Menu
Mundo

MeToo: uma explosão planetária

Na Suécia, na vanguarda da igualdade entre homens e mulheres, o #MeToo sacudiu inclusive a respeitada academia sueca que concede o Nobel

Redação Jornal de Brasília

03/10/2022 16h21

Imagem: Getty Images/iStockphoto

O surgimento do #MeToo nos Estados Unidos desencadeou um movimento global que inspirou muitas mulheres a perder o medo de falar em público sobre violência sexual em seus respectivos países.

Confira a seguir alguns exemplos de como o MeToo se espalhou por todo o mundo com repercussões diversas:

Suécia

Neste país, na vanguarda da igualdade entre homens e mulheres, o #MeToo sacudiu inclusive a respeitada academia sueca que concede o Nobel.

O Nobel de Literatura foi adiado por um ano depois da acusação, em 2017, de estupro e agressão sexual feita por 18 mulheres contra o francês Jean Claude Arnault, marido de uma acadêmica.

Desde julho de 2018, uma lei sobre o consentimento sexual considera estupro qualquer ato sexual sem consentimento expresso.

Esta lei pioneira deu lugar a um aumento importante das acusações e condenações por estupro, segundo as estatísticas nacionais.

Espanha

Em 2018, a condenação por simples “abuso sexual” de cinco autores de um estupro coletivo em Pamplona, que filmaram a agressão e se vangloriaram online, levou às ruas dezenas de milhares de espanholas, gritando “Yo te creo hermana” (Acredito em você, irmã). 

Os testemunhos com a hashtag #Cuéntalo (Conte o ocorrido) proliferam desde então nas redes sociais.

Em 2019, o Supremo tribunal reclassificou os atos de um “estupro em grupo” e aumentou as sentenças a 15 anos de prisão.

Em agosto de 2022, a Espanha incorporou em seu Código Penal a obrigação do consentimento sexual explícito.

África do Sul

No verão de 2019, uma onda de indignação #AmINext (Sou a próxima?) agitou as redes depois do estupro seguido do homicídio de uma estudante em uma agência dos correios na Cidade do Cabo.

A luta contra a violência sexual foi declarada prioridade nacional neste país, onde uma mulher é morta a cada três horas e são registradas diariamente 110 denúncias de estupro.

Tunísia

#EnaZeda (“Eu também”) aparece em 2019 depois do vídeo de uma jovem que mostra o ex-deputado Zuhair Makhluf masturbando-se em seu carro. O deputado foi condenado a um ano de prisão.

A palavra-chave #EnaZeda provocou uma onda inédita de testemunhos de vítimas de assédio e agressões sexuais.

A ONG Aswat Nissa (“A Voz das Mulheres”) difundiu no Facebook histórias anônimas e com o rosto descoberto. O ritmo dos testemunhos se acelera a cada agressão denunciada publicamente.

O movimento “impulsionou as mulheres a se atrever a falar e se defender e reduziu a tolerância com o assédio sexual”, afirmou a ONG em 2021. Mas “não mudou realmente o olhar dos homens sobre o assédio e muito menos o olhar social sobre a sexualidade”, afirmou.

Israel

A revolução #MeToo abalou a comunidade hermética dos ultraortodoxos, em que associações como “Lo Tishtok” (“Não te calarás”) dão voz às vítimas.

No fim de dezembro de 2021, Chaim Walder, escritor de sucesso e “ícono” ultraortodoxo, suicidou-se após acusações – que ele negou – de crimes sexuais contra cerca de 20 pessoas, entre elas crianças.

Anteriormente, outro nome do mundo ortodoxo, Yehuda Meshi Zahav, foi acusado de agressão sexual e estupro de adultos e menores. Ele morreu em junho após ter passado um ano em coma, depois de uma tentativa de suicídio.

Irã 

Em 2020, ao menos 20 mulheres acusaram um livreiro de Teerã de drogá-las e violentá-las, desencadeando uma onda de testemunhos sob a palavra-chave #tadjavoz (“estupro”). 

A vice-presidente de Assuntos da Mulher e da Família incentivou as mulheres a denunciar estes crimes.

Novas acusações estão aparecendo no Twitter, que afetam acadêmicos e artistas.

Em julho de 2022, o livreiro foi condenado à morte por crime de “corrupção na Terra”.

Chile

O coletivo LasTesis, criado por quatro mulheres de 34 anos, ficou conhecido durante as manifestações sociais de outubro, em 2019, graças a uma música e uma coreografia que viralizaram.

Seu hino, que proclama: “No fue culpa mía, ni dónde estuve ni cómo me vestí… el violador eres tú” (Não foi culpa minha, nem de onde estava, nem como estava vestida, o estuprador é você) correu o mundo, cantado por mulheres em Paris, Barcelona, Bogotá, México, Nova York, Rio de Janeiro e outras cidades.

Em 2020, a revista Time incluiu o LasTesis em uma lista das 100 pessoas mais influentes do mundo.

Índia

No âmbito do #MeToo, J.J Akbar, ex-chefe de redação que se tornou ministro, foi acusado de assédio sexual por uma jornalista, Priya Ramani, a quem se uniram em seguida outras colegas no Twitter.

Forçado a se demitir, Akbar perdeu a ação por difamação em 2021.

Dezenas de homens foram pressionados a pedir demissão no jornalismo, na política, no teatro, no cinema e inclusive no críquete.

Desde então, o movimento estagnou sem conseguir mudar as regras em um país conhecido pela violência sexual e a raridade das condenações.

Coreia do Sul

Em janeiro de 2018, a promotora Seo Ji Hyeon relatou na TV os entraves profissionais que encontrou ao denunciar o assédio sexual cometido por um superior. 

Esta entrevista abriu as portas para numerosos testemunhos dirigidos a políticos, cineastas e escritores.

No mesmo ano, as mulheres protestaram todos os meses contra o “molka”, um modismo voyerista que consiste em filmar as mulheres sem seu consentimento na rua, em banheiros públicos ou no escritório e divulgar as imagens roubadas.

Mas se seu presidente anterior, Moon Jae In, era sensível às revindicações feministas, seu sucessor, Yoon Suk Yeol, foi eleito em maio de 2022, sobretudo pela promessa de fechar o ministério de Igualdade de Gênero.

© Agence France-Presse

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado