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Na África do Sul, detecção em massa do coronavírus chega ao limite

Com mais de 13.000 casos registrados e quase 250 mortes, a África do Sul é o país subsaariano mais afetado pelo coronavírus

Redação Jornal de Brasília

16/05/2020 15h53

Todos os dias, Bhelekazi Mdlalose corre de uma “township” até os escritórios de uma empresa, ou até um centro comercial, levando o material necessário para fazer testes de diagnóstico. Esta enfermeira faz parte da campanha de testes em massa lançada na África do Sul para lutar contra o coronavírus.

Aos 51 anos, Mdlalose deixou sua família há duas semanas e suspendeu seu trabalho na ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) na cidade de Rustenberg (norte) para participar da campanha lançada pelo governo.

Desta vez, a enfermeira, de blusa branca e luvas, chega a uma precária residência em Joanesburgo. Diante dela, jovens trabalhadores formam uma fila. Ela coleta uma amostra de material da garganta de cada um.

“Detectamos aqueles que são positivos para a COVID-19 e aqueles com sintomas”, explica Mdlalose.

Com mais de 13.000 casos registrados e quase 250 mortes, a África do Sul é o país subsaariano mais afetado pelo coronavírus. Para impedir seu avanço, o governo adotou um rígido confinamento da população e fez um esforço de detecção em massa, fruto de sua experiência no combate à tuberculose e à aids.

“Laboratórios sobrecarregados”

“Dissemos a nós mesmos que não poderíamos nos limitar a esperar a chegada dos doentes aos hospitais”, diz o principal especialista que aconselha as autoridades, professor Salim Abdool Karim.

“A gente tinha que ser mais dinâmico e encontrar o vírus”, acrescenta.

Hoje, 28.000 profissionais de saúde estão trabalhando. Até agora, eles interrogaram mais de 9 milhões de pessoas, ou 15% da população, e testaram 420.000 delas.

“É a maior mobilização da saúde na história do país”, disse o presidente Cyril Ramaphosa.

As estatísticas são impressionantes, mas algumas pessoas duvidam do interesse dessa estratégia.

“É um esforço que monopoliza enormes recursos”, diz doutora Claire Keene, que supervisiona para a MSF a campanha de detecção no município de Khayelitsha, perto da Cidade do Cabo (sudoeste).

“Mas estamos chegando ao limite das nossas capacidades, tanto na detecção quanto no acompanhamento de casos”, acrescentou.

“Os laboratórios estão sobrecarregados com os testes a serem analisados”, confirma seu colega Ian Proudfoot.

“Precisamos de mais tempo para obter resultados. Será necessário definir prioridades”, adverte este médico.

O porta-voz do Ministério da Saúde, Popo Maja, reconhece as dificuldades dos laboratórios.

“De longe, é a pior pandemia já sofrida pela humanidade”, disse ele. E, no terreno, Mdlalose descobre que o material está começando a faltar.

“Prioridades”

“Não acho que fazer testes em massa seja uma boa ideia. Não temos kits, ou recursos suficientes”, diz a enfermeira.

Os especialistas confirmam.

“A África do Sul depende de empresas estrangeiras para o teste. O teste prioritário de casos de COVID-19 aparentemente mais graves, que requerem hospitalização, deve ser feito como uma prioridade”, alertaram os pesquisadores Marc Mendelson e Shabir Madhi em um artigo divulgado esta semana.

Apesar de suas reservas quanto aos testes em massa, Mdlalose está convencida da utilidade de seus deslocamentos. A seu ver, são indispensáveis para a preparação da população e do pessoal médico para o pico da epidemia, previsto para acontecer entre julho e setembro.

Agence France-Presse

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