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Israel bombardeia Rafah em meio a negociações de trégua ‘decisivas’

As negociações indiretas foram retomadas na terça-feira no Cairo, com a presença de representantes israelenses e do movimento islamista

Redação Jornal de Brasília

08/05/2024 15h12

Palestinos retiram livros dos escombros de centro cultural de Rafah (Gaza) destruído por Israel – Mohamed Abed/AFP

Israel bombardeou nesta quarta-feira (8) a Faixa de Gaza e voltou a lançar operações terrestres “seletivas” em Rafah, no sul, em meio às negociações com o Hamas para chegar a uma trégua, após sete meses de guerra no território palestino.

As negociações indiretas foram retomadas na terça-feira no Cairo, com a presença de representantes israelenses e do movimento islamista, bem como dos países mediadores (Catar, Egito e Estados Unidos).

Horas antes do reinício das conversas, e apesar dos avisos internacionais, os tanques israelenses assumiram o controle do lado palestino da passagem entre Egito e Rafah, principal ponto de entrada de ajuda humanitária no devastado território onde vivem 2,4 milhões de pessoas.

Sob pressão dos Estados Unidos, seu principal aliado, Israel anunciou nesta quarta-feira a reabertura de outra passagem, a de Kerem Shalom, também no sul, fechada após um ataque com foguetes que matou quatro soldados no domingo.

O Exército israelense garantiu em comunicado que a ajuda humanitária voltaria a entrar no território palestino após ser inspecionada, mas a UNRWA, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos, disse à AFP que a passagem continuava fechada.

Israel também indicou que a passagem fronteiriça de Erez, mais ao norte, estava aberta para receber a chegada de mantimentos.

Bombardeios em toda a Faixa de Gaza

Os Estados Unidos consideraram “inaceitável” o encerramento das passagens e a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que seus fechamentos impediram a ONU de levar combustível para o território.

“Os hospitais no sul de Gaza têm apenas três dias de combustível, o que significa que em breve deixarão de funcionar”, alertou o chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Na semana passada, Washington interrompeu os envios de milhares de bombas para Israel devido a “preocupações” sobre uma ofensiva contra Rafah.

“São 1.800 bombas de 907 quilos e 1.700 bombas de 226 quilos”, disse um alto funcionário dos EUA, sob condição de anonimato.

Temendo um “banho de sangue”, Estados Unidos, ONU e União Europeia pedem que Israel renuncie aos planos de invadir Rafah – onde se concentram 1,4 milhão de palestinos, a maioria deslocados pela guerra.

O Exército israelense disse estar realizando “ataques seletivos no lado palestino da passagem fronteiriça de Rafah, na parte oriental” da cidade.

Na cidade de Gaza, no norte da Faixa, as autoridades médicas anunciaram a exumação de 49 corpos numa nova vala comum encontrada no hospital Al Shifa, o principal centro médico do território.

Os corpos foram recuperados de “uma terceira vala comum” depois de outros 30 terem sido encontrados no mês passado, disse Motassem Salah, chefe do serviço de emergência do hospital, onde forças israelenses realizaram uma operação de duas semanas em meados de março.

Não houve reação imediata de Israel, que acusa o Hamas de operar a partir de hospitais, algo que o movimento islamista nega.

“Rodada decisiva”

O destino de Rafah e dos reféns israelenses sequestrados pelo Hamas está em jogo nas negociações na capital egípcia, mas tanto Israel como o grupo islamista são inflexíveis nas suas posições. Um alto funcionário do Hamas disse à AFP nesta quarta-feira que o seu movimento “insiste nas exigências legítimas do seu povo” e garantiu que esta é uma “rodada decisiva”.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pediu à sua delegação que se “mantenha firme nas condições necessárias para a libertação” dos reféns.

Estas negociações representam “a última oportunidade para Netanyahu e para as famílias” dos reféns “de verem os seus filhos retornar”, advertiu outro líder islamista no dia anterior.

Até agora, apenas uma trégua de uma semana em novembro conseguiu travar o conflito que eclodiu em 7 de outubro devido ao ataque do Hamas, considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.

Comandos islamistas infiltraram-se no sul de Israel naquele dia, matando 1.170 pessoas e sequestrando cerca de 250, segundo uma contagem da AFP baseada em dados israelenses.

Israel calcula que, após uma troca de reféns por prisioneiros palestinos naquela trégua de novembro, 128 pessoas permanecem em cativeiro em Gaza, das quais acredita-se que 36 morreram.

Israel iniciou uma ofensiva de retaliação que já deixou 34.844 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território governado desde 2007 pelo Hamas.

O grupo islamista aceitou a última proposta apresentada pelos mediadores, mas o gabinete de Netanyahu afirmou que estava “muito longe” das suas exigências e decidiu continuar “a operação em Rafah para exercer pressão militar sobre o Hamas”.

Segundo Khalil al Hayya, alto dirigente do movimento islamista, a atual proposta contempla três fases de 42 dias cada.

A proposta inclui a retirada total de Israel da Faixa de Gaza, o retorno das pessoas deslocadas e a troca de reféns por prisioneiros palestinos, com o objetivo de um “cessar-fogo permanente”.

Mas Israel opõe-se a uma retirada completa de Gaza e a um cessar-fogo permanente sem primeiro derrotar o Hamas, que, segundo o seu Exército, mantém os seus últimos batalhões em Rafah.

© Agence France-Presse

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