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Presidente da Colômbia demite ministros e agrava crise em reforma da Saúde

No anúncio, Petro disse que a diversidade de opiniões é um valor do qual compartilha e que as reformas precisam de debate

FolhaPress

28/02/2023 16h11

Gustavo Petro, presidente da Colômbia – Daniel Munoz/AFP

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, demitiu nesta segunda-feira (27) três ministros de seu gabinete, reforçando os contornos da crise ao redor da série de reformas nas áreas do trabalho, da Previdência e da Saúde que o primeiro líder de esquerda da história do país tenta fazer avançar no Congresso.

Saíram do governo o ex-reitor da Universidade dos Andes Alejandro Gaviria (Educação), a campeã olímpica María Isabel Urrutia (Esportes) e a dramaturga Patricia Ariza (Cultura). Para os dois primeiros cargos foram nomeadas, respectivamente, Aurora Vergara e Astrid Rodríguez —ainda não foi anunciado o substituto para a Cultura.

Um documento obtido pela imprensa colombiana mostrou, em publicação do último domingo (26) feita pelo portal Cambio, que as mudanças propostas pela ministra da Saúde, Carolina Corcho, foram criticadas pelos ministros da Fazenda, da Agricultura e da Educação —este último agora demitido.

O texto propõe uma transformação profunda das EPS, ou Entidades Promotoras de Saúde —responsáveis por organizar o Sistema Geral de Saúde do país e cobrar as contribuições que os cidadãos devem fazer para usar o serviço. As mudanças, de acordo com o governo, pretendem corrigir discrepâncias territoriais no acesso à saúde e aumentar o papel do órgão que administra publicamente os recursos.

O agora ex-ministro Gaviria, que chefiou a pasta da Saúde e Proteção Social entre 2012 e 2018, discorda dessa visão e sustenta que as EPS devem ser mantidas onde funcionam bem.

“O sistema atual é produto de 30 anos de inovação e trabalho coletivo. Destruí-lo seria um suicídio”, já havia afirmado Gaviria em outro documento vazado à imprensa, no início de fevereiro. Os apontamentos teriam sido feitos em uma reunião de ministros, segundo a mídia local. “A reforma proposta apresenta uma estratégia estranha: destruir o que funciona nas cidades para supostamente corrigir o que não funciona nas zonas rurais.” Além disso, defende o ex-ministro, a experiência da Colômbia com pagadores únicos públicos “é desastrosa”.

No anúncio, Petro disse que a diversidade de opiniões é um valor do qual compartilha e que as reformas precisam de debate na sociedade, mas também defendeu consenso e determinação no governo para que elas sejam aprovadas. “Este governo da mudança não vai desistir de reformar para melhorar a saúde, a Previdência e as condições de trabalho para todos os colombianos e colombianas”, afirmou. “Estamos em um momento decisivo para nossas reformas e precisamos de mais coesão e determinação.”

O presidente afirmou ainda que a saúde é um direito, “não um negócio”. “A atividade privada, que é bem-vinda, não pode impedir ou limitar esse direito”, completou.

O ministro da Fazenda, José Ocampo, e a ministra da Agricultura, Cecilia López, que também assinaram o texto vazado no último domingo, estavam ao lado de Petro durante seu discurso. O presidente afirmou que levou em consideração as observações da carta e fez ajustes ao texto antes de apresentá-lo ao Congresso. O agora demitido Gaviria descreveu a publicação veiculada pelo portal como um “vazamento mal-intencionado”.

No Twitter, o ex-titular da Educação agradeceu a Petro pelo convite para fazer parte do governo. “Minhas opiniões sempre tiveram propósito construtivo dentro de uma gestão pluralista”, escreveu. Em publicação no Instagram vista com algum grau de ironia, porém, Gaviria disse ter saído “por questões de saúde”.

Já Ariza, da Cultura, criticou a demissão em entrevistas à imprensa colombiana e disse não saber a justificativa para a exoneração. “Sei que o presidente está exercendo um direito, porque todos os ministros somos de livre nomeação e remoção, mas eu teria preferido que ele tivesse me dito olhando nos olhos”.

A reclamação da ex-ministra dos Esportes, Urrutia, vai na mesma linha. “Nunca me disseram nada”, afirmou à Semana. A ex-medalhista olímpica disse que foi demitida por ser honesta e, questionada pela publicação se havia corrupção no Ministério dos Esportes, respondeu que sim, assim como em todos os ministérios. “Não me deixaram fazer muita coisa em cinco meses. Essa é a frustração”, afirmou.

A congressista de esquerda Jennifer Pedraza Sandoval criticou a decisão em sua conta no Twitter e disse que essa não foi a mudança pela qual a população votou.

“Suspeitas as mudanças no Ministério da Cultura e no Ministério dos Esportes horas depois da reunião do presidente Gustavo Preto com César Gaviria (Partido Liberal), Efraín Cepeda (Conservador) e Dilian Francisca (Partido Social de Unidade Nacional), chefes da política tradicional”, escreveu.

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