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Mundo

Guerra comercial EUA-China preocupa equipe econômica

Desvalorização da moeda chinesa pode pressionar a inflação brasileira

Marcus Eduardo Pereira

07/08/2019 5h49

César Fonseca, especial para o Jornal de Brasília
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O governo Bolsonaro fez, ontem, reunião de emergência, logo cedo, para debater a guerra monetária e comercial entre os Estados Unidos e a China. Mansueto Almeida, secretário de Política Econômica, disse, em declaração exclusiva ao Jornal de Brasília, que a desvalorização do yuan chinês frente ao dólar, que abala as bolsas internacionais, não é nada bom para o Brasil.

Na prática, abala a política econômica, sustentada no tripé econômico ortodoxo – câmbio flutuante, metas inflacionárias e superávit primário – em vigor, desde 1998, por pressão do Consenso de Washington.

Naquele ano, o então presidente Fernando Henrique Cardoso, depois de garantir o segundo mandato com câmbio fixo, dólar/real a 1 por 1, desvalorizou a moeda nacional, acusado, na sequência, de produzir estelionato eleitoral. A consequência foi imediata: volta da inflação e alta imediata da taxa de juro, aprofundando a crise econômica que desembocaria, em 2002, na vitória eleitoral de Lula e inicio da Era PT, que duraria até o impeachment de Dilma, em 2016.

A desvalorização chinesa, destacou o secretário de Política Econômica, intensifica a guerra monetária-comercial global, cujas consequências são pressão inflacionária, porque obrigará todos os países a desvalorizarem suas moedas para se manterem competitivos.

Pode repetir, portanto, o mesmo roteiro que levou os tucanos a perderem a eleição para os petistas. Por isso, o governo Bolsonaro já coloca barbas de molho.

Certamente, admitiu Mansueto, a soja brasileira ficará bem mais competitiva que a soja americana, a sofrer abalo comercial com valorização do dólar frente ao yuan. Todo o agronegócio brasileiro vai se beneficiar, na medida em que a China desvaloriza sua moeda em resposta ao aumento das tarifas de importação em 10% sobre um montante de 300 bilhões de dólares, anunciado pelo presidente Donald Trump, encarecendo manufaturados chineses.

O câmbio flutuante, automaticamente, desvaloriza-se, nesse ambiente de guerra entre as duas potências, gerando, em consequência, mais pressão inflacionária. Diante desse jogo, imposto de fora para dentro, sobre a economia brasileira, cai por terra o esforço do governo Bolsonaro de reduzir as taxas de juros, iniciado semana passada.

A lógica do tripé econômico exige que, diante de pressão cambial, que produz mais inflação, em decorrência de desvalorização, o Banco Central puxe as taxas juros, para manter as metas acordadas, conforme receituário ortodoxo.

As expectativas econômicas, que há 23 semanas consecutivas sinalizam paralisia econômica, que aponta para crescimento de 0,8% do PIB em 2019, continuarão produzindo o estresse recessivo, responsável por produzir 12 milhões de desempregados, 30 milhões de desalentados e 60 milhões de inadimplentes, além de cerca de 100 milhões de não consumidores.

Saiba Mais:

  • O Ministério do Comércio da China anunciou que empresas do país suspenderam a compra de produtos agrícolas dos Estados Unidos. A medida é uma resposta ao anúncio do presidente americano, Donald Trump, sobre novas taxas a importações chinesas. Segundo o ministério, a China também não descarta a possibilidade de impor tarifas adicionais aos produtos agrícolas importados dos Estados Unidos.
  • A paralisação nas compras ocorre alguns dias depois de Trump anunciar novas sobretaxas de 10% sobre outros 300 bilhões de dólares em produtos importados da China, acirrando a guerra comercial entre os dois países. O presidente justificou a decisão alegando que os dirigentes de Pequim não cumpriram, entre outros, promessas de aumentar significativamente o volume de compras de produtos agrícolas dos EUA. A resposta chinesa atinge em cheio os agricultores americanos que já tiveram uma grande redução nas vendas para o país asiático com o conflito.
  • As tensões entre EUA e China têm raízes no desequilíbrio da balança comercial a favor do país asiático, que exporta 419 bilhões de dólares a mais do que importa, o que, segundo Trump, acontece devido a injustas práticas comerciais do gigante asiático.

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