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Guerra em Gaza não dá sinais de trégua no primeiro dia do ramadã

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu para “silenciar as armas” em Gaza e libertar os reféns mantidos em cativeiro

Redação Jornal de Brasília

11/03/2024 21h59

Manifestantes pró-Palestina se reuniram em San Sebastián, na Espanha, para pedir o fim da guerra em Gaza – Ander Gillenea – 228.jan.24/AFP

A população de Gaza viveu, nesta segunda-feira (11), o primeiro dia do ramadã, mês sagrado dos muçulmanos, sob bombardeios e atingida pela fome que assola o território palestino após mais de cinco meses de guerra entre Israel e Hamas, sem sinais de trégua.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu para “silenciar as armas” em Gaza e libertar os reféns mantidos em cativeiro desde o início da guerra, em 7 de outubro, “para honrar o espírito do ramadã”.

Os bombardeios israelenses em vários pontos do território palestino – em particular na Cidade de Gaza, no norte, e em Khan Yunis e Rafah, no sul -, deixaram 67 mortos nas últimas 24 horas, segundo o Ministério de Saúde de Gaza, onde o Hamas governa desde 2007.

“O início do ramadã está coberto de escuridão, com gosto de sangue e mau cheiro por toda parte”, disse à AFP Awni al Kayyal, um deslocado de 50 anos em Rafah. “Não teremos comida na mesa” depois da quebra do jejum na noite desta segunda-feira, acrescentou.

“A crise de desnutrição em Gaza se acelera a um ritmo sem precedentes diante da alarmante escassez de alimentos, água e serviços de saúde”, denunciou o Programa Mundial de Alimentos (PMA).

Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, 25 pessoas, entre elas 21 crianças, morreram de desnutrição ou desidratação nos hospitais de Gaza desde o início da guerra.

O conflito eclodiu em 7 de outubro, com o ataque sem precedentes de comandos do Hamas em solo israelense, no qual morreram cerca de 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados israelenses. Além disso, cerca de 250 pessoas foram sequestradas e 130 permanecem cativas em Gaza, das quais 31 morreram, segundo as autoridades de Israel.

Em resposta, Israel prometeu “aniquilar” o Hamas e lançou uma campanha militar contra o enclave palestino. Até agora, o conflito deixou 31.112 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

Navio com 200 toneladas de suprimentos

Para tentar aliviar a crise humanitária em Gaza, um primeiro navio fretado pela ONG espanhola Open Arms e carregado com 200 toneladas de suprimentos, está pronto para zarpar de Chipre para Gaza, no âmbito de um corredor marítimo anunciado pela União Europeia.

“O programa está andando conforme planejado, o navio zarpará em breve” do porto mediterrâneo de Larnaca, a 370 quilômetros de Gaza, informou o governo cipriota nesta segunda-feira.

A World Central Kitchen, uma das organizadoras da operação, “nunca anunciou uma data de partida. Portanto, estamos dentro do prazo. Anunciaremos a partida quando ocorrer”, assegurou o famoso chef espanhol José Andrés, naturalizado americano e fundador da ONG.

Paralelamente, um navio militar dos Estados Unidos partiu no sábado do país com o equipamento necessário para construir um cais para descarregar a ajuda, o que pode levar até 60 dias.

A ONU e as agências humanitárias afirmam que o envio de ajuda por mar e ar não pode substituir os suprimentos terrestres.

A ajuda internacional, controlada por Israel, chega com dificuldade a Gaza frente às enormes necessidades da população, especialmente no norte do território, de acesso muito difícil.

A maior parte chega do Egito por Rafah, cidade fronteiriça onde, segundo a ONU, 1,5 milhão de palestinos vivem amontoados, a maioria deslocados.

‘Acabaremos com todos’

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reafirmou nesta segunda-feira sua intenção de derrotar o Hamas, apesar dos avisos internacionais contra uma anunciada ofensiva terrestre em Rafah.

“Estamos a caminho da vitória total”, declarou em um vídeo, afirmando que o exército “já eliminou o nº 4 do Hamas”, sem especificar sua identidade.

“Acabaremos com todos”, disse, referindo-se aos outros líderes do movimento palestino considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e UE.

Além disso, o porta-voz do Exército israelense, Daniel Hagari, explicou que um ataque aéreo foi lançado no fim de semana em Gaza contra Marwan Issa, número dois do braço armado do Hamas, mas não informou se o alvo foi morto.

As tropas israelense também realizaram um ataque no leste do Líbano contra um bastião do Hezbollah, um movimento islamista aliado ao Hamas, que deixou pelo menos um morto.

Apesar de uma nova rodada de discussões no Egito no início de março, Estados Unidos, Catar e Egito – os países mediadores – não conseguiram fazer com que as partes concordassem com um cessar-fogo.

O Hamas exige um cessar-fogo definitivo e a retirada das tropas israelenses antes de qualquer acordo sobre a libertação dos reféns mantidos em Gaza.

Israel exige que o movimento islamista forneça uma lista dos reféns que ainda estão vivos, mas o Hamas declarou que não sabe quem entre eles está “vivo ou morto”.

O clima gerado pela guerra em Gaza levanta temores de surtos de violência em Jerusalém Oriental, onde fica a Esplanada das Mesquitas, o terceiro lugar mais sagrado do Islã, onde dezenas de milhares de muçulmanos se reúnem todas as tardes durante o ramadã.

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, assegurou nesta segunda-feira que Israel respeitará a liberdade de culto na mesquita de Al-Aqsa e em outros locais sagrados, mas também advertiu que está “pronto” para responder a qualquer excesso.

© Agence France-Presse

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