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Em funeral de símbolo dos direitos civis, Obama faz discurso mais duro contra Trump

Obama afirmou que pessoas no poder atacam o “direito ao voto com precisão cirúrgica, até mesmo minando o serviço postal, às vésperas das eleições”

Redação Jornal de Brasília

30/07/2020 18h48

Adriano Maneo
Brasília, DF

O ex-presidente Barack Obama aproveitou o funeral de John Lewis (1940-2020), nesta quinta (30), uma cerimônia de grande peso simbólico para os defensores dos direitos civis nos EUA, para fazer o discurso mais duro até o momento contra o atual líder americano e candidato à reeleição, Donald Trump.

Ativista antirracismo que marchou com Martin Luther King e congressista durante décadas, Lewis morreu aos 80 anos, com um câncer no pâncreas, em 17 de julho. O evento reuniu três ex-presidentes, líderes políticos, religiosos e centenas de admiradores na igreja batista de Ebenezer, em Atlanta.

Obama, primeiro presidente negro do país, disse que Lewis é provavelmente o maior “discípulo de Martin Luther King” e que, assim como muitos americanos, tem uma dívida com “sua potente visão de liberdade.”

Em uma fala politizada, Obama, principal cabo eleitoral do candidato democrata à Presidência, Joe Biden, mesclou elogios a Lewis e críticas a posições do governo Trump.

Sem citar o nome do republicano, atacou a sugestão do presidente americano de adiar as eleições presidenciais, marcadas para novembro, e a violência de agentes federais contra manifestantes pacíficos.

Na manhã desta quinta, Trump defendeu o adiamento do pleito em uma publicação no Twitter, afirmando, sem apresentar provas, que a votação pelos correios poderia desembocar na “eleição mais imprecisa e fraudulenta da história” e em um “grande embaraço para os EUA”.

Obama afirmou que pessoas no poder atacam o “direito ao voto com precisão cirúrgica, até mesmo minando o serviço postal, às vésperas das eleições”. “Será preciso usar votação por correios para que as pessoas não adoeçam”, reiterou Obama, referindo-se à pandemia do novo coronavírus.

Em outro momento, lembrou George Floyd, homem negro asfixiado por um policial branco em Minneapolis, no final de maio, cuja morte desencadeou atos antirracismo em todo o país, e criticou a atuação de forças federais contra protestos pacíficos, principalmente em Portland.

Enviados por Trump para a cidade no estado do Oregon para coibir atos antirracistas, a ação dos agentes tornou-se alvo de críticas, após imagens que viralizaram na internet com policiais sem identificação realizando ações violentas e detenções de pessoas em carros também não identificados.

“Testemunhamos com nossos próprios olhos policiais se ajoelhando nos pescoços de afroamericanos. George Wallace [ex-governador do Alabama, um dos principais líderes segregacionistas dos EUA na década de 1960] pode ter partido, mas testemunhamos o governo federal enviando agentes para usar gás lacrimogêneo e cassetetes contra manifestantes pacíficos”, disse Obama, enquanto era aplaudido de pé.

Os outros ex-presidentes presentes na cerimônia, George W. Bush e Bill Clinton, também se pronunciaram.

O republicano Bush, que comandou os EUA entre 2001e 2009, afirmou que os americanos vivem num país melhor e mais nobre por causa de Lewis. “John e eu tivemos nossas discordâncias. Mas nos EUA pelo qual brigou e os EUA em que acredito, diferenças de opinião são elementos inevitáveis e evidência de uma democracia funcionando.”

Clinton, antecessor democrata de Bush, ressaltou a habilidade “impressionante de Lewis em acalmar águas turbulentas.” “Quando ele poderia ter ficado com raiva e determinado a cancelar seus adversários, tentou convertê-los. Ele acreditava que a mão aberta era melhor do que o punho cerrado”, afirmou.

A presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, também esteve no funeral. Afirmou que Lewis insistia na verdade em sua atuação no Congresso e que, enquanto atuou como parlamentar, esforçou-se para que seus colegas enxergassem “o movimento dos direitos civis e outros [movimentos] por meio de seu olhar”.

Ao final da cerimônia, a banda BeBe Winans apresentou uma música composta em homenagem a Lewis. Batizada “Good Trouble” (boa confusão, em inglês), a canção relembra uma frase muito usada pelo congressista para alertar as pessoas da necessidade da “boa confusão, a necessária confusão”.

Após o encerramento do funeral, o corpo do ativista foi levado por uma guarda de honra ao Cemitério Southview, em Atlanta. Enquanto isso, dentro da igreja, os presentes cantavam e dançavam a música “Happy”, de Pharrel Williams, uma das preferidas de Lewis.

Um vídeo seu dançando ao som da música viralizou na internet.

As informações são da FolhaPress

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