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Governo Boric diz que Chile vai dar nacionalidade a expatriados por Ortega

Em nota, a chancelaria do país disse que “a defesa da democracia e dos direitos humanos transcende conjunturas políticas e forma parte dos pilares civilizatórios essenciais de uma sociedade”

FolhaPress

22/02/2023 10h21

Foto: Javier Torres/AFP

O governo de Gabriel Boric anunciou nesta terça (21) que o Chile concederá nacionalidade aos ex-presos políticos da Nicarágua expatriados por Daniel Ortega. Destoando de outros líderes de esquerda da região, o chileno tem criticado a ditadura de Manágua.

Em nota, a chancelaria do país disse que “a defesa da democracia e dos direitos humanos transcende conjunturas políticas e forma parte dos pilares civilizatórios essenciais de uma sociedade”.

No último dia 9, a Justiça nicaraguense, controlada por Daniel Ortega, deportou aos EUA 222 ex-presos políticos, dos quais também tirou a nacionalidade e os direitos políticos. Poucos dias depois, estendeu a medida a outros 94 opositores, muitos no exílio, entre eles jornalistas e escritores reconhecidos.

A punição impõe aos que não tem outra nacionalidade a condição de apátridas.

Boric vinha se manifestando sobre o assunto nas redes sociais. No fim de semana, ao compartilhar uma publicação de uma opositora de Ortega, escreveu que “o ditador não sabe que uma pátria está no coração e nos atos, de modo que não pode ser privada por um decreto”.

O político costuma ser um notório crítico da ditadura. “Irrita-me quando a esquerda condena violações de direitos humanos no Iêmen ou em El Salvador, mas não fala sobre Venezuela ou Nicarágua”, afirmou em setembro passado nos EUA. “O respeito aos direitos humanos não deve ter um padrão duplo.”

Os escritores exilados Sergio Ramírez e Gioconda Belli, que estão entre os que tiveram sua nacionalidade retirada, agradeceram Boric. “Obrigado por encarnar a dignidade e a integridade ao não se calar sobre a Nicarágua”, afirmou Ramírez, vencedor do prêmio Cervantes. “Sua mensagem acende luzes novas na América Latina. Obrigada pela ternura e solidariedade”, escreveu a poetisa Belli.

Sinalização semelhante à do Chile veio da Argentina. O chanceler Santiago Cafiero disse a uma rádio local que o governo de Alberto Fernández está disposto a conceder cidadania aos mais de 300 opositores de Ortega recentemente expatriados.

“A Argentina sempre falou sobre a necessidade que a Nicarágua volte a respeitar os direitos humanos e condenou a perseguição que sofreram muitos nicaraguenses”, disse Cafiero. Horas depois, a porta-voz da Casa Rosada, Gabriela Cerruti, disse que o governo deve conceder cidadania a pessoas como o escritor Sergio Ramírez e a poetisa Gioconda Belli.

O governo do premiê Pedro Sánchez, da Espanha, já havia oferecido nacionalidade aos ex-presos no dia em que foram libertos e estendido o direito aos demais expatriados alvos de Ortega.

A medida parece ser a nova estratégia da ditadura para silenciar a dissidência que está fora do país, já que internamente a oposição foi silenciada. Opositores são considerados “traidores da pátria”, título dado àqueles que “firam os interesses supremos da nação” ou “aplaudam a imposição de sanções”.

Além de perder a cidadania, seus direitos políticos de concorrer em eleições e exercer cargos públicos também foram suprimidos de forma perpétua, e os réus foram considerados fugitivos. Imóveis e empresas que tenham no país estão sendo confiscados pelo Estado.

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