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Japão vai investigar Igreja da Unificação, ligada a morte de ex-premiê Shinzo Abe

O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, ordenou uma investigação sobre a Igreja da Unificação, depois que o assassinato do ex-premiê

FolhaPress

17/10/2022 12h10

Foto: AFP 2021/Philip Fong

SÃO PAULO, SP

O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, ordenou nesta segunda-feira (17) uma investigação sobre a Igreja da Unificação, depois que o assassinato do ex-premiê Shinzo Abe trouxe à tona a existência de laços entre a seita e políticos do partido governista.

Kishida instruiu o ministro da Educação e Cultura, Keiko Nagaoka, a preparar um inquérito sobre o culto sob a Lei das Corporações Religiosas. “Quero resolver questões relacionadas à igreja”, disse o premiê ao Parlamento, acrescentando que a investigação deve começar este ano.

A seita está no centro das atenções desde a divulgação de que o assassino de Abe foi motivado a cometer o crime por ressentimento contra esta fé, acusada de pressionar seus membros a fazerem grandes doações em dinheiro.

Segundo o assassino, Tetsuya Yamagami, sua mãe foi à falência por causa do pagamento do dízimo. De acordo com a imprensa japonesa, ela vendeu sua casa e terrenos há mais de duas décadas para fazer uma doação de cerca de US$ 700 mil (R$ 3,8 milhões). A Igreja da Unificação afirma que todas as doações são voluntárias.

Yamagami também culpou Abe por promover a igreja. O ex-premiê chegou a participar como palestrante pago em um dos muitos eventos organizados pelo grupo religioso.

Após a morte de Abe, em julho, quase metade dos deputados do LDP (Partido Liberal Democrata), sigla à qual era ligado e atual partido no poder, divulgaram conexões com a Igreja da Unificação. Kishida afirmou nesta segunda não ter nenhum relacionamento pessoal com a seita, e o LDP também disse não ter vínculos organizacionais com o culto.

Kishida acrescentou que está levando a sério as alegações de que a igreja deixou muitos seguidores empobrecidos. “O governo esclarecerá a situação, oferecerá medidas de socorro às vítimas e tomará medidas para evitar que uma situação semelhante aconteça novamente”, afirmou. Segundo ele, a administração recebeu mais de 1.700 pedidos de ajuda para problemas financeiros e de saúde mental relacionados à seita.

Responsável pela investigação, o ministro da Cultura afirmou que a dissolução da igreja deve ser uma opção para os investigadores, caso se encontrem fatos que justifiquem a medida. Isto retiraria da congregação o status de organização religiosa isenta de impostos.

O apoio ao governo de Kishida está no menor nível desde que ele assumiu o cargo, há um ano, devido à crescente indignação pública pelo fato de membros do LPD ocultarem seus laços com a igreja. O premiê se desculpou por muitos partidários estarem ligados ao culto –o que, segundo ele, minou a confiança pública na sua administração.

Grupo religioso com negócios milionários, a Igreja da Unificação foi fundada em 1954 por Sun Myung Moon. É uma variação da teologia cristã baseada na ideia de que, ao pecar, Adão e Eva falharam no plano divino –e que o mundo precisa de um novo messias que seria o próprio Moon.

O culto tem a família como pedra fundamental da sociedade e do desenvolvimento espiritual, razão pela qual atribui grande importância ao matrimônio –e, de fato, é conhecida mundialmente por organizar grandes casamentos coletivos.

Da Coreia do Sul, essa instituição passou para o Japão e, no final da década de 1950, começou a se deslocar para o Ocidente. Conseguiu se estabelecer nos Estados Unidos, onde Moon morou na década de 1970, e desde os anos 1980 está presente em vários países da América Latina, especialmente no Brasil.

A Igreja da Unificação é conhecida por sua capacidade de captar recursos financeiros, tarefa na qual tem sido muito bem-sucedida no Japão, onde, segundo especialistas, originam-se cerca de 70% dos fundos que administra, estimados em centenas de milhões de dólares.

Os críticos difamam há anos a igreja como perigosa e questionam a origem das finanças.

A igreja diz não aceitar mais doações que causem dificuldades financeiras aos seguidores. Também relata que seus membros vêm enfrentando ameaças de morte desde o assassinato de Abe, em julho.
Moon morreu em 2012. Sua viúva, Hak Ja Han, assumiu a chefia da igreja.

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