Menu
Mundo

Milei, o popular ultraliberal que chega ‘contido’ ao segundo turno da Argentina

O economista ultraliberal e antissistema venceu as primárias rompendo o bipartidarismo argentino e chamando a “dinamitar” o Banco Central

Redação Jornal de Brasília

17/11/2023 13h05

Foto: DIEGO LIMA / AFP

Genioso, franco, espontâneo, Javier Milei surgiu na política argentina insultando políticos e prometendo dolarizar a economia. Porém, obrigado a buscar consenso para vencer as eleições de domingo, guardou a motosserra que exibia como símbolo e agora parece “contido”.

O economista ultraliberal e antissistema venceu as primárias rompendo o bipartidarismo argentino e chamando a “dinamitar” o Banco Central, cortar os gastos públicos, reduzir ao mínimo o papel do Estado e acabar com a “casta política e ladra”.

Além disso, nega que exista uma diferença salarial entre homens e mulheres e rejeita o consenso de 30.000 desaparecidos durante a última ditadura (1976-1983) estabelecido por organizações de direitos humanos, ao estimar este número em um terço.

Com propostas como estas, que antes “eram marginais e agora se tornaram centrais”, se converteu em um líder de “uma importância pública inusitada para a extrema direita na Argentina”, disse à AFP Gabriel Vommaro, cientista político da Universidade de San Martín.

“Fala como eu”

Seu estilo é de um candidato nervoso que canaliza a raiva dos eleitores decepcionados com o peronismo, a corrente política que tem marcado a história da Argentina desde os anos 1940, criada em torno da figura do militar populista Juan Domingo Perón e encabeçada pelo Partido Justicialista.

“As pessoas começam a escutar um senhor indignado que parece alienado, e pensa ‘finalmente alguém fala como eu’, porque tem a franqueza de dizer as coisas”, afirmou Belén Amadeo, cientista política da Universidade de Buenos Aires.

Porém, sua tática confrontativa não sobreviveu além do primeiro turno de 22 de outubro, na qual conquistou 30% dos votos.

Após ficam em segundo lugar atrás do candidato do governo, o ministro da Economia Sergio Massa (37%), Milei buscou acordos. Se apresentou mais moderado para atrair os 24% de eleitores da conservadora Patricia Bullrich e obter a aprovação do ex-presidente liberal Mauricio Macri (2015-2019).

Assim, o candidato de 53 anos não voltou a se apresentar com uma motosserra nas mãos, reduziu suas aparições públicas e as de seu círculo mais próximo, não falou mais em fechar ministérios e deixou de lado suas declarações incendiárias, embora se mantenha firme em relação à dolarização da economia local.

“Agora está contido porque necessita mostrar-se como uma pessoa viável. Veremos no domingo até que ponto lhe foi útil ou não”, afirmou Amadeo. As últimas pesquisas indicam que está empatado com Massa.

Nascido en la TV

Com cabelos volumosos que lhe renderam o apelido “El peluca” (O peruca), Milei é com frequência chamado também de “louco”. A isto ele responde: “Sabe qual é a diferença entre um gênio e um louco? O sucesso”.

Milei como ‘influencer’ surgiu na televisão em 2015, protagonizando críticas econômicas furiosas em programas de opinião. Logo, seus comentários alimentaram as redes sociais e alcançaram jovens, dos quais muitos consideraram seu discurso inovador e rebelde.

Matías Esoukourian, um estudante de economia de 19 anos, comentou que esta é a razão pela qual o apoia. “Não tem experiência e muitas vezes isso é percebido”, disse, referindo-se a seu mal desempenho no debate com Massa transmitido pela televisão no último domingo.

“Porém, quando o vemos falar do tema econômico percebemos que há paixão e conhecimento no que ele diz”, considerou o jovem.

Amadeo destaca que essa falta de jeito no debate pode jogar a seu favor, pois demonstra quanto apartado ele é da “casta” que critica. No dia seguinte, “as redes dos libertários diziam: ‘sim, Milei fala muito mal porque não é político. Eu o apoio'”, explicou a especialista.

Comunicação interespécies?

Milei trabalhou no setor privado até 2021, quando foi eleito deputado do recém-formado partido ‘A Liberdade Avança’. Desde então, rompeu o bipartidarismo argentino e dominou a agenda midiática.

Nascido em Buenos Aires em 1970, quando jovem jogava futebol e cantava em uma banda cover dos Rolling Stones.

Segundo “Loco”, a biografia não autorizada do jornalista Juan Luis González, Milei não aceita a morte de seu cachorro Conan e se refere a ele como um dos “cinco” cachorros/filhos que o acompanham.

Seus outros quatro mastins ingleses são clones de Conan nascidos de um procedimento que Milei realizou nos Estados Unidos. Se comunica com eles, os vivos e o morto, graças as supostas manifestações de uma “médium” especializada na “comunicação interespécies”.

Solteiro, sem filhos e com poucos amigos, levou recentemente a atriz e humorista Fátima Flórez, sua nova namorada, à televisão. Ali aprendeu a fazer o gesto de coração com os dedos. “Somos muito explosivos”, disse ele.

Estudou Economia na renomada Universidade de Belgrano e fez duas pós-graduações em instituições locais. Já publicou vários livros e também foi acusado de plagiar parágrafos inteiros.

© Agence France-Presse

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado