terça (25) e que dois voos da companhia Air France com destino ao país foram cancelados.

A turbulência no país de pouco mais de 274 mil quilômetros quadrados se desenrola em meio a um cenário de aumento do número de golpes de Estado em todo o mundo, com destaque para a África.

Sete tentativas de golpe ocorreram ao longo de 2021, e cinco delas se concretizaram, sendo quatro no continente (Chade, Mali, Guiné e Sudão). Em todos os casos, a falta de legitimidade dos líderes locais pesou na decisão das Forças Armadas de tomarem o poder, e a menor proatividade da comunidade internacional para rechaçar os golpes em meio à pandemia de Covid também teve influência.

A Cedeao (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental), bloco do qual Burkina Fasso faz parte, emitiu comunicado em que manifesta preocupação com a situação política e de segurança do país após o que caracteriza como uma tentativa de golpe de Estado. A comunidade instou os militares a libertarem o presidente e pediu que prezem pelo diálogo e pelo republicanismo.

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