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Mundo

Ortega dá nome de guerrilheiro a universidade Católica confiscada

Segundo a ditadura, a instituição jesuíta foi considerada um “centro de terrorismo” que organizava grupos criminosos

Redação Jornal de Brasília

18/08/2023 9h07

Foto: GettyImages

A ditadura de Daniel Ortega nesta quinta, 17, deu o nome do guerrilheiro Casimiro Sotelo Montenegro à universidade confiscada da Igreja Católica na quarta-feira, 16. A Universidade Centro-Americana da Nicarágua (UCA) anunciou a suspensão de todas as atividades após ter seus bens tomados por ordem da Justiça.

Segundo a ditadura, a instituição jesuíta foi considerada um “centro de terrorismo” que organizava grupos criminosos – uma referência aos protestos de 2018 contra o governo, vistos pelo regime como uma tentativa de golpe de Estado. A repressão deixou 300 mortos.

Estatização

A universidade tinha como reitor o padre Rolando Enrique Alvarado López. Ontem, ela se tornou a Universidade Nacional Casimiro Sotelo Montenegro. Ao estatizar a instituição e renomeá-la, Ortega prestou uma homenagem a um importante guerrilheiro e militante da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN). Ele morreu em 1967, aos 24 anos.

Como presidente do centro estudantil da UCA, Montenegro lutou pela autonomia universitária na Nicarágua, o que a ditadura tem destruído com suas ações para manter o poder.

O próprio Ortega estudou Direito por dez meses na instituição, antes de abandonar a universidade para ingressar na luta armada contra a ditadura de Anastasio Somoza (1937-1979). Dois de seus filhos, Daniel Edmundo e Juan Carlos, graduaram-se na UCA, em sociologia e comunicação social, respectivamente.

Outro filho de Ortega, Maurice, estudou economia aplicada na mesma universidade por alguns trimestres, mas antes do fim do primeiro ano retirou-se para estudar cinema fora da Nicarágua.

Violações

A Companhia de Jesus afirmou ontem que as acusações contra a universidade são falsas e pediu ao governo que reverta o que chamou de “medida drástica, inesperada e injusta”. “Trata-se de uma política governamental que viola sistematicamente os direitos humanos e parece ter como objetivo a consolidação de um Estado totalitário”, manifestou a organização jesuíta, em comunicado.

Na semana passada, as autoridades nicaraguenses já tinham congelado as contas bancárias da universidade e suas propriedades. Depois, por ordem da Justiça, todos os bens da UCA foram passados para o Estado.

Os EUA condenaram o confisco da instituição. Por meio do porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel, o governo americano afirmou que a medida tomada por Ortega “representa mais uma erosão das normas democráticas e um sufocamento do espaço cívico” na Nicarágua.

Fundada em julho de 1960 por sacerdotes da Companhia de Jesus, a Universidade Centro-Americana conta com aproximadamente 5 mil estudantes e se define como uma “instituição educacional sem fins lucrativos, autônoma, de serviço público e inspiração cristã”.

Igreja

Ortega mantém uma relação conflituosa com a Igreja Católica, com a prisão de religiosos críticos ao governo. O papa Francisco tem expressado preocupação com a Nicarágua e já chamou Ortega de desequilibrado.

Autoridades do país também fecharam recentemente duas universidades da arquidiocese de Manágua, assim como 3 mil ONGs. Ortega tem endurecido o regime em resposta aos protestos, com centenas de opositores enviados ao exílio, privados de bens e nacionalidade.

O bispo Rolando Álvarez está preso desde agosto de 2022, condenado em fevereiro a 26 anos de prisão por atentar contra a integridade nacional, entre outras acusações. Pelo menos outros dois padres permanecem detidos.

Estadão Conteúdo

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